Embora o entendimento sobre o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) tenha aumentado nos últimos anos — levando à melhora na identificação e diagnóstico —, ainda há muito que não sabemos sobre essa neurodivergência, especialmente os mecanismos biológicos por trás da sua ocorrência e da diferença nas percepções humanas. Um desses aspectos é o papel dos genes, já que não sabemos quais são responsáveis por essa hereditariedade.
Um novo estudo, no entanto, veio para mudar a percepção da ciência sobre essa herança: até agora, devido à complexidade do TDAH, se acreditava que ele teria de ser explicado por uma série de mutações nos genes, mas a inovadora pesquisa sugere que metade dos casos herdados venha de variações genéticas únicas, ou seja, em apenas um gene — e com fatores ambientais, ou epigenéticos.
Genética e o TDAH
A questão sobre os genes múltiplos, embora muitas cientistas considerem essa hipótese “óbvia”, é que eles não conseguem explicar toda a herança genética do TDAH. Estudos analisando como os genes ligados ao transtorno são passados à frente só observaram cerca de 30% deles sendo herdados. Ao mesmo tempo, os sintomas físicos e comportamentais, quando observados nas linhagens familiares, têm cerca de 80% de herdabilidade. A conta não bate.
Para investigar a fundo, uma equipe liderada pela psicóloga Anne Arnett, da Universidade de Harvard, estudou o genoma completo de 77 crianças americanas com TDAH e suas famílias. Embora seja uma amostra pequena e o foco seja nos infantes, a teoria proposta explicaria as variações nas heranças únicas e múltiplas.
A chave está na metilação atípica. A metilação do DNA é um controle do corpo para mudar os níveis de expressão genética em diferentes células, acontecendo por conta de influências externas (ou seja, epigenéticas). Assim, fatores ambientais como estresse, atividades físicas, a dieta que um ascendente (como a avó, por exemplo) teve ou a poluição podem mudar os estados de metilação em vários genes diferentes. Isso causa um efeito dominó no corpo que pode, entre outras coisas, gerar o TDAH.
Isso pode explicar como agentes externos contribuem para diferenças no desenvolvimento do cérebro e na expressão de sintomas de neurodivergência — níveis parecidos de variação genética já foram identificados no Transtorno do Espectro Autista (TEA), por exemplo. Já se suspeitava que ambas essas neurodivergências tinham alguma relação, já que até 70% dos indivíduos que apresentam uma delas também apresenta a outra, ou ao menos aparecem na mesma família.
Embora alguns dos traços desses transtornos sejam opostos, muitos são compartilhados, levando alguns cientistas a propor que seriam partes diferentes de um mesmo contínuo. Caso a teoria epigenética esteja correta, isso explicaria como tantos sintomas diferentes poderiam ocorrer.
Fonte: Terra.