A partir do ano letivo de 2024, a grade curricular do Ensino Médio no estado de São Paulo terá uma carga horária maior nas disciplinas de português e matemática. Os itinerários formativos (conjunto de disciplinas) foram reduzidos de 12 para 3, assim como as aulas de filosofia, artes e robótica.
Entre as novidades estão a inclusão de matérias de educação financeira, redação e leitura, projeto de vida e aceleração para o vestibular. Algumas dessas serão incluídas também para estudantes dos 8º e 9º anos do Ensino Fundamental II. Segundo a Secretaria da Educação de São Paulo, a mudança no currículo pretende diminuir defasagens educacionais e preparar os estudantes para o vestibular.
“O tempo destinado ao aprendizado de língua portuguesa foi ampliado em 60% (considerando as aulas de língua portuguesa e redação e leitura) e de matemática em 70% (considerando as aulas de matemática e educação financeira). Outra demanda atendida da rede foi a reinclusão das aulas de física, geografia e história na 3ª série do Ensino Médio, com duas aulas de cada matéria na última etapa do Ensino Médio”, explica a Secretaria da Educação, em nota.
No novo Ensino Médio que entrará em vigor no próximo ano, os estudantes poderão escolher entre três itinerários formativos: Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Matemática, Linguagens e suas Tecnologias; e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. O estado também quer eliminar as matérias facultativas.
A pasta diz ainda que “as disciplinas de arte, filosofia, sociologia e tecnologia e robótica, que passam a ter duas aulas no Ensino Médio, serão aprimoradas na matriz curricular dos itinerários formativos”. Pelo novo modelo, os estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental II terão aulas semanais de orientação de estudos, como se fosse uma recuperação do material perdido ao longo dos anos. A Secretaria da Educação explica que é um “objetivo de recuperar defasagens”.
As mudanças de agora modificam a grade curricular que estava em vigor desde 2021, desenhada pelo ex-governador João Doria(sem partido).
Como ficam as aulas de matemática e português no novo Ensino Médio de São Paulo
Português
- No primeiro ano: seis aulas semanais, contando com quatro específicas de língua portuguesa e duas de redação e leitura. Antes eram cinco aulas e não havia leitura e redação.
- No segundo ano e terceiro ano: cinco aulas semanais, sendo uma de redação, uma de leitura e outras três de língua portuguesa. Antes eram duas de língua portuguesa e não havia leitura e redação.
Matemática
- No primeiro ano: cinco aulas de matemática e duas de educação financeira. Antes não havia educação financeira e tinha três aulas de matemática.
- No segundo e terceiro ano: serão três aulas de matemática e mais duas de educação financeira. Antes não havia educação financeira.
“A proposta é de que as aulas de educação financeira sejam ministradas de forma a atrelar ensino-aprendizagem com a realidade de cada aluno, de cada comunidade escolar. Temos excelentes iniciativas de escolas que, antes mesmo de inserirmos a educação financeira, têm modificado a relação de suas comunidades com o tema”, afirma o secretário da Educação paulista, Renato Feder.
“Estamos estabelecendo um processo que não se limite a ensinar um estudante a aplicar o seu dinheiro, mas também a não se endividar”.
Secretário da Educação do Estado de São Paulo, Renato Federnone
Outra mudança significativa anunciada pelo governo de São Paulo foi o retorno de duas aulas por semana das matérias de física, geografia e história para os estudantes do último ano do Ensino Médio. A medida foi feita “em resposta à demanda de estudantes e professores da rede”. Até este ano, essas matérias não estavam incluídas na grade curricular dos alunos do terceiro ano.
Especialistas avaliam as mudanças no novo Ensino Médio em São Paulo
Professores e pedagogos reconhecem que o modelo proposto pelo Governo do Estado de São Paulo para 2024 é melhor que o atual, mas ponderam que esta pode não ser a solução para os problemas da educação pública paulista. “O que tínhamos estava péssimo e tinha que mudar. Mas o que podemos oferecer ainda não é bom. Claro que escolhas são sempre difíceis e não dão conta de agradar todas as opiniões, com as diferentes abordagens educacionais possíveis”, opina Marili Vieira, professora de pós-Graduação em Educação da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Na avaliação dela, a formação dos alunos vem defasada desde o Ensino Fundamental. “Há uma demanda grande para que as aulas de português e matemática sejam em uma quantidade maior”, afirma ela.
A professora ressalta a importância do aumento de horas-aula. “As escolas não são suficientes, as salas não são adequadas. Nossos docentes trabalham em muitas escolas, sobra pouco tempo para estudarem, lerem, se aprofundarem, de modo a tornarem as aulas mais dinâmicas, com estratégias interdisciplinares. Portanto, o desenvolvimento didático-pedagógico das aulas não é adequado para que haja aprendizagem. Simplesmente aumentar as aulas não irá garantir melhor formação dos estudantes”, pontua.
Marili sugere que se tenha dois tipos de formação educacional. “A escolha deveria ser entre um ensino clássico e conceitualmente aprofundado para alunos que têm clareza de que continuarão os estudos em nível superior, ou mesmo que não, mas desejam maior aprofundamento. E deveria haver a possibilidade de se realizar uma formação profissional integrada com o ensino médio, que possa favorecer ao jovem a entrada no mercado de trabalho”, propõe.
Priscila Tavares, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pesquisadora em educação, lembra que aumentar aulas de matemática e português é retornar a um modelo anterior. “Precisamos entender por que estamos voltando a esse modelo, por que não conseguimos implantar o novo Ensino Médio como ele tinha sido planejado. Não houve planejamento e nem um período de adaptação para as escolas. Não temos professores com formações adequadas para atender todos esses itinerários informativos. Estava um caos e por isso a decisão de voltar”.
Para ela, a decisão de voltar ao modelo antigo é reconhecer um fracasso. “A proporção de jovens que não estuda nem trabalha vem crescendo no Brasil e parte dessa culpa é do nosso modelo educacional”, aponta. Priscila acrescenta que gostaria de ver o novo Ensino Médio “sendo implantado de forma organizada e planejada, dando conta de uma formação básica robusta para que todos os estudantes tivessem contato com o mínimo do conteúdo necessário, como disciplinas de português e matemática, e que tivessem também vários itinerários informativos atendendo a várias necessidades”, o que, na visão dela, colocaria o estado de São Paulo próximo do que existe de mais moderno em educação no mundo.