Uma nova técnica que detecta campos magnéticos antigos em tijolos queimados confirmou um evento descrito no Antigo Testamento da Bíblia: a destruição da cidade filisteia de Gate.
O estudo foi publicado em 9 de outubro de 2023 na revista PLOS ONE, mas só foi divulgado pela Universidade de Tel-Aviv no dia 4 de janeiro de 2024. A investigação foi conduzida por pesquisadores de Tel-Aviv e de outras três universidades: a Universidade Hebraica de Jerusalém, Universidade Bar-Ilan e Universidade Ariel.
A antiga Gate, atualmente Tel Safi (ou Tell es-Safi), foi conquistada, segundo a Bíblia, por Hazael, rei de Aram. “Nossas descobertas são importantes para determinar a intensidade do fogo e a extensão da destruição em Gate – a maior e mais poderosa cidade da região na época – e também para entender as práticas de construção na região”, dizem os pesquisadores.
A descoberta se conecta com o relato bíblico, que diz: “Então subiu Hazael, Rei de Aram, e atacou Gate e a tomou. Depois, ele resolveu atacar Jerusalém” (2 Reis 12:17).
Segundo os pesquisadores, ao contrário dos métodos anteriores, a nova técnica pode determinar se um determinado item (como um tijolo de barro) passou por uma queima, mesmo em temperaturas relativamente baixas, a partir de 200°C.
“Durante as Eras do Bronze e do Ferro, o principal material de construção na maior parte da Terra de Israel eram tijolos de barro”, explica em comunicado Oded Lipschits, colaborador do estudo do Instituto de Arqueologia Sonia & Marco Nadler da Universidade de Tel-Aviv. “Esse material barato e prontamente disponível era usado para construir paredes na maioria dos edifícios, às vezes sobre fundações de pedra.”
O estudo mediu o campo magnético registrado nos tijolos à medida que queimam e esfriam. “A argila com a qual os tijolos foram feitos contém milhões de partículas ferromagnéticas – minerais com propriedades magnéticas que se comportam como muitas ‘bússolas’ ou ímãs pequenos”, conta Yoav Vaknin, líder da pesquisa.
Conforme explica o cientista, em um tijolo de barro seco ao Sol, a orientação desses ímãs é quase aleatória, de modo que eles se cancelam mutuamente. Já no aquecimento a 200°C ou mais, como ocorre em um incêndio, há liberação de sinais magnéticos de partículas magnéticas. “Estatisticamente, elas tendem a se alinhar com o campo magnético da Terra naquele momento e local específicos”, diz Vaknin.
Medições magnéticas
Os pesquisadores “apagaram” gradualmente o campo magnético do tijolo por meio de uma desmagnetização térmica, na qual o objeto é aquecido em um forno especial em um laboratório paleomagnético que neutraliza o campo da Terra.
O calor libera os sinais magnéticos, que mais uma vez se organizam de forma aleatória, cancelando-se mutuamente. Com isso, o sinal magnético total fica fraco e perde sua orientação.
Vaknin detalha que a amostra foi aquecida a 100°C, o que liberou os sinais de apenas uma pequena porcentagem dos minerais magnéticos. Em seguida, o tijolo foi resfriado e o sinal magnético restante foi medido. Depois, os cientistas repetiram o processo a 150°C, 200°C, e assim por diante, até 700°C.
“Dessa forma, o campo magnético do tijolo é gradualmente apagado”, afirma Vaknin. A temperatura na qual o sinal de cada mineral é ‘desbloqueado’ é aproximadamente a mesma do período em que ele foi inicialmente ‘travado’; e, no fim, a temperatura na qual o campo magnético foi totalmente apagado havia sido atingida durante o incêndio original.”
Após testar a validade do método, os pesquisadores o aplicaram em amostras de uma parede de tijolos descoberta em Tel Safi. Os campos magnéticos de todos os tijolos e detritos caídos exibiam a mesma orientação: norte e para baixo, o que sugere que a estrutura queimou no local.
“Nossas descobertas significam que os tijolos queimaram e esfriaram in situ, exatamente onde foram encontrados. Ou seja, em uma conflagração na própria estrutura, que desabou em poucas horas”, diz Vaknin. “Se os tijolos tivessem sido queimados em um forno e depois colocados na parede, suas orientações magnéticas teriam sido aleatórias.”
Essas orientações aleatórias, segundo o pesquisador, também estariam presentes caso a estrutura tivesse desabado aos poucos, ao longo do tempo. Mas o método revelou que, em vez disso, a parede e os destroços queimaram em um único incêndio.
“Nosso método nos permitiu determinar que todos os tijolos, tanto na parede quanto nos detritos, queimaram durante a conflagração: aqueles na parte inferior queimaram a temperaturas relativamente baixas, e aqueles que foram encontrados em camadas superiores ou caíram do topo – a temperaturas superiores a 600°C”, ele afirma.
Créditos: Revista Galileu.