A trama do espião russo Sergey Cherkasov, preso e condenado no Brasil por usar identidade brasileira falsa, tem um novo e interessante capítulo.
Alvo de uma investigação da Polícia Federal que mira a rede encarregada de dar suporte a Cherkasov em solo brasileiro, um cidadão russo que trabalhava oficialmente na embaixada da Rússia deixou o país às pressas logo após ser intimado para prestar depoimento. As informações são da coluna de Rodrigo Rangel, pelo portal Metrópoles.
Ele foi embora para a Rússia às vésperas da data em que seria interrogado pelos policiais federais responsáveis pela investigação.
Visto diplomático
O russo tinha visto diplomático para atuar no Brasil e havia entrado na mira da PF depois de os investigadores descobrirem que ele era um dos responsáveis por ajudar Cherkasov financeiramente no período em que ele viveu no Brasil sob identidade falsa.
Em tese, tratava-se de um funcionário comum da embaixada. Agora, com a fuga repentina, aparentemente destinada a evitar o depoimento e os apuros que dele poderiam vir, surgiu a suspeita de que ele poderia ser mais um agente trabalhando clandestinamente no Brasil para os serviços secretos russos.
Embaixada russa no alvo
A primeira investigação da PF envolvendo Cherkasov mirou o uso de documentos falsos. Ele foi indiciado e, depois, acabou condenado pela Justiça Federal. O espião cumpre pena em uma ala especial do presídio federal de segurança máxima de Brasília.
Como desdobramento do primeiro inquérito, a PF abriu um segundo, desta vez para apurar indícios de lavagem de dinheiro. Além do próprio Cherkasov, tornaram-se alvos dessa nova investigação integrantes de uma rede que dava assistência ao espião enquanto ele estava em franca operação.
Foi justamente ao avançar sobre essa rede que os policiais federais descobriram que dela fazima parte funcionários da própria embaixada russa em Brasília.
Esse novo inquérito está prestes a ser concluído e deverá complicar ainda mais a situação jurídica de Cherkasov, que deve ser mais uma vez indiciado, assim como os integrantes do grupo que lhe dava proteção — incluindo o russo que foi embora pouco antes de ser interrogado.
Dois pedidos de extradição
O governo de Vladimir Putin pediu ao Brasil a extradição de Sergey Cherkasov, alegando que ele é um criminoso condenado na Rússia por tráfico de drogas.
Até pelas informações coletadas na investigação da PF, as autoridades brasileiras sabem tratar-se de um argumento falso, usado apenas para levar o espião de volta para casa — essa, aliás, é uma tática comum dos serviços secretos russos quando seus agentes são flagrados e detidos em ação no exterior.
O processo de extradição tramita no Supremo Tribunal Federal, com o ministro Edson Fachin, que decidiu esperar a conclusão das novas investigações antes de dar o veredicto final sobre o pedido do governo russo.
Lula dará palavra final
Ainda que Fachin decida a favor da extradição, pela legislação brasileira a palavra final sobre enviá-lo ou não para Moscou cabe ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No período em que estava usando a identidade brasileira falsa, Cherkasov viajou aos Estados Unidos, onde fez um curso na Universidade Johns Hopkins, uma das mais prestigiosas do país. Por isso, ele se tornou alvo de uma investigação também em solo americano.
O governo Joe Biden também chegou a solicitar a extradição do espião ao Brasil, mas, como a coluna informou em junho, o pedido foi rejeitado sumariamente pelo Ministério da Justiça de Lula.
Metrópoles/Rodrigo Rangel