Foto: Reprodução.
Em meados de dezembro, o Ministério Público comunicou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) que Ronnie Lessa, o executor preso pelo assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, estava em processo de negociação para um acordo de delação premiada. Nesse acordo, Lessa indicaria o mandante do crime, e, embora não tivesse elaborado os anexos completos da colaboração até então, ele deixou claro que apontaria o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, Domingos Brazão, como o autor intelectual do homicídio. Um ofício foi enviado ao gabinete do ministro Raul Araújo, no STJ, detalhando as negociações e mencionando Brazão como a pessoa que teria ordenado o assassinato de Marielle.
Raul Araújo, responsável pelo caso da vereadora, levou a discussão sobre em qual instância a colaboração, ainda em elaboração, deveria tramitar à Corte Especial, composta pelos ministros mais antigos do STJ. Embora Brazão tenha foro privilegiado no STJ por ser conselheiro do TCE, o ministro decidiu ouvir os demais membros do colegiado. Após duas sessões secretas, os magistrados decidiram por unanimidade que a colaboração, quando finalizada, deveria ser avaliada e homologada pelo tribunal.
Esta não é a primeira vez que Domingos Brazão é mencionado como suposto envolvido na morte de Marielle. Em 2019, a então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, o denunciou ao STJ por obstrução de justiça nas investigações do assassinato. No ano seguinte, durante a discussão sobre a federalização do caso, a subprocuradora Lindôra Araújo criticou os investigadores por não considerarem a possibilidade de envolvimento de Brazão no homicídio, apontando o bicheiro Rogério de Andrade como outro potencial participante do crime.
“Por que a DH [Delegacia de Homicídios] limitou o direcionamento das investigações apenas na versão de Rodrigo Jorge Ferreira? Há algum direcionamento investigativo para apurar se há participação de Domingos Brazão? Há alguma investigação sobre as relações entre Domingos Brazão, Rogério de Andrade, o ‘Escritório do Crime’ e o duplo homicídio? Essas são perguntas que seguem sem respostas ao Brasil e ao mundo”, declarou Lindôra na ocasião. Rodrigo Jorge Ferreira, mencionado por ela, é um policial militar e miliciano que, em depoimento, erroneamente incriminou outro miliciano, Orlando Curicica, como autor intelectual do crime. Lindôra também demandava progressos nas investigações contra o principal bicheiro do Rio, sugerindo que Rogério de Andrade, sobrinho de Castor de Andrade, pudesse estar envolvido no assassinato de Marielle após a mudança de comando do Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado) do Rio em 2021.
Com informações da VEJA.