Até o café da manhã do presidente Lula com jornalistas em Brasília nesta sexta-feira (27), o time liderado por Fernando Haddad vinha comemorando pequenos avanços na agenda de reformas e se fortalecendo para batalhas seguintes no Congresso Nacional.
Segundo relatos feitos à CNN por fontes próximas à equipe econômica, o segundo semestre caminhava com aprovações importantes que podem garantir arrecadação maior ao governo federal em 2024.
Ao dizer que a meta fiscal no ano que vem não precisa ser zero e que não quer ser obrigado a fazer cortes bilionários, o presidente da República desarticulou a força-tarefa que vinha sendo tocada pelo ministro Fernando Haddad e seus auxiliares.
Uma fonte que acompanha trabalho do governo no Congresso disse à CNN que o compromisso assumido por Haddad foi ousado, mas por isso mesmo precisava ser defendido por todo governo para poder avançar.
Mais cedo, durante apresentação do resultado das contas do governo central, o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, ponderou que nem tudo são flores para a agenda econômica.
Ceron citou a aprovação da desoneração da folha de pagamentos e a transferência bilionária feita a estados e municípios para compensar perdas de arrecadação como fator preocupante para o resultado primário da União. O secretário avaliou que a piora do cenário externo não muda a busca pelo déficit zero no ano que vem.
Depois do susto com as declarações do presidente, o clima entre membros da equipe de Haddad era de desânimo. Eles já estavam acostumados a receber fogo amigo de ministros e de lideranças do PT, mas contavam com apoio que Lula tinha dado à Haddad para decidir a meta fiscal, a meta de inflação, entre outros embates do ministro da economia.
Havia até um certo clima de alívio pelos resultados recentes da atividade econômica, do mercado de trabalho, da desinflação e da expectativa pela queda dos juros. Até o encontro de Lula com Roberto Campos Neto, presidente do BC, foi considerado uma vitória da gestão de Fernando Haddad.
A unidade na condução da agenda econômica contava com aprovação do mercado financeiro, que passou a dar mais credibilidade ao ministro.
Mesmo sem acreditar no cumprimento da meta fiscal e com a pressão por mais gastos públicos, executivos e economistas deram benefício da dúvida ao aval de Lula. A melhora dos ativos domésticos, com descolamento da volatilidade negativa do exterior, corroborava essa percepção.
Durante o café da manhã com jornalistas em Brasília, Lula acusou o mercado financeiro de ser “ganancioso demais” ao cobrar a meta fiscal do governo, sabendo que “ela não será cumprida”.
A reação do mercado foi imediata e intensa logo depois que as declarações do petista foram publicadas. Bolsa de valores caiu, dólar subiu e os juros futuros negociados na B3 dispararam em toda extensão da curva. Este último movimento é o mais preocupante porque reflete uma piora na percepção de risco sobre a condução da política monetária pelo Banco Central diante de um descontrole maior das contas públicas.
Lula mirou no mercado e acertou em Haddad
Para Carlos Kawall, sócio-fundador da Oriz Partners e ex-secretário do Tesouro Nacional, o presidente mira no mercado, mas acerta seu próprio ministro, enfraquecendo e isolando Fernando Haddad. O economista ressalta a diferença dos momentos de bravatas de Lula. No inicio do ano, quando o petista atacava o BC e a política fiscal, o mundo estava caminhando para a normalidade econômica.
“Não estamos mais no momento de falar bobagem. Agora tem uma crise lá fora, no início do ano, quando Lula fazia bravatas contra Campos Neto e o fiscal, não tínhamos esse quadro externo. O presidente acha que pode retomar uma retórica beligerante, mas o que vemos é que Lula atira no mercado e acerta em Haddad”, disse Kawall à CNN.
Para Matheus Pizzani, economista da CM Capital, mesmo com todo ruído provocado pelo presidente da República não se deve tirar atenção do que diz a equipe econômica de Fernando Haddad. “Eles que estão fazendo a gestão, colocando as coisas em prática. E é importante seguir colocando peso no que disserem os integrantes da equipe econômica”, disse.
Créditos: CNN.