O piloto do helicóptero que desapareceu no último domingo (31) no trajeto para Ilhabela, no litoral de São Paulo, fez ligações para o heliponto em que se dirigia relatando dificuldades para cruzar a serra.
Jorge Marum, do Heliponto Maroum, relata que o primeiro contato do piloto foi às 11h09, quando ele pediu para saber as condições do tempo. A resposta aconteceu às 11h14.
Posteriormente, o comandante envia um novo áudio às 13h03, dizendo que estava vindo.
Como houve o atraso, Jorge liga às 14h42 para o piloto. Ele disse que estava com dificuldades para cruzar a serra.
O local que as aeronaves monomotores costumam cruzar a serra se chama “fazendinha” (Fazenda Serramar) e tem a altitude de 3.200 pés.
Ouça:
Áudio 1
- Piloto: Oi Jorge, não estou conseguindo cruzar.
- Jorge: Cancelou?
- Piloto: Eu vou para a Fazendinha (Fazenda Serra Mar), mas não consigo cruzar, está tudo fechado, está “polado”.
- Jorge: Poxa vida, deixa eu ver se tem algum buraco aqui.
- Jorge: Vai ficar na linha? Estou indo lá.
- Jorge: Demorou para fazer o voo né. Tem um buraco aqui. Cassiano, Cassiano, Cassiano, tem um buraco aqui em cima do heliponto. Cassiano, alô? Alô, Cassiano.
- Piloto: Oi, Jorge.
- Jorge: Tem um buraco em cima do heliponto. Vem por cima.
- Piloto: Está bom.
- Jorge: Está bom, tchau.
Em seguida, Jorge faz uma nova ligação, às 14h49.
Nela, o comandante questiona se há gasolina no heliponto. Jorge responde que somente em Ubatuba, cidade vizinha.
Também diz para o piloto vir por cima da camada de nuvens que o tempo aqui em Ilhabela estava bom, com muitos buracos e que a camada era muito fina e o sol estava transpassando por ela. Ouça:
Áudio 2
- Oi, Jorge. Está tudo embolado aqui, não vai dar certo.
- Jorge: Mas vem por cima. Tem um put* buraco aqui.
- Piloto: Mas aqui onde eu estou não tem condição de subir.
- Jorge: Por quê?
- Piloto: Porque não dá para subir, está tudo ‘polado’. Estou com o 44.
- Jorge: Mas não dá para passar por cima da camada?
- Piloto: É, se tivesse, está tudo polado aqui, não consigo ir por cima da camada.
- Jorge: Aqui está um tempo bom meu. O tempo está ótimo.
- Piloto: Não consigo cruzar a serra.
- Jorge: Eu digo por cima, não por baixo.
- Piloto: Eu sei, por cima que eu não consigo subir.
- Jorge: Mas acha um buraco aí, você sobe e vem para cá. Tem um put* buraco.
- Piloto: Se eu achar eu vou. Tem gasolina ai, né?
- Jorge: Gasolina, não. O táxi está esperando.
- Piloto: Está bom, obrigado.
Às 14h55 há uma nova ligação de Jorge para o piloto. Ele diz que viria por cima da camada e desligou em seguida.
Jorge tenta ligar novamente para o piloto às 15h13, mas ele não atende. Ele ainda tenta chamar via rádio por uma hora, mas não tem resposta.
O helicóptero fez um pouso de emergência neste meio tempo, antes de seguir o trajeto e perder o contato.
A Força Aérea segue fazendo buscas pela aeronave no trajeto entre a capital e a cidade litorânea. No entanto, nada foi encontrado até a manhã desta terça-feira (2).
O caso
Um helicóptero que seguia para Ilhabela, no litoral de São Paulo, desapareceu no domingo (31), véspera do Réveillon, informou a Polícia Militar de São Paulo. A CNN conseguiu informações sobre os passageiros com a irmã de um dos desaparecidos na segunda-feira (1º).
Luciana Marley Rodzewics Santos, de 46 anos, sua filha, Letícia Ayumi Rodzewics Sawunoto, de 20, e um amigo, identificado como Rafael, estavam no helicóptero, além do piloto, ainda não identificado.
Luciana e Letícia teriam recebido o convite de Rafael para fazer um passeio de helicóptero, explicou a irmã.
A família informou ainda que a localização do celular da jovem está ativa e aeronaves da Força Aérea tentam fazer as buscas.
Devido à falta de visibilidade, eles não conseguiram pousar no local do sinal nesta segunda-feira (1º).
Segundo a PM, o helicóptero decolou às 13h15 do Campo de Marte, no dia 31. O último contato foi às 15h10.
CNN Brasil