Foto: Jéssica Marques/ O GLOBO
Dois médicos e pastor passavam de carro pela via quando foram atingidos
Marilton foi atingido na coluna cervical e, segundo os médicos plantonistas do Hospital de Bonsucesso, corre risco de ficar tetraplégico. Ele foi transferido para o Hospital Miguel Couto, na Gávea, que até a última noite não havia divulgado seu estado de saúde. Já Mario foi atendido com estado de saúde estável. O terceiro ocupante do veículo tem 13 anos e é filho de Marilton, mas não foi atingido por nenhum disparo.
O pastor Fernando Rodrigues da Silva, que estava em outro carro, foi atingido no tórax e transferido para o Hospital Souza Aguiar, no Centro. A direção da unidade informou, durante a última noite, que seu estado é grave.
Um amigo das vítimas, que também é pastor e estava com eles na igreja horas antes do ataque, lamentou o ocorrido:
— Nós oramos, cantamos e celebramos nessa véspera de Natal. Não imaginava que algo assim pudesse acontecer logo depois. Espero que se recuperem e que Deus guarde a vida deles. É um momento difícil para mim e toda a família — disse o homem, que estava na porta do Hospital de Bonsucesso após o tiroteio.
Tiroteio na Avenida Brasil deixa 9 feridos na véspera de Natal
Disparos atingiram dois carros, um ônibus e viatura da PM
Os outros 6 feridos estavam a bordo de um ônibus. Segundo a direção do Hospital Federal de Bonsucesso, além dos dois transferidos, os outros 7 pacientes receberam alta.
Ônibus foi alvejado por suspeitos
Além de dois carros e uma viatura, um ônibus municipal — da linha 665 (Pavuna—Saens Peña) — que passava pela via, uma das principais do Rio, também foi atingido por disparos. Seis passageiros ficaram feridos e, durante a tarde, prestaram depoimento na 21ª DP (Bonsucesso), que investiga o caso, onde relataram momentos de terror a bordo do coletivo.
Machucados e ainda assustados com o ocorrido, a maioria não teve condições de conceder entrevista. Uma passageira, atingida de raspão na cabeça, relatou ter vivido momentos de terror.
— Foi o pior dia da minha vida. Nunca imaginei passar por isso na véspera de Natal. A gente sai de casa achando que vai ser um dia normal e é surpreendido com tiros. Graças a Deus estou viva para voltar para casa e ver minha família — desabafou a mulher, que preferiu não se identificar.
O motorista do coletivo, Evandro Pereira Salles, de 42 anos, diz que ter sobrevivido ao tiroteio foi um “livramento” e que, há quatro anos na profissão, nunca viveu nada igual. Com o ônibus lotado, ouviu a sirene e viu a PM perseguindo o Corolla branco.
— Quando se aproximaram do ônibus, (os suspeitos) atiraram na minha direção, tentando atingir as pessoas no ônibus. Não satisfeitos, eles continuaram e alvejaram os médicos mais à frente. Foi um desespero muito grande. Mas não tem muito o que fazer. Todo mundo deitou no chão e eu tentei fazer o meu melhor para proteger as pessoas. Quando vi que uma menina tinha tomado um tiro na cabeça, e estava caída na roleta, rapidamente, tomei a direção e fui para o Hospital de Bonsucesso procurar socorro — lembra Evandro, que prestou depoimento na delegacia durante a tarde.
‘O que a gente tem a ver com isso?’
O motorista completou dizendo que a sensação é de insegurança, apesar de nada mais o surpreender no Rio, e questiona:
— O que a gente tem a ver com isso? Nunca imaginei que um carro em fuga ia passar atirando. Ali tinha criança, idoso… O ônibus estava cheio. Sou motorista há quatro anos e nunca vi isso. Pela situação atual do Rio de Janeiro, não me surpreendo muito com as coisas que acontecem. Nessa situação, já está demais. Eles não estão respeitando mais. Não querem saber se é um pai de família ou se é um trabalhador. Eles não querem saber. Foram muitos tiros. Eles pararam a viatura no tiro.
O ônibus teria sido alvejado pelos suspeitos, que saíram do Parque União, no Complexo da Maré, na tentativa de despistar os PMs que perseguiam o grupo, que estava a bordo de um Corolla Cross branco.
Estacionado na porta da delegacia, ao menos 13 disparos puderam ser contabilizados no coletivo. Dois deles no para-brisa — um no canto, ao lado da porta dianteira, e outro próximo ao motorista — além do restante cravados pela lateral do ônibus.
No dia anterior, deputada foi alvo
Policiais que participaram da ocorrência informaram que os suspeitos deixaram a comunidade do Parque União, no Complexo da Maré, a bordo de um Corolla Cross de cor branca. Ainda pelas pistas sentido Baixada Fluminense, o grupo recebeu ordem de parada, mas não respeitou. Para tentar fugir, eles fizeram o retorno na altura da estação do BRT Maré, e acessaram a Avenida Brasil novamente, desta vez no sentido Centro. Nenhum policial ficou ferido.
Com medo, muitos motoristas tentaram dar meia-volta, ou acessar ruas transversais pela contramão, conforme relatos compartilhados nas redes sociais. Com o local isolado para perícia, a pista lateral — no sentido Centro — precisou ser interditada e o trânsito desviado pela Avenida Londres.
A PM ressaltou, em nota, que o policiamento estava reforçado na região desde sábado, dia 23, quando a deputada estadual Giselle Monteiro (PL) sofreu uma tentativa de assalto enquanto trafegava pela Avenida Brasil, na altura da comunidade da Vila do João, no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio.
A parlamentar, que é irmã do ex-vereador Gabriel Monteiro, afirmou nas redes sociais que os criminosos atiraram contra o carro dela durante a abordagem. “Homens fortemente armados jogaram o carro na frente obrigando a parar o veículo, nos cercaram em pé no meio da rua, batendo com as armas para quebrar o vidro, em plena Avenida Brasil, trânsito limpo, altura da Vila do João, entrada para Linha Amarela!!! Coronhadas por submetralhadora nas latarias e janelas e, pelo vidro quebrado, parece ser de tiro”, descreveu Giselle.