A facção carioca TCP (Terceiro Comando Puro), rival do Comando Vermelho (CV), tenta ampliar a atuação no Ceará, estado considerado estratégico para o tráfico de drogas. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontavam que, fora do Rio de Janeiro, o grupo só atuava no Amazonas, porém, já repete a disputa violenta na Região Nordeste.
O grupo ficou conhecido pela intolerância a religiões de matriz africana e usar o nome de Deus para controlar áreas no Rio, já que os líderes são evangélicos. Um dos símbolos usados pelo grupo é bandeira de Israel – presente, por exemplo, em informe no qual convoca criminosos no estado.
A presença do TCP no Ceará é vista em vídeos do grupo no YouTube e em pichações em muros – muitas em áreas que estavam sob domínio da Guardiões do Estado (GDE). Os vídeos são divulgados livremente na plataforma e são usados para mostrar crimes e armas.
Tentativa de chacina
Uma tentativa de chacina na Barra do Ceará, bairro mais antigo de Fortaleza, expõe a disputa entre facções no estado. Na ocasião, duas pessoas foram mortas e outras 15 ficaram feridas por tiros.
Ao portal Uol, o advogado criminalista Claudio Justa, ex-presidente do Conselho Penitenciário e da Comissão de Segurança Pública da OAB/CE, aponta que a ação do TCP na Barra do Ceará revela que o grupo finca no Ceará uma disputa de extrema rivalidade com o CV.
“Aparentemente, ela é uma dissidência no Nordeste do próprio CV. Inclusive, os territórios que disputam são territórios dominados por esse rival”, disse ele.
Para Justa, a hipótese mais provável sobre o início da atuação do grupo é que líderes do CV no estado se rebelaram e fizeram uma conexão com o grupo rival carioca. Segundo ele, são essas lideranças dissidentes que assumem e cooptam jovens especialmente para as chamadas “retomadas de território” ou para tomar áreas de rivais.
“Quando ocorrem essas rupturas dentro de uma facção grande, pressupomos que existe financiamento de uma rival. Quando há confronto direto, em via de regra, é uma dissidência dentro desse mesmo grupo”, afirma Justa.
Região estratégica
Em razão de sua localização, com parte do litoral mais próximo da Europa e dos Estados Unidos, além de acesso à rota Solimões, por onde chegam drogas de países como Peru e Colômbia, o Ceará é considerado um dos estados mais estratégicos para o crime organizado.
Isso leva a uma disputa pelo estado entre narcotraficantes, que, em anos anteriores, sofreu com alguns dos maiores índices de homicídios do país – resultante da guerra entre os grupos. Em 2023, o estado viu a violência diminuir na capital e aumentar no interior.
Disputa entre uma e outra facção
Além das duas facções cariocas, o PCC tem ação consolidada no Ceará. Há ainda um novo grupo criminoso local chamado Massa.
O TCP surge num momento em que a mais forte facção local, a GDE, enfraquece. Conhecido pelo uso de violência extrema para controlar territórios, o grupo perdeu espaço, o que teria aberto brechas para o TCP cooptar jovens em Fortaleza e outras cidades.
Apesar de a GDE e o TCP não se enfrentarem neste momento, Cláudio Justa afirma que não há união entre as duas facções. “O TCP não está focado na GDE. Existe uma paz não pactuada, porque o foco é realmente conquistar os territórios do CV.”
Em um dos raps dos vídeos, o TCP diz estar “de braços abertos” para receber integrantes vindos de outros grupos. O grupo prega uma ação “contra opressão” e por “união e liberdade.”
Uma mensagem distribuída no WhatsApp no último dia 5 e atribuída à liderança do TCP traz um “convite” a criminosos do Ceará e cita como motivo o “cansaço da opressão das facções predominantes no estado”.
Metrópoles