Conheça as atitudes que devem ser abolidas para evitar infecções alimentares
Há quem diga que a cozinha é o lugar favorito da casa. Não à toa, é ali que a alquimia da culinária acontece e muitas relações são estabelecidas — seja no preparo de alimentos ou na lavação de louças. E, em todos esses momentos, há seres que, assim como nós, adoram a cozinha: os microrganismos.
Bactérias, vírus e fungos podem trazer sérios problemas à saúde. Uma estimativa feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que 600 milhões de pessoas ficam doentes e 420 mil morrem por causa de doenças transmitidas por alimentos todos os anos. Só no Brasil, foram 247,5 mil casos e 195 mortes entre 2000 e 2018, além dos casos que não são notificados.
Como a maior parte das ocorrências acontece em casa, listamos as sete coisas que nunca devem ser feitas na cozinha se você quiser diminuir consideravelmente o risco de diarreia, vômito, desidratação, gastroenterites e demais infecções. As dicas são do biomédico especializado em microbiologia Roberto Figueiredo, também conhecido como Dr. Bactéria.
1 Usar utensílios de madeira
A madeira vem da árvore, que, como todo ser vivo, é composta de células. Essas células formam “buraquinhos” que acumulam bactérias — ainda mais se molhadas, pois o processo de capilaridade “suga” a água e o que mais houver nela.
— Não existe nenhum processo adequado para a higienização da madeira — diz Figueiredo.
O mesmo vale para tábuas e demais utensílios de madeira, como cabos de facas e rolos de massa. O especialista recomenda a substituição por instrumentos de plástico, que garantem uma limpeza mais eficaz, mas que também precisam ser imediatamente trocados quando apresentarem riscos e fissuras.
As tábuas ainda demandam cuidado extra: para evitar “contaminação cruzada”, quando as bactérias de um alimento vão parar em outro, é recomendada a utilização de diferentes peças, de distintas cores, para variadas comidas, como tábua vermelha para carnes e verde para hortaliças e frutas, por exemplo.
2 Lavar carne e frango
O Dr. Bactéria explica que as bactérias se agarram às fibras dos animais, e não é água corrente que vai tirá-las. A lavagem só aumenta a umidade, situação “adorada” pelos microrganismos, agravando risco de contaminação.
— Se você lavar o frango, pode espalhar a bactéria em cerca de 1 a 2 metros do local — alerta.
Assim, um utensílio deixado na pia, por exemplo, pode ser contaminado por gotículas que respingam do frango cru. Lavar o frango ou a carne com limão ou vinagre também não adianta, pois servem apenas para deixar os bichinhos “azedos”. O que mata os microrganismos, de fato, é o cozimento.
3 Comida fora da geladeira
As bactérias se reproduzem facilmente, mas exigem uma temperatura ideal, que fica entre 25°C e 35°C, a depender de cada microrganismo. Por isso, deixar sobras das refeições sobre a pia ou em cima do fogão pode não ser boa ideia.
— A gente cresceu ouvindo falar que não pode colocar coisa quente na geladeira porque estraga o eletrodoméstico, só que ninguém nunca viu estragar — diz o Dr. Bactéria.
A “lenda” podia fazer sentido no passado, quando os refrigeradores eram menos eficientes, mas hoje em dia, é recomendado colocar os alimentos na geladeira ainda quentes.
O especialista recomenda que a comida fique, no máximo, duas horas fora da geladeira após o preparo. E aconselha colocar o alimento em outro recipiente, pois os metais da panela podem passar para a comida.
— O vento frio da geladeira é mais pesado que o ar quente, então ele vai descendo e roubando o calor do alimento. Se cobrir, você vai transferir para a tampa a responsabilidade de refrigerar — explica.
A recomendação é deixar destampado e cobrir após duas horas. Se o cheiro for um problema, bicarbonato de sódio é a solução. Coloque um pouco na primeira prateleira e, uma vez por mês, dê uma mexida: a substância captura os odores. Pó de café, carvão e outras substâncias não são recomendados.
— Se você seguir essas recomendações, vai eliminar mais de 90% da possibilidade de pegar doença alimentar — diz.
No entanto, também há um limite para manter os alimentos dentro do refrigerador. Isso porque o freezer e a geladeira não matam bactérias, apenas a deixam inanimadas e com capacidade de reprodução reduzidas.
4 Usar esponja suja ou velha
A esponja de lavar louça precisa ser higienizada diariamente. E há pelo menos três formas de fazer isso: fervendo por três minutos, deixando de molho por 10 minutos em uma solução de 1 litro de água para 2 colheres de sopa de água sanitária ou umedecendo, envolvendo em papel toalha e colocando 2 minutos no micro-ondas. Mas nenhum método costuma ser seguido. E, se fosse, o objeto deveria durar só uma semana; o pacote com quatro esponjas, duraria um mês.
— O pessoal fala “morre uma esponja na cozinha, nasce outra no banheiro; morre uma no banheiro, nasce outra na varanda” — brinca o Dr. Bactéria. — Mas esponja não faz turismo.
No mercado, há esponjas que não precisam de higienização diária: são as que contêm íons de prata em sua composição. Mas continuam com duração de uma semana.
5 Usar ‘lixinhos de pia’
O lixinho de pia é tradição nas cozinhas brasileiras. Mas não deveria, pois é foco de dejetos que podem respingar e atrair insetos. De acordo com o especialista, o lixo deve ser colocado em um saco no chão, sendo aberto por pedal para evitar contato com as mãos. Uma colher de bicarbonato pode ser adicionada no saco e uma na lata para evitar odores.
— Um paninho tem um milhão de bactérias a mais do que a tampa de um vaso sanitário de um banheiro público — diz o biomédico.
Por isso, ele orienta que a louça deve secar em temperatura ambiente, sem panos de prato.
7 A regra dos ‘5 segundos’
— Se existisse a regra, bactérias nasceriam com um cronômetro na mão, e os outros microrganismos respeitosamente esperariam ela contar — brinca.
Assoprar o alimento, inclusive, piora a situação. Assim, se algo cai no chão, deve-se considerar que está contaminado.
O chão da cozinha pode estar limpo e desodorizado, mas não necessariamente sem bactérias.
— Você não mora no hospital. Sendo assim, não precisa tirar bactéria do chão.