O crânio de um animal marinho colossal foi extraído dos penhascos da Costa Jurássica de Dorset, no sul da Inglaterra.
Ele pertence a um pliossauro, um feroz réptil subaquático que aterrorizou os oceanos há cerca de 150 milhões de anos. Um dos cientistas responsáveis pela descoberta disse que o fóssil é como se fosse uma espécie de “tiranossauro subaquático” — dadas as suas dimensões e suas características predatórias.
O fóssil de 2 metros de comprimento é um dos mais completos do seu tipo já descobertos e pode fornecer novas pistas sobre esse antigo predador.
BBC/TONY JOLLIFFE/Steve Etches e o crânio do dinossauro; agora, ele quer o restante do corpo do animal
Não há nenhum outro animal que se compare a ele, acredita o paleontólogo Steve Etches.
“É um dos melhores fósseis com que já trabalhei. O que o torna único é que está completo”, diz ele à BBC News.
“A mandíbula inferior e a parte superior do crânio estão interligadas, como estariam se ele estivesse vivo”.
“Em todo o mundo, quase não há fósseis encontrados com esse nível de detalhe. E se estiverem, faltam muitos pedaços, enquanto este, embora esteja ligeiramente deformado — possui todos os ossos presentes”, acrescenta.
Steve Etches mostra crânio de dinossauro a David Attenborough, apresentador da BBC — esta é a primeira peça a ser encontrada/BBC STUDIOS
O crânio é mais longo do que a maioria dos humanos, o que dá uma ideia do tamanho da criatura.
É impossível não prestar atenção a seus 130 dentes, especialmente os posteriores.
Longos e afiados, eles poderiam matar com uma única mordida. Mas basta um olhar mais de perto para perceber que a parte de trás de cada dente possui finas saliências.
Isso teria ajudado o pliossauro a perfurar a carne e depois extrair rapidamente suas presas, pronto para um segundo ataque rápido.
Parte de trás de cada dente possui finas saliências/BBC/TONY JOLLIFFE
O pliossauro era uma máquina de matar e, com 10 a 12 metros de comprimento e quatro poderosos membros em forma de nadadeira para se impulsionar em alta velocidade, tornou-se um grande predador dos oceanos, dizem os especialistas.
“O animal era tão grande que acho que teria sido capaz de atacar qualquer coisa que tivesse a infelicidade de estar no seu espaço”, diz Andre Rowe, da Universidade de Bristol, na Inglaterra.
“Não tenho dúvidas de que era como um tiranossauro subaquático.”
Suas presas incluíam outros répteis, como o seu primo de pescoço comprido, o plesiossauro, e o ictiossauro, este semelhante a um golfinho.
Evidências fósseis revelam que o pliossauro possivelmente se alimentou até de outros membros de sua própria espécie.
A forma como este crânio fóssil foi recuperado é extraordinária.
Tudo começou com uma descoberta casual durante um passeio por uma praia perto da Baía de Kimmeridge, na famosa Costa Jurássica do sul da Inglaterra, considerado Patrimônio da Humanidade da Unesco, o braço da ONU para educação, ciência e cultura.
Amigo e colega entusiasta de fósseis de Steve Etches, Phil Jacobs, encontrou a ponta do focinho do pliossauro caído no cascalho. Não conseguiu carregá-lo sozinho devido ao peso, então, chamou Steve, e a dupla montou uma maca improvisada para levar o fóssil para um local seguro.
Foram usadas cordas para retirar fóssil da praia de Dorset/BBC STUDIOS
Mas onde estava o restante do animal? Um levantamento feito por drones identificou um local provável. O problema era que a única maneira de escavá-lo era descer de rapel do topo da falésia.
Remover fósseis de rochas é sempre um trabalho árduo e delicado. Mas fazer isso pendurado em cordas em um penhasco em ruínas, 15 metros acima da praia, requer um nível de habilidade fora do comum.
A coragem, a dedicação e os meses gastos limpando o crânio certamente valeram a pena.
Cientistas de todo o mundo vão querer visitar o fóssil de Dorset para obter novas informações sobre como esses incríveis répteis viveram e dominaram o seu ecossistema.
A paleobióloga Emily Rayfield examinou as grandes aberturas circulares na parte posterior da cabeça.
Segundo ela, pode-se inferir a partir deles o tamanho dos músculos por trás das mandíbulas do pliossauro e as forças geradas quando sua boca se fechava e esmagava sua presa.
No limite superior, isso chega a cerca de 33.000 newtons.
Para se ter uma ideia, as mandíbulas mais poderosas dos animais vivos são encontradas nos crocodilos de água salgada, com 16.000 newtons.
“Se você conseguir gerar uma mordida realmente poderosa, poderá incapacitar sua presa; é menos provável que ela escape. Uma mordida poderosa significa que este animal podia triturar tecidos e ossos de maneira bastante eficaz”, explica Rayfield.
“Quanto à alimentação, os crocodilos fecham a mandíbula em torno de alguma coisa e depois torcem, para talvez arrancar um membro da presa. Essa é uma característica de animais que têm cabeças expandidas na parte de trás, e vemos isso no pliossauro.”
Esse fóssil recém-descoberto possui características que indicam que ele tinha alguns sentidos particularmente aguçados e muito úteis.
Seu focinho é repleto de pequenas cavidades nas quais provavelmente havia glândulas para ajudá-lo a detectar mudanças na pressão da água feitas por possíveis presas.
E em sua cabeça há um buraco que abrigaria um olho parietal, ou terceiro olho. Lagartos, sapos e alguns peixes vivos também o possuem. É sensível à luz e pode ter ajudado na localização de outros animais, especialmente quando o pliossauro estava emergindo de águas profundas e turvas.
Steve Etches exibirá o crânio no próximo ano em seu museu em Kimmeridge — a Coleção Etches.
É possível ver algumas vértebras projetando-se na parte de trás da cabeça, mas desaparecendo após apenas alguns ossos. Elas são uma pista tentadora de que mais fósseis ainda podem estar no penhasco.
Etches diz estar ansioso para terminar o que começou.
“Eu aposto minha vida que o restante do animal esteja lá”, diz ele à BBC.
“Devemos extraí-lo quanto antes porque está em um ambiente de erosão muito rápida. Esta parte da linha do penhasco está recuando metros por ano. E não demorará muito para que o restante do pliossauro desapareça e se perca. É uma oportunidade única na vida.”
BBC/Colaboraram Rebecca Morelle e Tony Jolliffe