O ano letivo nem terminou, mas a preocupação com a escola em 2024 já começou. Levantamento do Grupo Rabbit, consultoria especializada em educação, mostra que as mensalidades escolares vão subir, em média, 9,2% em 2024. É mais que a inflação prevista para este ano, de 4,53%, segundo o Boletim Focus, do Banco Central.
É pressão extra no orçamento das famílias, que tinham sentido algum alívio neste ano, em razão da perda de fôlego da inflação, em particular no preço dos alimentos. O cálculo da consultoria para estimar o reajuste escolar tem como base a consulta a 800 escolas de educação infantil e ensino fundamental e médio de todo o país.
Além disso, leva em conta necessidade de investimentos, reajustes salariais dos professores e de outros funcionários, dívidas e outros custos.
— Hoje, 70% das escolas e instituições de ensino têm um nível acentuado de endividamento. E mesmo esse reajuste acima da inflação não será suficiente para pagar as dívidas que elas fizeram com os bancos para manter as operações durante a pandemia e o período de isolamento social, em que houve fechamento das instituições e aplicação de ensino remoto — avalia Christian Rocha, diretor de conteúdo do Grupo Rabbit.
Levantamento feito pelo GLOBO, com base nas circulares distribuídas a pais e responsáveis de mais de 25 escolas no Rio e em São Paulo, mostra que os reajustes ficaram entre 3,61% e 15%.
Nessa lista, a Oga Mitá, na Tijuca, Zona Norte do Rio, vai promover o aumento mais acentuado. Os pais dizem, porém, que a elevação foi amplamente debatida em reuniões e assembleias com apresentação de planilha de custos. Procurada, a escola não comentou.
No Santo Inácio, um dos colégios mais tradicionais do Rio, os pais questionaram o aumento de 10% e tentaram negociar uma redução. A instituição informou que, após o diálogo, reduziu o reajuste nas mensalidades de alguns anos do ensino fundamental e da 3ª série do ensino médio para 9,1% em 2024.
No caso do 2º ano do ensino fundamental e das 1ª e 2ª séries do ensino médio, o aumento será mais elevado, mas não foi informado. O colégio propôs que o reajuste seja feito de forma parcelada.
‘Decisão bem difícil’
Já o colégio Cruzeiro vai praticar aumento de 4,1%, exceto para a educação infantil, que manterá os valores de 2023. A instituição informou em nota que a planilha de contas é gerada a partir do orçamento previsto ano a ano.
A escola lembrou que é uma instituição sem fins lucrativos e que, em 2021, em razão da pandemia, não houve reajuste. No Santo Agostinho, o aumento chegará a 11,5%. Procurada, não comentou.
Na casa da farmacêutica Edilaura Ferreira, de 42 anos, o custo com educação representa 18% da renda da família. A filha de 5 anos vai para o 1º ano do ensino fundamental em 2024. Ela percorreu dez escolas na Tijuca, Zona Norte do Rio, e ficou assustada com os preços:
— A maioria das escolas que visitamos tem preço muito alto, totalmente fora da nossa realidade. E mesmo as mais acessíveis ficaram acima do que pensamos. Foi uma decisão bem difícil.
Em São Paulo, o Bandeirantes vai aplicar reajuste de 9%. Segundo os pais, a justificativa foi que o que mais pesou para a escola foi aumento de seguro saúde dos professores e funcionários. A escola não comentou o assunto.
O coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da FGV-Ibre, André Braz, diz que os reajustes costumam vir acima da inflação média e configuram aumento real para o consumidor.
— O índice vai orientar as correções nas escolas e configura um aumento real, seguindo o padrão dos últimos anos. Com muitas escolas enxugando custos e com salas mais vazias, o aluno que permanece acaba pagando pelo aluno que saiu, para que a escola possa manter sua qualidade de ensino. As instituições sofreram evasão grande na pandemia e isso tem que ser levado em conta — diz Braz.
Segundo dados do IBGE, em 2020, os cursos regulares tiveram alta de 1,13%, com descontos aplicados na pandemia. Em 2021, a alta foi de 2,64%. No ano passado, o aumento foi de 7,48%.
Entre os fatores que afetam as contas das escolas estão o reajuste salarial de professores, auxiliares de ensino, além do dissídio e a convenção coletiva dos profissionais de educação. Além de investimentos em tecnologia e aluguel, taxas e impostos.
O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Educação Básica do Município do Rio de Janeiro (Sinepe Rio), Pedro Paulo de Bragança, afirma que o índice de reajuste das mensalidades escolares é estabelecido com base na planilha de custos específica de cada instituição de ensino.
O Globo