Michelle Sword estava passando por um divórcio, tinha ficado de quarentena em casa por conta do coronavírus e viu seu peso aumentar. A mãe de dois filhos, aos 40 anos, se assustou ao ver uma foto dela em que, segundo ela, tinha aumentado de peso drasticamente. “Eu estava usando um vestido de veludo preto com botas. Estávamos todos nos inclinando para tirar uma foto e eu estava enorme. Me senti horrível”, lembra ela.
Ela então decidiu experimentar o famoso Ozempic pela primeira vez. O princípio ativo do remédio é a semaglutida, uma forma sintética do hormônio GLP-1, que promove a saciedade. O remédio age no corpo imitando um hormônio ligado ao apetite e a alimentação, ajudando a estimular a produção de insulina e, assim, a diminuir os níveis de glicose no sangue do indivíduo. Por conta deste mecanismo, quem usa o remédio sente menos fome e, consequentemente, se alimenta menos e emagrece.
Sword foi a uma farmácia on-line e respondeu a um questionário médico “bastante detalhado” antes de receber um pacote pelo correio contendo várias canetas Ozempic, cada uma das quais entregando uma dose medida para ser injetada na coxa uma vez por semana.
“Cada caneta dá quatro doses. E a cada dose ele para quando você clica, e essa é a sua dose”, diz. Naquela ocasião, porém, o remédio funcionou, ela afirma que não sentia fome e quando comia eram apenas pequenas quantidades.
Ela perdeu peso, mas o efeito do remédio não durou muito. Em partes devido ao seu novo trabalho sedentário como recepcionista. Ela então decidiu comprar novas doses de ozempic, o remédio chegou dois dias depois pelo correio, porém dessa vez foi diferente.
Ela foi injetar o produto, porém a dose da caneta não parou e ela continuou injetando o remédio. Segundo Sword, ela não sabia qual era a dose, então decidiu parar por conta própria, mas mesmo assim achou que tinha injetado pouco em seu corpo.
Em 15 minutos ela começou a sentir tonturas e desorientação. “Eu deveria sair com uma amiga, mas percebi que não estava bem”. Ela avisou a filha que iria deitar para descansar um pouco, mas acabou desmaiando na sala, o que foi a sorte dela.
“Graças a Deus não fui para a cama, porque minha filha teria me deixado dormir e eu não teria acordado”, diz ela calmamente.
Os médicos mais tarde disseram que a mulher tinha na verdade tomado 18 unidades de insulina pura — pessoas com diabetes geralmente tomam entre duas e quatro.
“Eu deveria ter pensado melhor. Eu ensino meus filhos a fazer melhor e eu mesmo não segui as mesmas regras. Tive que me desculpar com os dois por fazê-los passar pelo que fiz”, revela.
No início deste ano, uma investigação da BBC descobriu um excesso de vendedores não regulamentados que vendem semaglutida sem receita médica, apesar do alerta da Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde (MHRA) aconselhando o público a evitar a compra on-line de canetas para perda de peso.
Entre janeiro e outubro deste ano, a MHRA apreendeu 369 canetas Ozempic falsas. Alguns que usaram as vacinas ficaram em choque hipoglicêmico (baixo nível de açúcar no sangue) e até em coma.
“Os médicos me deram um saco de glicose e, quando chegamos ao hospital, fui levado direto para a reanimação. Havia umas sete ou oito pessoas na sala aplicando injeções por toda parte. Minha frequência cardíaca estava diminuindo, tudo estava começando a piorar e eles estavam literalmente lutando para me manter vivo naquele momento. Os médicos disseram que eu sou um milagre”, afirma a mulher.
Hoje ela está bem e fala sobre o assunto abertamente hoje para alertar sobre os perigos dos vendedores não licenciados na web, mas também para destacar o perigo paralelo da relação, por vezes pouco saudável, das mulheres com o que veem no espelho.
Créditos: O Globo.