A Gol, de acordo com o pedido de recuperação arquivado no Tribunal de Falências dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York em 25 de quarta-feira, tem uma dívida que envolve entre 50.001 e 100.000 credores. O documento, inicialmente publicado pelo jornal O Globo e obtido pela Folha, destaca os principais credores, incluindo o banco americano BNY Mellon (por dívidas financeiras), o Comando da Aeronáutica (por serviços de controle de tráfego aéreo e navegação), a distribuidora de combustíveis Vibra (anteriormente BR) e a fabricante de aeronaves Boeing.
A empresa aérea informou à Justiça americana que o valor total de credores está na faixa de suas próprias estimativas. A Americanas, por exemplo, possui 9.000 credores, superando em cinco vezes a quantidade da varejista.
A dívida, com um mínimo de US$ 1 bilhão (R$ 4,92 bilhões) e um máximo de US$ 10 bilhões (R$ 49,2 bilhões), está em um nível semelhante aos ativos da companhia aérea. Em comparação, os débitos da Latam em 2020 totalizaram cerca de US$ 18 bilhões (R$ 94,9 bilhões no câmbio atual) durante um processo de reestruturação de dívida semelhante.
Celso Ferrer, presidente da Gol, afirmou em coletiva de imprensa que é muito cedo para determinar as negociações e destacou os elevados custos operacionais do setor de aviação, mencionando que o preço do combustível de aviação no Brasil é aproximadamente 40% mais alto do que no resto do mundo.
O documento entregue pela Gol lista apenas as 30 maiores dívidas a 27 empresas, totalizando R$ 4,76 bilhões na cotação atual. A Boeing, por meio de seu braço comercial, é a quarta maior credora, com R$ 75 milhões a receber.
Agências de classificação de risco estimam que a dívida total da Gol possa atingir cerca de R$ 20 bilhões. Cerca de R$ 3 bilhões do total da dívida vencem no curto prazo (em até 12 meses), e a empresa não teria fundos suficientes para cumprir esses compromissos, de acordo com fontes próximas às negociações.
O desafio enfrentado pela Gol, de acordo com agências de classificação de risco, não está na operação, pois os resultados operacionais são positivos. No entanto, a empresa carece de garantias suficientes para refinanciar toda a dívida pendente.
A Gol anunciou seu pedido de reestruturação da dívida através do chamado capítulo 11 da lei americana, destacando seus resultados operacionais destacados na América Latina e o quarto trimestre consecutivo de margens operacionais elevadas.
A holding que controla a Gol incluiu no processo de recuperação judicial o programa de milhas Smiles (nas filiais brasileira e argentina), subsidiárias e unidades financeiras Gol Finance, sediadas em paraísos fiscais como Luxemburgo e Cayman, além da unidade de logística GAC. Fundos de investimento exclusivos, como Airfim e Fundo Sorriso, também estão envolvidos no processo.
Celso Ferrer, presidente da Gol, acredita que a reestruturação da dívida da empresa será mais rápida do que a da Latam, que levou dois anos. Ele ressaltou que é difícil precisar a duração exata, mas a expectativa é de que seja substancialmente mais curta do que os processos de outras companhias latino-americanas, como a Avianca e a Aeromexico, que também buscaram a proteção judicial nos Estados Unidos.
Com informações da Folha de SP