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Tetracampeão mundial morreu aos 92 anos em 5 de janeiro e deixou maior parte dos bens para Mário César Zagallo; trio alega que irmão restringiu acesso ao pai e cita suspeitas de movimentação patrimonial
No testamento, Zagallo expressou o desejo de deixar metade dos seus bens apenas para o filho caçula, Mario Cesar Zagallo, conforme revelou o portal Uol. No documento, o Velho Lobo deixou explícito seu descontentamento com os três filhos, a quem acusa de tentativa de extorsão e de anulação do inventário de Alcina de Castro Zagallo, sua mulher, que morreu em 2012. Segundo Zagallo, a medida seria para impedir que ele tivesse direito aos bens da mulher.
Zagallo estava aposentado desde 2006, após a Copa do Mundo da Alemanha, e conviveu com inúmeros problemas de saúde
Em nota, os advogados Anelisa Teixeira e Daniel Blanck afirmam que a reação dos três herdeiros se dá em meio a uma “situação delicada”. De acordo com a defesa, Paulo Jorge, Maria Emília e Maria Cristina relatam, desde 2016, “consideráveis dificuldades para estabelecer qualquer tipo de comunicação e contato com seu pai”.
“Conforme relatos dos clientes, Mário César, filho mais novo, restringiu o acesso ao pai, induzindo Zagallo a acreditar que teria sido abandonado. Os herdeiros observaram movimentação patrimonial milionária, incluindo expressivas doações destinadas a Mário César. Adicionalmente, foram identificados saques recorrentes em contas bancárias de Zagallo, envolvendo quantias incompatíveis com seu padrão de vida enquanto idoso”, diz a nota dos advogados.
O GLOBO tenta contato com advogados de Mário César. Em uma entrevista ao Estadão, o filho mais novo de Zagallo explicou que a briga tem pelo menos sete anos e garantiu que o Velho Lobo quis cortar relações com os demais filhos.
— Eles (os irmãos) estão querendo aparecer após sete anos. Fui eu quem cuidou do meu pai esse tempo todo. Tem um documento assinado pelo meu pai dizendo que não queria a visita deles nas internações — disse Mário César.
Mário César também afirmou que o pai preferia “não deixar a herança para outros filhos, mas é a lei”. De fato, a lei diz que ao menos 50% da herança seja partilhada entre todos os herdeiros necessários — no caso, os quatro filhos.
O caçula de Zagallo cuidou do pai no último período de sua vida. O Velho Lobo destacou, no testamento, que a herança deixada para esse filho era retribuição por “todo o carinho e a dedicação”, em especial após a morte de Dona Alcina. Os outros filhos, segundo ele, não lhe teriam dado mais atenção. Os três alegam que o irmão os impedia de visitar o pai e concentrava a administração das finanças.
O pedido de abertura e cumprimento do testamento foi feito em 9 de janeiro, quatro dias depois da morte do ex-jogador.
No testamento, Zagallo nomeia o caçula para ficar com maior parte de seus dos bens e se diz “profundamente triste e magoado” com os outros três herdeiros. Ele optou por destinar os 50% na totalidade para o caçula, enquanto a segunda metade dos bens foi partilhada entre os quatro filhos, totalizando 12,5% da herança para cada um. Assim, Mário César ficará com 62,5% dos bens do tetracampeão e seus irmãos, com 12,5%, cada.
Quem são os parentes de Zagallo
Alcina de Castro Zagallo morreu aos 80 anos em 2012 após uma internação de dois meses na Casa de Saúde São José, no Humaitá, com insuficiência respiratória. Dona Alcina, como era conhecida, teve quatro filhos com o ex-treinador da seleção brasileira. Eles se conheceram no bairro da Tijuca, quando Zagallo atuava no América, e se casaram na Igreja dos Capuchinhos em 13 de janeiro de 1955.
Muito religiosa, Dona Alcina era devota de Santo Antônio e a principal responsável pela devoção do marido ao número 13, já que é em 13 de junho que se comemora o dia de Santo Antônio. Zagallo já era devoto de Nossa Senhora de Fátima, que apareceu para três crianças em Fátima, Portugal, também num dia 13, em maio.
Uma outra curiosidade sobre a família é que o pai do tetracampeão mundial, Haroldo Cardoso Zagallo, ídolo do CRB, não queria que o filho estivesse envolvido com futebol e tinha planos para que ele estudasse contabilidade. O plano de Haroldo era que Zagallo trabalhasse na representação carioca da fábrica de tecidos da família.
A tradição de amor de ao esporte seguiu para além do treinador da seleção brasileira. O filho mais velho de Zagallo, Paulo Zagallo, já treinou diversas equipes do futebol brasileiro, entre elas o Botafogo, o Goiás, o Madureira e o América, do Rio de Janeiro. Além disso, foi treinador da seleção brasileira de futebol masculino nas categorias sub-18 e sub-20.
Um dos netos de Zagallo, no entanto, segue carreira em outro campo: o musical. Filho de Mario Jorge Zagallo, o neto recebeu o mesmo nome do avô: Mario Jorge Lobo Zagallo Neto. O jovem de 20 anos é DJ e se apresenta como ZAG.
Único tetracampeão mundial, Zagallo conquistou a taça da Copa do Mundo em 1958 e 1962, como jogador, em 1970, como técnico, e em 1994, como coordenador técnico. Com a morte de Zagallo, não há mais nenhum jogador vivo que tenha sido titular na final da Copa do Mundo de 1958, quando a seleção brasileira venceu a Suécia por 5 a 2, e se sagrou campeã mundial pela primeira vez na história. Zagallo e Pelé eram os últimos restantes.
Zagallo estava aposentado desde 2006, após a Copa do Mundo da Alemanha, e conviveu com inúmeros problemas de saúde. Nos últimos meses, as internações se tornaram mais recorrentes. A última havia sido em julho do ano passado por causa de uma infecção respiratória. Há dois anos, ele já havia ficado internado por quase duas semanas, mas recebeu alta às vésperas do seu aniversário de 90 anos.
A morte do Velho Lobo provocou uma onda de manifestações no mundo do futebol. A Confederação Brasileira de Futebol decretou luto de sete dias e um minuto de silêncio em todas as partidas da primeira rodada das Eliminatórias da Copa do Nordeste, que começa neste sábado.
“A CBF e o futebol brasileiro lamentam a morte de uma das suas maiores lendas, Mário Jorge Lobo Zagallo. A CBF presta solidariedade aos seus familiares e fãs neste momento de pesar pela partida deste ídolo do nosso futebol”, disse o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, por meio de um comunicado.
O Globo