Se dividíssemos o ano de 2023 entre touros e ursos, nomes como o Ozempic certamente ocupariam o lado altista. Afinal, o sucesso das “canetas emagrecedoras” não só fez com que as ações das farmacêuticas disparassem nos últimos meses, como também já começou a deixar suas marcas na economia brasileira — e pode impactar o futuro de muitas empresas na B3, inclusive a Ambev (ABEV3).
Um estudo da Ace Capital, gestora responsável por um patrimônio superior a R$ 3 bilhões, mapeou os possíveis efeitos em diversos setores da economia do Brasil — e os setores de bebidas e alimentos podem ser alguns dos principais abalados no futuro.
Afinal, a expectativa da gestora é que o sucesso desses medicamentos resulte em mudanças de hábitos de consumo importantes, gerando riscos e oportunidades para as empresas brasileiras.
“Acreditamos que passa a ser necessário que empresas considerem os riscos relacionados aos medicamentos antiobesidade para suas atividades e decisões de investimento”, destaca a gestora, na carta mensal.
Já do lado contrário, o setor de varejo de vestuário pode ser um dos beneficiados pelo sucesso das “canetas do emagrecimento”.
Ambev (ABEV3) e outras empresas afetadas pelo sucesso das ‘canetas do emagrecimento’
Na visão da Ace Capital, a redução do consumo calórico da população não deve ser tão relevante, mas a busca por certos tipos de alimentos e bebidas pode ser mais afetada que outros.
Para a gestora, a Ambev (ABEV3) deve ser uma das maiores empresas da B3 afetadas negativamente pelo uso crescente de “canetas do emagrecimento”.
Isso porque a empresa de Jorge Paulo Lemann atua majoritariamente na indústria de bebidas e nos segmentos de bares e restaurantes — setores que devem ser fortemente impactados, segundo a gestora.
Na carta mensal de dezembro, a Ace destaca que estudos mostraram que o uso de medicamentos antiobesidade pode levar à redução do consumo de álcool — especialmente de bebidas como cerveja em detrimento a outros produtos alcoólicos.
Além disso, a indústria de bares e restaurantes deve ser afetada pelos novos hábitos de consumo — o que inclui companhias como a Zamp (ZAMP3), dona do Burger King no Brasil, e IMC (MEAL3), que administra as redes de fast-food KFC, Frango Assado e da Pizza Hut.
Uma pesquisa da Blundell aponta para a redução entre 24% e 35% no consumo total de calorias em indivíduos que fazem uso de semaglutida, a depender da quantidade do medicamento — e esse consumo menor se concentra em alimentos gordurosos ou muito calóricos, comumente adquiridos fora de casa.
Para a gestora, além da Ambev, as empresas do varejo de alimentos, como Pão de Açúcar (PCAR3), Grupo Mateus (GMAT3), Carrefour (CFRB3) e Assaí (ASAI3) devem ser impactadas por uma possível redução do consumo de alimentos adquiridos nas lojas.
A produtora de alimentos M.Dias Branco (MDIA3) também pode enfrentar uma queda no consumo de alimentos ultraprocessados — o que implicaria na necessidade de migrar a área de atuação para a fabricação de produtos mais saudáveis.
O CEO da Nestlé, Mark Schneider, por exemplo, afirmou que a companhia já está desenvolvendo uma série de produtos complementares. “O objetivo será abordar o risco da desnutrição e a perda de massa muscular durante o uso do medicamento e evitar ou limitar o ganho de peso após o tratamento.”
A vez das empresas de moda?
Enquanto as empresas ligadas a alimentos e bebidas, como a Ambev, devem sofrer um efeito negativo do aumento do uso de medicamentos como o Ozempic, a Ace Capital projeta que as companhias de moda podem brilhar nesse cenário.
Na visão da gestora, o segmento pode ser impulsionado pela busca pela renovação do guarda-roupas para “se adequar ao novo peso”.
A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) projeta que pacientes que perdem entre 15% e 20% do peso corporal tenham propensão a comprar novas peças de roupas.
Para os gestores, as varejistas de moda voltadas para classes de renda superiores devem ser as principais beneficiadas pelo sucesso das “canetas do emagrecimento”. Isso inclui ações como a Lojas Renner (LREN3), Grupo Soma (SOMA3), Guararapes (GUAR3) — dona da Riachuelo —, Arezzo (ARZZ3), C&A (CEAB3) e Lojas Marisa (AMAR3).
Além do varejo de roupas, a Ace destaca que as farmácias podem surfar a “febre do Ozempic” devido ao aumento de tráfego nas lojas e aos custos elevados dos medicamentos para obesidade, que atualmente são totalmente bancados pelos pacientes.
A gestora acredita que as drogarias mais expostas positivamente são a RaiaDrogasil (RADL3), Panvel (PNVL3) e Pague Menos (PGMN3).
Vale ressaltar que os “efeitos calculados são marginais e que o grau de incerteza é muito alto”, de acordo com a Ace Capital.
Seu Dinheiro/Camille Lima