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Em conversa com o podcast Latitude, a historiadora de arte cubana Carolina Barrero se indignou com a falta de reação humanitária por parte de Lula frente às denúncias de escravidão de médicos cubanos no Brasil, durante o programa Mais Médicos.
“Quando esses médicos são levados para Brasil, México ou para a África, para qualquer lugar do mundo, seus direitos fundamentais e trabalhistas são retirados. Primeiro, o passaporte deles é retirado. Eles são custodiados. Não têm liberdade de circulação dentro desses países. Não podem interagir livremente com outras pessoas. E são induzidos a fazer propaganda política onde quer que eles vão. Então eles são usados para fazer proselitismo político dentro desses países. O salário deles é reduzido. A ditadura chega a tirar até 90% do salário. Então também se pode dizer que é uma forma de escravidão moderna“, diz Carolina Barrero.
“Esses médicos recebem uma parcela mínima do salário, que quase não é suficiente para sobreviverem naquele mês ou para mandar um pouco para a família. Eles só fazem isso porque, se ficassem em Cuba trabalhando, receberiam ainda menos. A situação é que esses médicos, que estudaram e contribuíram muito para a sociedade, em Cuba são tratados em condições mínimas. Isso os obriga a serem usados como escravos para que o regime possa enriquecer“, diz a dissidente.
“Essa condição de escravidão deveria ser impensável para alguém como Lula, que defende os sindicatos, os trabalhadores. Como pode Lula permitir que os trabalhadores cubanos sejam tratados dessa forma no Brasil? Isso deveria ser impensável dentro da lógica de um presidente como Lula“, afirmou.
Carolina também disse que há pleno conhecimento em Cuba dos atos de repressão do regime, graças à disseminação de informações pelos telefones celulares. Segundo ela, quando a conexão de internet cai em Cuba, os cubanos imediatamente associam isso ao medo do regime de que um novo protesto se espalhe. “Quando a internet é derrubada (… ), as pessoas sabem que alguém deve estar protestando em algum lugar. Eles tiram a internet sempre que alguém protesta. O regime faz isso para que a notícia não se espalhe e mais pessoas queiram se unir ao protesto.”
Ela ainda comentou o envio de cubanos para lutar na Ucrânia. “Foi descoberta uma rede de tráfico de pessoas que envia cidadãos cubanos para que eles lutem no front da guerra ucraniana pelo lado russo. Fala-se que em torno de mil pessoas foram enviadas dessa forma. O regime cubano inicialmente negou. Depois, o embaixador cubano em Moscou disse que, se isso estava sendo feito de acordo com os procedimentos, não haveria razão para impedir que acontecesse“, diz Carolina.
O Latitude é um podcast semanal sobre os principais fatos da política internacional e da diplomacia brasileira que vai ao ar todos os sábados, às 18h.