A investigação da Polícia Civil de Roraima que culminou na prisão do ex-senador Telmário Mota, na noite dessa segunda-feira (30/10), em Goiás, possui uma série de elementos quem apontam para a suspeita de que o político estaria envolvido na morte de Antônia Araújo Sousa, de 52 anos, mãe de uma de suas filhas.
Um dos pontos é o depoimento de uma mulher que informou que era assessora do ex-senador. Trata-se de Cleidiane Gomes Costa, de 39 anos, que ocupou cargo de assistente parlamentar júnior no gabinete de Telmário até o ano passado. No último dia 10, Cleidiane contou à polícia que, menos de dois meses antes do crime, o político pediu para que ela conseguisse uma arma.
Cleidiane informou que, então, comprou um revólver (calibre 38). Segundo ela, Telmário ainda pediu para que ela monitorasse a casa da vítima. Antônia foi morta com um tiro na cabeça no dia 29 de setembro na porta de sua residência, e a polícia suspeita de que Telmário seja o mandante.
A mulher disse não se recordar quando exatamente ele pediu para adquirir o armamento, mas afirmou à polícia que foi “de agosto para cá”. A arma foi entregue ao ex-parlamentar na fazenda dele, chamada Caçada Real, conforme depoimento.
Telmário e Antônia tiveram uma filha, hoje com 18 anos. No ano passado, a adolescente, então com 17 anos, acusou o pai de estupro. A mãe era uma importante testemunha do processo que tramita no Judiciário, na avaliação do delegado João Evangelista, que investiga o homicídio.
Antônia foi executada três dias antes da audiência na qual iria prestar depoimento contra o ex-senador. Ela havia acabado de retornar da padaria, e estava saindo para deixar o atual marido no trabalho.
À polícia, Cleidiane afirmou que começou a monitorar a casa da vítima mais ou menos em agosto. Segundo ela, desde então tirava fotos da filha de Telmário e monitorava Antônia pela manhã, quando ela saía, e à tarde, quando ela retornava. Cleidiane afirmou que passava informações sobre o monitoramento ao senador com frequência, por telefone.
A assessora contou aos policiais em depoimento trabalhava com o ex-senador há 16 anos, e que acompanhou a vida política dele durante todo esse período.
O filho de Cleidiane, um jovem de 18 anos, também prestou depoimento à polícia e foi além do que havia sido relatado pela mãe. O estudante afirmou que, no dia 27 de setembro, dois dias antes de Antônia ser executada, ele viu a mãe pegar uma arma no quarto, ocasião em que pediu para ele retirar o carregador do armamento.
Depoimento de assessora/Reprodução/PC
No momento, a então assessora do ex-senador falou para que o filho não pegasse com a mão, e ele lembra de ter usado um pano para manusear a arma. Segundo o jovem, a mulher estava usando luvas descartáveis, e comentou que o político havia pedido para que ela levasse apenas nove munições.
A Polícia Civil de Roraima também prendeu na segunda-feira o suspeito de ser o executor do homicídio, Leandro Luz da Conceição. Outro suspeito de envolvimento no crime é Harrison Nei Correa Mota, sobrinho do ex-senador e conhecido como “Ney Mentira”. Ele continua foragido, assim como Telmário.
Na investigação, os policiais identificaram Nei como o responsável por comprar a motocicleta que teria sido usada no crime. O antigo dono da moto disse em depoimento que a vendeu por R$ 4 mil e que Nei pagou em dinheiro, em notas de R$ 100.
A investigação apontou que a motocicleta roxa, com listras pretas no tanque, foi guardada na casa da então assessora do ex-senador. Cleidiane Gomes afirmou que buscou a motocicleta com Nei e a guardou em casa até um dia antes do homicídio, ocasião em que foi entregue a uma outra pessoa que ela não conhece, a pedido do sobrinho de Telmário.
Aos policiais, ela afirmou que depois da morte de Antônia, ficou preocupada ao ver imagens de uma moto usada no crime muito semelhante à moto que esteve em sua residência.
Filho de Cleidiane, um estudante de 18 anos confirmou à polícia ter visto a motocicleta em casa. Ele disse, ainda, que no dia em que foi prestar depoimento, o ex-senador foi em sua casa e o orientou a dizer que não havia visto moto alguma em sua casam, e que se sentiu ameaçado por Telmário.
O estupro
Filha de Telmário e de Antônia, uma jovem de 18 anos denunciou em agosto do ano passado que o pai havia tocado as suas partes íntimas e insistentemente tentado retirar a sua roupa dentro do carro onde estavam. Os dois haviam saído juntos para comemorar o Dia dos Pais. A adolescente, então com 17 anos, relatou o ocorrido no mesmo dia e foi incentivada pela mãe a seguir com a denúncia.
O caso foi publicado pelo G1 ainda em agosto. O portal entrevistou a vítima com autorização da mãe dias depois de o caso ter sido registrado na polícia. A denúncia virou processo judicial, e continua tramitando. Em depoimento à polícia após a morte da mãe, a adolescente disse que não queria denunciar o pai por medo do que ele poderia fazer.
À polícia, o viúvo de Antônia relatou que após o registro do caso de estupro, chegou a recebeu uma ligação de Telmário dizendo que estava muito chateado com Antônia, porque a situação estaria atrapalhando “sua vida política”. O ex-senador disputou a reeleição no ano passado, mas foi derrotado por Dr. Hiran (PP).
O outro lado
Advogado de Telmário no caso, Ednaldo Gomes Vidal disse que seu cliente nega as acusações. “Quero saber quais foram esses indícios, porque se tiver coisa ilegal nós vamos derrubar”, afirmou.
O advogado ainda levantou dúvidas sobre o depoimento da assessora. “Ela estava lá dentro da delegacia, ninguém nem sabe se ela disse aquilo lá mesmo. Ninguém nem sabe o que fizeram [com ela]. O senador é político. O estado de Roraima, quem conhece um pouco, sabe”, afirmou, sem dar mais explicações.
Ednaldo chamou o pedido de prisão de “medida drástica” e “absurda”, e disse que não poderia comentar mais detalhes por ainda não ter completo conhecimento da investigação.
Metrópoles