Lideranças evangélicas atuaram para cacifar conservadores nos órgãos das duas maiores cidades do país
Entre os apadrinhados de Malafaia está o pastor Joel Bitencourt Serra, eleito para o conselho da Barra da Tijuca. Ela recebeu pedidos de voto expresso no púlpito na igreja Batista Atitude. A iniciativa partiu do líder Josué Valandro Jr e foi noticiada pelo portal g1.
A mobilização de líderes evangélicos é alvo de denúncias do Ministério dos Direitos Humanos e atrasou, em algumas cidades, o resultado das eleições. Ao GLOBO, Malafaia afirmou não ter nomeado expressamente nenhum de seus candidatos.
— Os principais responsáveis por essa eleição são os ativistas de esquerda que passaram o mês perseguindo evangélicos, como se nós não pudéssemos participar de uma eleição. Eu apenas orientei todos a votarem em pessoas de princípios e valores, mas os militantes conseguiram ser nossos cabos eleitorais. Eu tinha dois e agora tenho 12 — comemorou Silas Malafaia.
Considerando o estado do Rio, Malafaia elegeu dez conselheiros titulares e dois suplentes. A prima dele, Priscila Malafaia, conquistou uma vaga em São João de Meriti, na Região Metropolitana.
No Conselho Tutelar de Ramos, na Zona Norte, Leandro Eugênio obteve 1,2 mil votos com o aval de Malafaia. Em suas redes sociais, o agora conselheiro coleciona registros ao lado do pastor e do deputado federal e ex-presidente da bancada evangélica, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). Nas publicações, não mede elogios ao seu líder.
— Homem de fé, que vive o que prega, que tem coração generoso, tem sido um verdadeiro exemplo para nossa geração. É uma honra ser sua ovelha. Seu caráter é admirável — disse Leandro Eugênio sobre Malafaia.
Já a Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo, emplacou ao menos cinco conselheiros em cada capital. Uma delas é a obreira Cleide Rosa Lima Ferraz, que faz trabalhos voluntários na instituição. Por esses feitos, a fiel já recebeu uma moção de reconhecimento do deputado federal Jorge Braz (União Brasil-RJ).
Em 2016, ainda enquanto vereador, Braz escreveu: “Obreiros choram com os que choram e se alegram com os que encontram uma nova perspectiva de vida em Cristo. Eles cuidam, compartilham, adiam projetos pessoais e se realizam com o sonho do outro. (…)Desta forma, a Cidade do Rio de Janeiro, representada por seu Poder Legislativo, verdadeiro signatário dos anseios democráticos da sua sociedade, em reconhecimento aos seus valiosos préstimos, a homenageia”.
Já em São Paulo, dois dos conselheiros eleitos — Lucas Fernando Reis Silva e Brenda Maria de Lemos Silva — foram tema de reportagens na Folha Universal. O motivo foi que abandonaram uma vida sem fé para se juntar à igreja. As matérias relatam como a entrada na religião teria salvado o casamento de Lucas e tirado Brenda dos “pecados da carne”.
Apesar do número maior de eleitos por parte da direita, três dos cinco candidatos mais votados no município são militantes de esquerda. Filiada ao PSOL, Paty Félix se tornou a conselheira mais votada da história, ao ser escolhida por quase seis mil eleitores. O segundo colocado, Leonardo Judice Amatuzzi, e a quarta, Milena Salgueiro, também são associados a partidos da base do governo Lula — PSOL e PT, respectivamente.
Na capital paulista, há casos similares: Romenia Freitas, que trabalhará na unidade de Bela Vista, é integrante do Movimento Sem Teto do Centro (MSTC), organização que atua em ocupações no Centro da cidade.