Os cães são animais carnívoros. Isto significa que eles evoluíram até aqui ingerindo proteínas de origem animal: a carne é o principal ingrediente da alimentação canina. Mesmo assim, eles podem comer algumas frutas, verduras e legumes, desde que a dieta seja equilibrada.
Existe uma tendência mundial para reduzir o consumo de carne entre os humanos. Uma pesquisa de 2018, da Global Data (Londres, Inglaterra), comprovou que 70% dos consumidores declaram estar reduzindo a ingestão de proteínas animais.
Isto não significa, no entanto, que os animais carnívoros (entre eles, os cachorros e os gatos) possam se tornar vegetarianos. O organismo deles se desenvolveu, durante centenas de milênios, para aproveitar os nutrientes obtidos na caça.
Mudanças na dieta
Mesmo assim, os tutores podem incluir algumas frutas, verduras e legumes no cardápio dos cães. Na natureza, os lobos costumam ingerir algumas frutas e raízes, especialmente para facilitar a digestão.
O que não se pode é tornar os cachorros veganos. O veganismo, mais do que um regime alimentar, é um estilo de vida, em que os humanos não consideram ética a exploração de outras espécies animais.
O veganismo, desta maneira, é uma visão de mundo, que os cachorros não partilham. Eles podem receber uma alimentação exclusivamente vegetariana, mas, caso fossem soltos novamente na natureza, eles voltariam às atividades de caça.
Uma dieta exclusivamente vegetariana para os cachorros é possível, mas muito trabalhosa, e requer a suplementação com alguns nutrientes que não estão presentes (ou apresentam dificuldade de absorção) nas frutas, verduras e legumes.
Assim como qualquer outra forma de alimentação, a dieta vegetariana, caso seja adotada, deve contemplar todas as exigências nutricionais dos cães com relação à quantidade e qualidade de proteínas, açúcares, gorduras, vitaminas e sais minerais.
Vegetais no cardápio
Como regra geral, os cães podem obter todos os nutrientes necessários para a saúde, bem-estar e qualidade de vida a partir de rações balanceadas. Os tutores precisam atentar para as condições em que elas são produzidas e também para a logística de distribuição dos produtos.
Muitas vezes, produtos industrializados com níveis de excelência são comprometidos total ou parcialmente pelo transporte, estocagem e exposição inadequados.
Mas, mesmo entre os que não pretendem adotar mudanças radicais na alimentação dos cães podem agregar benefícios a eles com a oferta de alguns vegetais no dia a dia. É importante considerar que dar frutas, verduras e legumes para cachorros é uma forma de complementação.
Por isso, em alguns casos, ao oferecer um vegetal, é necessário reduzir proporcionalmente a quantidade de ração naquele dia. Os legumes quase sempre são encarados como prêmios, recompensas e agrados, mas, caso eles se tornem mais frequentes, os tutores devem controlar eventuais ganhos de peso.
Outro ponto importante: sempre que forem feitas alterações no cardápio, é fundamental seguir as orientações de um médico veterinário – preferencialmente, o profissional que acompanha o cachorro.
Opções saudáveis
Alguns petiscos feitos com vegetais podem ser muito úteis para o adestramento dos cães. Eles podem inclusive substituir algumas guloseimas, como ossos e bifinhos artificiais (alguns produtos disponíveis podem prejudicar a saúde dos peludos).
Frutas, verduras e legumes também podem ser oferecidos em momentos de brincadeira e descontração, além de serem usados como recompensas. Alguns cachorros parecem realmente gostar de alguns vegetais, apesar de o paladar não ser tão importante para os nossos melhores amigos.
As frutas, verduras e legumes podem ser oferecidas cruas ou cozidas apenas em água, sem nenhum tempero ou condimento. A maioria dos cães preferem texturas mais firmes, mas alguns apreciam um purê sobre a ração diária.
Outra opção é congelar pedaços em cubos (de água ou caldo de carne, por exemplo). Além de fornecer alguns ingredientes, o líquido melhora as condições de hidratação e pode ser uma brincadeira divertida, especialmente para os dias quentes.
Não há contraindicações para os vegetais abaixo relacionados, nem relatos de malefícios causados pela ingestão. Mesmo assim, os tutores precisam ficar atentos, especialmente nas primeiras tentativas, porque podem ocorrer casos isolados de intolerância alimentar.
Lembrando sempre que as porções oferecidas não podem significar um aumento calórico na dieta (a menos que haja aumento proporcional na atividade física), os tutores podem introduzir diversos vegetais no cardápio.
- Abóbora – é rica em fibras, o que contribui para facilitar o trânsito intestinal e aumentar o volume das fezes. A fruta é especialmente indicada para cães com problemas de prisão de ventre. Boa fonte de vitamina A, a abóbora ajuda a melhorar a saúde da pele, dos pelos e dos olhos.
A fruta também é indicada para fortalecer o sistema imunológico e melhorar a circulação sanguínea. O consumo regular também parece estar associado à menor incidência de alguns tipos de câncer.
- Abobrinha – fornece boas quantidades das vitaminas A, C e E, além de alguns minerais. A fruta (ela é fruta também!) fortalece o sistema imunológico, melhora a saúde da pele, pelos e olhos. Ela também é fonte de poucas proteínas e é bastante fibrosa.
O vegetal é fonte de selênio (reduz a quantidade de radicais livres), zinco (acelera a cicatrização, previne infecções e ajuda a controlar os níveis de açúcar no sangue), cobre (importante na produção do colágeno e dos glóbulos vermelhos do sangue), manganês (ajuda a controlar os níveis de açúcar no sangue e regula o metabolismo) e potássio (importante para o funcionamento de nervos e músculos).
- Batata-doce – muito consumida por fisiculturistas, o tubérculo pode ser oferecido aos cães, mas sem excesso. É fonte de vitaminas A, B e C, cálcio (desenvolve, regenera e fortalece os ossos e dentes), potássio e é rica em fibras.
O consumo exagerado pode levar a ganhos de peso desnecessários e alguns estudos sugerem que os animais que comem muita batata-doce são mais suscetíveis a problemas do coração. O tubérculo deve ser oferecido sempre cozido, em pequenas porções (para um animal de porte médio, meia batata por dia).
- Beterraba – ela pode ser oferecida crua ou cozida, mas sempre sem a casca. O consumo precisa ser mínimo, já que a beterraba é fonte de glicose, que, em excesso, pode alterar o metabolismo dos cachorros.
O tubérculo é rico em vitamina C, além de cálcio e fósforo, dois minerais importantes para o bom desenvolvimento de ossos e dentes, mas deve-se evitar dá-lo para cães com histórico de calcificação.
- Brócolis e couve-flor – muitos cachorros gostam especialmente dos floretes – não é possível saber se eles apreciam o gosto, a textura ou o cheiro. O brócolis fornece vitaminas A, B1, B6 e C, além dos seguintes minerais: cálcio, ferro (fundamental para o transporte de oxigênio para as células), magnésio (importante para a síntese das proteínas, o funcionamento do coração e a produção de linfócitos) e potássio.
O brócolis e a couve-flor podem ser oferecidos crus ou cozidos, de acordo com a preferência do cachorro. É possível aproveitar as folhas, os talos e os floretes.
- Cenoura – é um dos vegetais que os cachorros mais gostam. Talos de cenoura são muito úteis no adestramento: os cachorros consideram um bom prêmio e, além disso, ele acaba substituindo outros petiscos gordurosos.
A cenoura, que pode ser servida crua ou cozida, é rica em fibras, vitamina A, C, E e K, cálcio, fósforo, potássio e é uma boa fonte de glicose (portanto, pode não ser uma boa opção para os cães diabéticos ou obesos).
- Chuchu – fonte de cálcio, ferro e magnésio, o chuchu também fornece vitaminas A e C. O vegetal é uma boa opção para hidratar os cães, especialmente após (ou durante) atividades físicas intensas.
Oferecer o vegetal em cubos ou talos estimula a “vontade” dos cachorros. Nestes casos, o chuchu pode ser dado cru, apenas com o cuidado de retirar a casca, que é áspera para o tato dos cachorros e, em alguns casos, contém espinhos.
- Jiló – normalmente, ele é oferecido para os passarinhos, mas os cachorros também podem aproveitar. O ideal é servir o jiló cozido e resfriado (por ser pequeno, muitos peludos podem abocanhá-lo ainda quente e até mesmo sofrer queimaduras).
O jiló é uma boa fonte das vitaminas A e do complexo B. A fruta também fornece fibras e boas quantidades de cálcio. Apesar de ser considerado amargo (e muito ruim) por vários humanos, o jiló também está entre as preferências vegetais caninas.
- Pimentão – os cachorros podem comer pimentões vermelhos, verdes e amarelos (quanto mais intensa a cor, maior a concentração de betacarotenos). A fruta é fonte de cálcio, ferro e das vitaminas B1, B2, B5.
Trata-se de um alimento pouco calórico, que pode ser dado com alguma generosidade. A maioria dos cachorros prefere a iguaria crua, mas o pimentão também pode ser cozido e misturado à ração. Nos casos em que é preciso aumentar a oferta de ferro, o pimentão pode ser cozido até se desmanchar e a água do cozimento, adicionada ao alimento diário.
- Quiabo – é rico em vitamina A e K, cálcio, fósforo, potássio e magnésio. O quiabo é pouco calórico (pode ser dado aos mais gordinhos), fornece fibras e pode ser oferecido cru ou cozido, de acordo com as preferências.
O quiabo também é uma excelente fonte de polifenóis, substâncias que contribuem para a regularização do intestino, facilitam a digestão e combatem a ação dos radicais livres no organismo. Os tutores precisam controlar a ingestão, para evitar flatulência e diarreias.
- Vagem e orelha-de-frade – as duas variedades são úteis para controlar o nível do colesterol ruim (LDL) na corrente sanguínea dos cachorros. Pouco calórica, a vagem também pode ser incluída em todas as refeições.
A vagem também tem outra função: ela controla a glicemia (índice de glicose no sangue), impedindo o aumento descontrolado. Os cães com diabetes são especialmente beneficiados com a ingestão do legume.
As folhas e frutas
É mais difícil convencer um cachorro a comer apenas folhas, mas tudo depende da personalidade do peludo. Os tutores podem experimentar agrião (fonte de vitamina C), alface (vitamina A e cálcio), couve (cálcio e ferro), espinafre (cálcio, ferro, fósforo, vitamina A e algumas do complexo B) e repolho (vitaminas A, B e K, além de propriedades anti-inflamatórias).
Entre as frutas, é mais fácil relacionar quais delas os cachorros não podem comer:
- abacate – além do alto teor de gorduras (que contraindica para cães acima do peso), o abacate é rico em persina, substância tóxica que causa vômitos, diarreias e pode levar a insuficiências cardíacas, inclusive provocando a morte;
- carambola – não é consenso, mas acredita-se que a fruta aumente os riscos de insuficiência renal, especialmente em cães predispostos a problemas no sistema excretor. É melhor deixar os cães longe da fruta;
- uvas – ainda não são conhecidos totalmente os motivos, mas toda a parreira – talos, folhas, brotos, frutas (inclusive as passas), cascas e sementes são prejudiciais para os cães. Os efeitos das intoxicações dependem de uma série de fatos, como porte, idade e condições gerais da saúde, e vão de leves indisposições estomacais até estados de coma profundo.
As frutas cítricas não são proibidas, mas podem causar problemas gástricos, como azia e indigestão. É o caso do limão, da laranja e do abacaxi. Para animais saudáveis, pode-se dar um pedaço pequeno e observar as reações.
Todas as demais frutas podem fazer parte do dia a dia dos cachorros, seja como recompensa, seja como ingrediente de uma dieta específica. As cascas e sementes devem ser retiradas, porque podem causar engasgos e sufocações.
Os tomates, assim como todas as frutas da família das solanáceas, são ricos em uma substância chamada solanina, que, ingerida em excesso, pode causar mal-estar estomacal. Um cão de porte médio deve comer no máximo meio tomate grande. Também fazem parte da família a berinjela, os pimentões e as batatas (doces, inglesas, etc.).
Análises laboratoriais indicam que a casca da cereja contém pequenas doses de cianetos, substâncias que podem causar a morte. No caso destas frutas, no entanto, o teor de cianeto é tão pequeno que seria necessária a ingestão de uma tigela de cerejas para o envenenamento; e, nesse caso, seria mais provável que ele tivesse uma séria indigestão.
Em alguns casos, como as maçãs e as peras de todas as variedades, as sementes podem encerrar pequenas cápsulas de gases tóxicos, que inclusive podem ser fatais, especialmente para cães de pequeno porte idosos ou doentes. Normalmente, as substâncias são neutralizadas com os próprios atos da colheita, transporte, etc.
De qualquer forma, a moderação deve estar presente, quando se trata de dar frutas para os cachorros, mesmo que eles adorem. A maioria fornece quantidades consideráveis de açúcares, que, em pequenas doses, fornecem energia para o organismo. Em excesso, podem causar uma série de problemas, como sobrepeso e obesidade.
Fonte: Cães Online/Parceiro do Metrópoles.