O Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), que recebe lideranças políticas e empresariais, acabou na semana passada com um saldo aparentemente negativo para o Brasil. O país pareceu perder relevância para outros países, como a Índia.
Um dos principais sinais dessa perda foi o balde de água fria que o Brasil recebeu, após sair da lista de mercados cruciais para a expansão dos negócios.
Realizado anualmente pela PwC, a pesquisa CEO Survey mostra uma nação desfalcada em relação às outras, e que não será a favorita para receber investimentos de CEOs. Em 2023, o país ocupava o 4° lugar na lista, em 2024, é o 14°.
A lista, que recebeu a consulta de cerca de 4.700 líderes empresariais, é composta por:
- EUA
- China
- Alemanha
- Reino Unido
- Índia
- França
- Canadá
- Japão
- Austrália
- México
A Índia, inclusive, é um dos países que rivaliza com o Brasil. Os dois são participantes dos Brics e as comparações das atuações de ambos no Fórum mostraram uma discrepância notável.
Enquanto a Índia realizou painéis suntuosos para divulgar suas inovações, e consequentemente atrair investimentos para o país, o Brasil parece caminhar a passos lentos nesse sentido.
Com uma agenda ainda muito pautada nas questões ambientais, a comitiva sem nomes importantes fez com que a impressão geral fosse a de um Brasil que está deixando de lado Davos.
Em Davos, nomes como o do presidente Lula, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não apareceram. Eles continuaram no Brasil para dar atenção a assuntos internos. Também, o vice-presidente Geraldo Alckmin ficou de fora da comitiva.
Entre alguns dos presentes estavam Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, e Nísia Trindade, ministra da Saúde.
Para Fábio de Andrade, economista e professor de Relações Internacionais da ESPM, além de dar atenção para questões domésticas, buscou-se dar mais espaço para Marina Silva devido os assuntos ambientais.
Além disso, as características ideológicas próprias do Partido dos Trabalhadores (PT) fazem com que Davos, um paraíso de empresários, não seja prioridade para o governo.
O professor lembra que, em 2002, Lula preferiu participar do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, a comparecer no WEF.
Brasil continua debatendo Amazônia no Fórum Econômico Mundial
Em um painel que reuniu nomes como Gustavo Petro, presidente da Colômbia, Helder Barbalho, governador do Pará, e Ilan Goldfajn, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Marina discutiu os futuros da Amazônia.
A ministra respondeu sobre a possibilidade de exploração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas, que, de acordo com a Petrobras (PETR4), poderia render 14 bilhões de barris de petróleo, afirmando que essa é uma decisão de governo, e não do Ministério do Meio Ambiente.
Apesar da diminuição do desmatamento na Amazônia, que caiu pela metade em 2023, segundo o INPE, ser um ponto positivo para o governo, o Cerrado ainda inspira preocupações.
O desmatamento nesse bioma cresceu quase 50% e atingiu níveis recordes, o que pode fazer com que o Brasil seja visto de forma negativa no exterior, por não conseguir alcançar sua meta de desmatamento zero como parte das políticas da Agenda 2030.
Para Andrade, colocar a Amazônia no centro é uma escolha natural, por conta da importância internacional que esse bioma recebe, mas outro ponto ficou de fora das discussões: o rastreamento de produtos gerados em áreas de potencial ambiental.
“Isso deveria ser algo a ser vendido como uma preocupação que o Ministério do Meio Ambiente vem tendo nos últimos dois anos”, afirma Fábio.
Por outro lado, o ministro Alexandre Silveira repercutiu os investimentos em fontes renováveis e a matriz energética limpa do Brasil.
Alexandre também citou outro nome em Davos que recebe cada vez mais atenção nos noticiários brasileiros: Guido Mantega. O ex-ministro da Fazenda pode ser incorporado no Conselho de Administração da Vale (VALE3), e Silveira acredita que seria “injustiça” afirmar que Mantega não é qualificado para ocupar o cargo.
Assunto do momento ainda é pouco desenvolvido pelo Brasil
A Inteligência Artificial (IA), assunto extremamente comentado nos noticiários de 2023 e que promete continuar a ser destaque em 2024, ainda é um assunto a ser mais discutido pelo Brasil.
Durante o Fórum Econômico Mundial, o presidente do STF afirmou que regular a IA é imprescindível, mas que deve ser feito de modo a não impedir a inovação.
Como riscos do crescimento da Inteligência Artificial, Barroso destacou a utilização para fins bélicos, a massificação da desinformação e o impacto sobre o mercado de trabalho.
Além dos temas citados, o presidente citou os impactos nas democracias, afirmando que “a campanha eleitoral nos Estados Unidos, neste ano, pode servir de teste para as potencialidades da desinformação e do deep fake”.
Money Times