A Globo iniciou e encerrou o ano de 2023 com um problemão em suas novelas das sete: a falta de audiência. Fuzuê, atual folhetim da faixa, é um exemplo claro disso. A novela acumula média de 19,3 pontos na Grande São Paulo desde sua estreia, número menor que o de Cara e Coragem (2022) e o de Quanto Mais Vida, Melhor! (2021), tramas que também foram consideradas fracas –mas que fecharam com 21 pontos.
A exceção nesse cenário foi Vai na Fé (2023), que conseguiu encerrar sua exibição com uma média de 23 pontos. Mas a novela tinha um perfil bem diferente daquele de suas “companheiras” de horário. O folhetim de Rosane Svartman até tinha um núcleo cômico, mas era bem mais sóbrio e ancorado em questões sociais do que os outros.
Fuzuê e Quanto Mais Vida, Melhor!, por sua vez, apostaram numa comédia mais “escrachada”; uma “farofa”, como os noveleiros costumam se referir nas redes sociais. A atual novela das sete também tem uma característica em comum com Cara e Coragem: um mistério em forma de tesouro, ao redor do qual toda a trama é baseada.
Não é exatamente um problema. Silvio de Abreu fez tanto sucesso com tramas deste gênero neste horário que acabou criando um “padrão” para a faixa –assim como outros autores o fizeram para a faixa das seis e das nove. São dele as novelas Guerra dos Sexos (1983), Cambalacho (1986) e Sassaricando (1987), referências nesse estilo.
Carlos Lombardi seguiu a mesma esteira e se deu bem. Mas, em 2023, parece que a fórmula não funciona mais. A pergunta que fica é: por quê?
Lucas Martins Néia, autor de uma tese sobre a história das novelas no Brasil, na Universidade de São Paulo (USP), acredita que a questão seja uma mudança nos hábitos de consumo do público. Segundo ele, boa parte do público que costuma assistir à novela das seis –normalmente mais voltada ao romance do que ao humor– passou a ocupar também a faixa das sete.
O público das sete, por sua vez, se voltou ao horário das nove. Não à toa, as novelas das nove mais cômicas fizeram bastante sucesso nos últimos anos: A Dona do Pedaço (2019) e a reprise de Fina Estampa (2011, reapresentada em 2020 devido à pandemia de Covid-19) são exemplos.
Ou seja: só o perfil das seis continua praticamente o mesmo que a Globo mapeou há 50 anos, quando instaurou a grade com a tríade de novelas. E olha que ela já fez experimentações com esse público. Em 2008, a emissora colocou na faixa Negócio da China, novela de Miguel Falabella que foi pensada para as sete. A ideia era recuperar a audiência de Ciranda de Pedra (2008), romance de época que não somou bons números.
Claro, muita coisa mudou de lá para cá. Mas também podemos usar como exemplo o remake de Elas por Elas, no ar atualmente. A versão original, exibida em 1982 na faixa das sete, foi um sucesso. Agora, às 18h, o mesmo enredo coleciona números bem abaixo da média –para se ter ideia, a audiência do horário caiu 39% quando comparamos a audiência da primeira semana de dezembro e a do mesmo período do ano passado, quando Mar do Sertão (2022) estava no ar.
Alessandro Marson e Theresa Falcão, autores do remake, até prometerem focar mais o romance do que a comédia para o remake, mas, como é de se perceber, não foi o suficiente.
Isso não significa que chegamos ao fim da “era comédias escrachadas” na faixa das sete. Haja Coração (2016, mas reapresentada em 2020) e Salve-se Quem Puder (2020) funcionaram, e elas também pertencem a essa safra. Mas, segundo o estudioso, é nítido que a grade consolidada pela Globo desde a década de 1970 precisa de mudanças.
Com informações do Notícias da TV