Após o episódio em que dono da página “Choquei” debochou de Jéssica Vitória dias antes de sua morte, e ele ter trancado seu perfil nas redes sociais após a repercussão do caso, interneutas resgataram uma matéria da Revista Piauí que explica a ligação entre o jovem e a primeira-dama, que inclusive impactou as últimas eleições presidenciais. A matéria, escrita por João Batista Junior, foi publicada em 01 de novembro de 2022. Leia a íntegra:
No dia do segundo turno, 30 de outubro, o Choquei, um perfil no Twitter e no Instagram especializado em notícias de entretenimento e fofoca, dividiu sua equipe de seis pessoas em três turnos diferentes. O ritmo de trabalho foi intenso. O perfil chegou a postar mais de dez conteúdos por hora sobre política, como apuração de votos e ação da Polícia Rodoviária Federal. O alcance das publicações, todas elas, é bastante elevado. A postagem sobre a vitória de Lula rendeu 79 mil comentários e 1,3 milhão de curtidas. No Twitter, o mesmo conteúdo obteve 286 mil curtidas, o recorde de engajamento. Ainda no dia do segundo turno, o Choquei ganhou 160 mil novos seguidores no Twitter e outros 60 mil no Instagram. Entre as postagens de maior repercussão estão as selfies de Lula com a socióloga Rosângela Silva, a Janja, após o anúncio da vitória, tiradas dentro de um carro.
A futura primeira-dama se tornou fonte do fotógrafo goiano Raphael Sousa, de 28 anos, fundador do Choquei. Os dois se aproximaram, e Janja também o convidou para subir no carro de som oficial na Avenida Paulista para acompanhar o discurso da vitória de Lula, mas Sousa não pôde ir por estar fora da cidade. Segundo ele, a relação dos dois nasceu por mensagens diretas via Instagram no primeiro semestre, quando o perfil especializado no mundo dos famosos despontava em outra seara. Procurada pela piauí, a assessoria de Janja informou que ela não está dando entrevistas.
Criado em novembro de 2014, o Choquei entrou no radar da audiência interessada em notícias para além do universo das celebridades em fevereiro deste ano com a eclosão da guerra na Ucrânia. Passou a replicar notícias sobre os desdobramentos da invasão russa. O público gostou – e as postagens receberam comentários, curtidas e compartilhamentos em cascata. “Então, depois da guerra, o pessoal passou a cobrar o nosso posicionamento em relação à política brasileira”, lembra. Janja já seguia o Choquei nas redes e deixava comentários em algumas postagens. O dono do perfil disse que nunca se interessou por política, mas, com o governo Bolsonaro, assumiu um posicionamento contra o presidente – o que o levou a adotar uma linha pró-Lula. “Na verdade, eu me posiciono contra o presidente Bolsonaro em razão da má gestão da pandemia”, explica Sousa. A política nacional e seus desdobramentos se tornaram parte da cobertura.
Ao longo das eleições deste ano, para além de veículos de comunicação, políticos, jornalistas e influenciadores com alto poder de engajamento, era comum o Choquei constar entre as contas de maior repercussão no Twitter. De acordo com a Palver, empresa de engenharia e análise de dados que assinou um acordo de cooperação com o TSE para enfrentar a desinformação durante as eleições, o Choquei também superou em menções em grupos de WhatsApp um dos maiores nomes nas redes ao longo desta campanha. “Durante toda a campanha presidencial, o Choquei apareceu mais que André Janones em menções em grupos de WhatsApp em todos os dias”, conta Luis Fakhouri, diretor da Palver. Alguns exemplos ocorridos em datas importantes: no dia 16 de outubro (quando ocorreu o debate presidencial na Band), o Choquei recebeu 485 menções ante 329 de Janones a cada 100 mil mensagens de WhatsApp analisadas; no dia 22 de outubro, dia da “super live” de Bolsonaro, que contou com a presença do jogador Neymar, chegou a 852 menções contra 158 do deputado.
O Choquei nasceu no Instagram como hobby de um então vendedor de chip da TIM filho de um autônomo com uma funcionária pública. “No começo, eu basicamente republicava fotos de artistas”, lembra Raphael Sousa. Um exemplo trivial: postar foto dos atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank ao lado da filha, Titi, com a legenda “fofos”. Por trabalhar em uma operadora de telefone móvel, passava o dia com o celular na mão e, assim, conseguia conciliar as postagens com a venda de chips. O Choquei começou a dar retorno financeiro quando atingiu 100 mil seguidores, número conquistado meses após a sua criação. As primeiras publis foram de lojas de Goiânia, interessadas em alavancar as vendas e de quebra ganhar novos seguidores. A coisa cresceu, se profissionalizou e conquistou anunciantes gigantescos, como Ambev e Americanas.
Até dezembro de 2021, o Choquei integrava o casting da Banca Digital, dos empresários Murilo Henare e Fátima Pissarra, especializada em representar contas de Instagram junto ao mercado publicitário. Sousa decidiu não renovar o contrato porque todo trabalho precisaria ser intermediado pela Banca Digital – antes, ele tinha autonomia para negociar sozinho os cachês de “presenças VIP” e acompanhar a gravação de DVDs de artistas, por exemplo. Segundo ele, o tom da cobertura política, com uma linha editorial tão clara, não impactou em seu faturamento nem afastou potenciais anunciantes. Nos últimos dias, Sousa fechou contratos publicitários com a cervejaria Spaten, com a marca de higiene pessoal Dove e com a rede de fast-food McDonald’s para ações de Black Friday. “Na verdade, tem mais gente querendo anunciar.”
Está nos planos de Sousa criar um site de notícias no ano que vem, quem sabe indo além de replicar conteúdo de portais para ter mais conteúdo exclusivo. Sua equipe tem apenas seis pessoas, todas também moradoras de Goiânia. A remuneração se dá por um salário fixo mais bonificações por postagens que conquistam um alcance muito grande. O sarrafo é alto. No Twitter, Sousa considera regular quando uma publicação bate 5 mil likes (vê como sucesso quando conquista 10 mil curtidas); no Instagram, só quando uma postagem bate 100 mil curtidas ele avalia como bem-sucedida. Nos últimos 30 dias, o Instagram do Choquei alcançou 47 milhões de usuários e teve 900 milhões de impressões no Instagram (número de vezes em que apareceu no feed do usuário). “As pessoas olham nossas postagens e ficam com vontade de um link para ler mais sobre o assunto”, explica. “Então chegou a hora de termos um site.”
Raphael Sousa e seu companheiro já confirmaram presença para a posse de Lula no dia 1 de janeiro, em Brasília. Será a primeira vez em que vai ver ao vivo sua nova melhor amiga, a Janja – que ao longo da campanha lhe enviou por WhatsApp fotos exclusivas (para serem publicadas, evidentemente) de Lula pronto para o debate presidencial e também áudios do então candidato direcionados à equipe do Choquei. “Ela já me falou: ‘dia primeiro a gente se encontra, né?’.”
Com informações da Revista Piauí.