Uma menina de 7 anos morreu de dengue hemorrágica em Brasília, dois dias após seu aniversário. A mãe de Pietra Isaac, Camila, 37, afirma que houve negligência e que um médico chegou a dizer que a menina estava apenas “dengosa”, antes de a liberar para tratamento em casa.
“O médico disse que ela estava dengosa e que dengue se tratava em casa, com hidratação e repouso”, afirmou Camila Isaac, ao UOL.
A mãe da Pietra relatou que a menina foi levada inicialmente ao hospital particular Daher, no Lago Sul (DF), no dia 14, com sintomas como cores nas costas, falta de apetite e febre chegando a 39,9ºC.
Segundo Camila, o primeiro médico tratou o caso como bronquite, já em estágio final. Após uma troca de plantão, outra equipe passou a examinar Pietra. A mãe suspeitava de que a criança podia estar com dengue, mas a médica prescreveu medicamentos para tratar uma suposta virose e bronquite aguda
Na quarta-feira, dia 15, era o aniversário de Pietra. A mãe comprou um diário com chave para a filha, que apresentou alguma melhora na febre. A menina escreveu no caderno: “A Pietra quer melhorar”.
“Ela estava um pouco mais disposta, mas continuava a reclamar de dores no abdômen. Decidi retornar ao hospital Daher com ela. Ao chegar lá, com a intensidade das dores, Pietra pediu uma cadeira de rodas. Nesse atendimento, outra médica a examinou e afirmou categoricamente que não se tratava de virose, mas sim de dengue, e propôs a internação da Pietra, explicando que o hospital Daher não possuía internação pediátrica. E disse que, enquanto ela recebia soro e fazia os exames ali, eu deveria ir ao HMIB (Hospital Materno Infantil de Brasília), que seria o melhor local para os cuidados necessários”, conta a mãe.
‘Mãezinha, sua filha está dengosa’
Ainda no hospital Daher, um novo médico assumiu a paciente. Camila afirma que ele ignorou os sintomas da filha, chegou a sugerir que ela estava com gases e só depois, com novos exames, foi confirmada a dengue. Ainda assim, a menina foi liberada para ir para casa.
“O médico disse: ‘Mãezinha, sua filha está dengosa duas vezes, dengo e dengue, e dengue se trata em casa'”, relata a mãe.
Ele ainda teria dito que “o remédio é repouso absoluto e hidratação com soro, água de coco e suco”.
Pietra Isaac teve dengue hemorrágica, segundo a mãe Imagem: Arquivo Pessoal
amila e a filha voltaram para casa. Mas após uma hora, Pietra teria começado a gritar de dor. “Ela disse: ‘Mamãe, por que Deus não me escuta e tira a minha dor?'”, afirma Camila.
Desesperada, Camila levou Pietra para o HMIB na madrugada do dia 16. A condição de Pietra piorou, com a menina vomitando sangue e desmaiando. Ainda assim, o atendimento demorou, pois os médicos estavam ocupados com um caso crítico. Lá, o caso também foi tratado como dengue.
Pietra foi submetida a exames, transferida para a semi UTI, mas sua condição continuou a piorar. A equipe médica diagnosticou uma infecção generalizada. Minha filha foi levada às pressas para a UTI, onde recebeu uma série de medicações para estabilizar seus sinais vitais. Pietra foi entubada, tomou um total de 11 medicações para estabilizar a pressão, saturação e coração, mas no dia 17, ela faleceu. (Camila Isaac)
Agora, Camila diz que irá à Justiça contra o hospital particular em que a filha foi levada inicialmente. “Vou lutar por isso, vou salvar outras vidas. A dengue mata e vai continuar matando muita gente. Existe vacina e quase ninguém sabe.”
Nunca na minha vida imaginei passar por isso. Foi um pedaço de mim, estou tentando juntar os meus caquinhos. Lembro quando ela dizia ‘obrigada por cuidar tão bem de mim’ e me abraçava. (Camila Isaac)
Pietra Isaac com a mãe, Camila Imagem: Arquivo Pessoal
Outro lado
Por nota, a Secretaria de Saúde informou que Pietra chegou em estado grave ao HMIB, sendo prontamente atendida. Ela foi direto para a sala amarela, fez procedimentos e exames e foi levada na UTI. A pasta diz que, diante da gravidade do quadro, ela morreu no final da tarde do dia 17.
“A Secretaria de Saúde informa, também, que o comitê de óbito ainda está investigando a causa da morte e possui um prazo para divulgá-la. A pasta esclarece que está dentro deste prazo e deve informar o resultado nos próximos dias”, disse a nota.
O texto também afirmou que toda morte notificada por suspeita de dengue tem o prazo de investigação de até 60 dias. Uma amostra foi enviada para análise.
O UOL entrou em contato com o hospital Daher, mas não obteve resposta. O texto será atualizado caso haja manifestação.
UOL