O vice-presidente do PT (Partido dos Trabalhadores), deputado federal Washington Quaquá (PT-RJ), afirmou ao Poder360 que o deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP) é o “melhor candidato para perder” a disputa pela Prefeitura de São Paulo.
“Eu sou vice-presidente nacional. Falo em meu nome, não falo pelo nome do partido. Já está dado no partido que o partido vai apoiar o Boulos. Eu, pessoalmente, acho que é um erro, que o Boulos é o melhor candidato para perder”, disse.
Segundo o congressista, é necessário um representante “mais amplo”, que acene ao “centro” para vencer as eleições municipais de 2024 na capital paulista. Ele mencionou o nome do ex-ministro Márcio França (PSB) como uma possibilidade.
“Teria que ter um candidato mais amplo. Poderia ser até de outro partido […] Eu acho a candidatura do Boulos estreita para ganhar uma eleição em São Paulo. Mas é uma decisão que o PT tomou, nós vamos respeitar”, disse.
Em agosto, os petistas oficializaram que apoiarão Boulos na disputa pela cidade. Com isso, o PT deixará de lançar um candidato à prefeitura da capital paulista pela 1ª vez desde sua fundação, na década de 1980.
O partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já comandou São Paulo 3 vezes:
- Fernando Haddad (2013-2017);
- Marta Suplicy (2001-2005);
- Luiza Erundina (1989-1993).
Os 3 disputaram a reeleição. Nenhum deles foi reeleito.
A opinião de Quaquá não é unanimidade dentro do partido. Políticos envolvidos com as negociações em São Paulo dizem que a relação com Boulos é “muito boa”.
“A candidatura do Boulos depende muito do PT. O PT tem uma influência nas periferias que é muito maior que a do Psol. E ganhando o governo, temos muita experiência em gestão. A relação [do PT com Boulos] é muito boa. Ele entende a importância do PT”, disse o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) ao Poder360.
PT SE PREPARA PARA 2024
O objetivo principal do PT para o pleito do próximo ano é eleger prefeitos em cidades com mais de 100 mil eleitores, segundo Quaquá. O partido ainda não estabeleceu uma meta para o ano que vem, mas pretende manter as prefeituras conquistadas em 2020 e vencer resistências em locais historicamente conservadores.
“A gente tem um interior do Estado [em São Paulo] mais à direita do que a grande São Paulo. Mas há regiões onde o PT ganhou. Então o interior do Estado é heterogêneo, não é uma coisa única. Avaliamos que temos condições de crescer, especialmente em Campinas, onde achamos que teremos um sucesso maior. Temos bons candidatos”, avaliou o deputado Zarattini.
No pleito de 2022, Lula foi derrotado por Bolsonaro no Estado de São Paulo. O ex-presidente teve 55,2% dos votos contra 44,8% do petista. A participação ativa de Lula nas campanhas, no entanto, deve ser a “carta na manga” para tentar virar votos em 2024.
“A gente espera um crescimento bem razoável porque nós somos o partido, hoje, do governo. E isso tem um poder de atração”, disse o vice-presidente nacional do partido, deputado Washington Quaquá.
Em 2020, o partido de Lula conseguiu eleger só 183 prefeitos em todo o país. Perdeu o comando de 71 prefeituras no comparativo com a eleição anterior, de 2016.
Em 2012, os petistas chegaram a comandar 638 cidades –em seu recorde histórico. Depois daquele ano, entrou em derrocada com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.
No chamado G96, os petistas conseguiram sair dos grotões e assumir o comando de 4 prefeituras nas últimas eleições municipais. O partido, no entanto, não elegeu ninguém em uma capital pela 1ª vez desde a redemocratização.
O grupo G96 reúne as mais importantes cidades do país: as 26 capitais onde são realizadas eleições municipais + aquelas com número de eleitores superior a 200 mil.
No auge, em 2008, o PT comandou 25 cidades dos grandes centros do país. Caiu sucessivamente desde então.
ALIADOS
Para 2024, Washington Quaquá citou a existência de “dificuldades” na região Sudeste e estimou “boas disputas” no Nordeste –região reduto petista.
“Tem uma série de cidades. Capitais, que a gente vai disputando. E as grandes cidades, como Guarulhos, em São Paulo, como São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Nós vamos estar de olho nessas grandes cidades”, disse.
O vice-presidente do PT também afirmou que Lula deve participar da campanha de candidatos do partido e de aliados “como sempre”, inclusive, com a gravação de propaganda eleitoral para a TV e para o rádio.
“Ele é um quadro nosso, do PT e, embora seja presidente da República e tenha que ter relações com todo mundo, nas eleições, é o momento que ele vai aparecer […] Sempre a posição dele tem muito peso numa eleição municipal”, disse.
Ao ser questionado sobre os acordos do PT com outros partidos, Quaquá não descartou alianças e disse não ser possível “uniformizar” os partidos no contexto político brasileiro. Citou como “1º elo” os partidos historicamente aliados à legenda, como PC do B (Partido Comunista do Brasil) e PDT (Partido Democrático Trabalhista), e um “outro elo”, com aqueles que apoiaram Lula no 1º turno em 2022.
“Nós, no PT, entramos trabalhando com a perspectiva seguinte: aqueles que não são bolsonaristas. Você tem um núcleo bolsonarista que nós não podemos fazer aliança, nós temos que isolar. Os que não são bolsonaristas, acho que nós temos condições, inclusive, de fazer aliança”, disse.
Em resolução publicada pelo Diretório Nacional do PT, em agosto, além de defender um foco nos grandes centros, o partido também afirmou ser preciso ter um “cuidado especial” com os pequenos municípios para buscar a retomada ou a construção de bancadas.
“Para alcançar resultados satisfatórios e o crescimento do partido, devemos priorizar a reeleição de nosso projeto nas cidades que atualmente governamos, bem como a reeleição de nossas atuais bancadas de vereadores e vereadoras, assim como investir prioritariamente nas cidades com maior densidade político-eleitoral, destacando-se aquelas com maiores chances de vitória”, afirmou o documento.
PAUTAS PRIORITÁRIAS
Quaquá afirmou que, além de defender o projeto do governo Lula, o partido discute a formulação de uma “pauta municipal unificada” para 2024.
“A gente tem que ressalvar que essa é uma eleição que tem dimensão nacional, mas tem também necessariamente uma dimensão local. O PT vai apresentar uma cesta de projetos unificados à nível nacional”, disse.
O vice-presidente do PT elencou as seguintes pautas como prioritárias:
- tarifa zero para transporte público;
- modelo de economia solidária;
- empreendedorismo popular;
- moeda social;
- bancos comunitários.
Poder 360