Segundo Grazielle, que tem 49 anos e passou a maior parte da vida no Flamengo sem ser vítima de violência, o agressor é um estudante português da mesma pós-graduação em comunicação. Além de violento, ele teria sido xenófobo e misógino, de acordo com declarações dela ao Portugal Giro.
O motivo que desencadeou a violência foi um trabalho de grupo que reunia o agressor, um aluno estrangeiro, Grazielle e outra brasileira. Desde o começo, conta ela, o português era agressivo só com elas.
Ao chegar atrasada para uma reunião com uma professora na universidade por não conhecer bem o campus, porque emigrou há um mês e meio, Grazielle decidiu esperar outros participantes do grupo para não ter que encontrar sozinha o agressor, que identificou como João.
— Ele chegou com o dedo em riste mandando eu subir para reunião. Respondi que estava para nascer o homem que faria isso comigo. Ele começou a me xingar. Depois, estava sentada em um banco na porta da sala, com celular na mão e guarda-chuva na outra, e ele ficou me olhando com tom ameaçador — disse ela.
Diante da insistência do agressor em ameaçá-la, ela respondeu que poderia continuar a olhar porque não tinha medo.
— Foi quando ele começou a me xingar. Eu levantei e pedi para ele repetir se fosse homem. Nem terminei a frase e ele me deu um soco no lado direito do rosto, ferindo minha boca. Caí no chão e ele me chutou, diante do corredor cheio de gente e ninguém fez nada. E ele ainda disse: “O que você faz estudando no meu país? Deve pagar a mensalidade com o c.”, como se eu fosse prostituta. E falou para eu voltar para o Brasil — contou.
Ela diz que conseguiu levantar sozinha e foi socorrida pela professora portuguesa Sandra Marinho, que pediu para chamarem ambulância e polícia. Um segurança da universidade, segundo Grazielle, questionou o que ela teria dito para motivar o agressor. A professora pediu que ele se retirasse e alertou, segundo Grazielle, que nada justificava a agressão.
O agressor teria dito, ainda no campus, que agiu para se defender, porque Grazielle teria corrido atrás dele com o guarda-chuva e temia que ela quebrasse seus óculos. Foi o que João disse em mensagem enviada ao Portugal Giro. Ele alega que “duas pessoas que não gostaram que eu pedisse que se respeitassem horas combinadas várias vezes, decidiram adotar uma postura de confrontação constante e micro agressões para comigo”.
— Nisto ouço: portuga de merda, portuga babaca de merda, seu idiota e outros insultos xenófobos do gênero. (…) Voltei para trás e pela primeira vez me defendi. Disse: olha, afinal o teu problema pessoal comigo é por quê? Porque sou homem ou porque sou português? (…) Se Portugal é assim tão mau, os portugueses são tão xenófobos e misóginos, por que é que vieste e por que é que não voltas para o Brasil? — relatou João em um trecho da mensagem, que continua:
— (…) A pessoa que me agrediu estava a correr na minha direção com o guarda-chuva no ar, apontado à minha cabeça. Eu uso óculos. Ao rodar, dei um pontapé de lado no abdômen com o objetivo de manter a distância e desviar o guarda-chuva que estava a ser brandido em direção à minha cabeça. Consegui desviar o mesmo da cabeça e o guarda chuva atingiu o corpo. Fiquei parado. A pessoa que me agrediu tentou novamente e quando levantou o guarda-chuva com esse intuito eu dei um murro direto na boca. Não foi nenhum cruzado para não colocar força desnecessária em locais que pudessem constituir lesões mais complicadas, nomeadamente um maxilar deslocado.
Grazielle prestou queixa e irá processar o agressor, segundo informou seu advogado, Bruno Gutman.
— Vamos prosseguir com a queixa-crime para o Ministério Público, além de um processo indenizatório pelos danos. O reitor da universidade já está ciente e o aluno será suspenso imediatamente, enquanto o caso é investigado. E ele poderá ser expulso. É importante destacar que a universidade, desde o início, tem se demonstrado completamente interessada no caso e não admite qualquer tipo de agressão, muito menos em razão de nacionalidade — disse Gutman ao Portugal Giro.
A Universidade do Minho abriu processo interno para investigar o caso.