Reeleito em fevereiro com o apoio do Palácio do Planalto, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), tem visto ruir a aliança que formou em torno de sua candidatura e pode enfrentar um racha entre partidos da base do governo na disputa por sua sucessão. Mesmo faltando um ano e meio para a eleição do comando da Casa, MDB e PSD têm se movimentado para lançar nomes próprios, contrariando a intenção do senador mineiro de devolver a cadeira a Davi Alcolumbre (União-AP), seu antecessor na cadeira.
Pacheco enfrenta dificuldade até mesmo em convencer seu partido a apoiar Alcolumbre, uma espécie de “eminência parda” do presidente da Casa e tido nos bastidores como um substituto natural do atual ocupante. Após o presidente do Senado ser ventilado como o nome da terceira via em 2022, aliados avaliam que está em baixa. Embora interlocutores afirmem que Pacheco é um nome na corrida ao governo de Minas Gerais, ele pode encontrar dificuldades até mesmo na tentativa de se reeleger ao Senado, uma vez que já foi hostilizado por bolsonaristas e é considerado um conservador pela esquerda. Há alguns meses, também chegou a ser especulado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), mas as discussões esfriaram.
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, deseja manter o protagonismo de seu partido no Senado e chegou a convidar Alcolumbre a deixar o União para se filiar à legenda, mas não houve acordo.
Com 15 senadores, a maior bancada da Casa, o PSD vê uma disputa interna para saber quem poderia ser o candidato. Uma das possibilidades citadas por Kassab é o senador Otto Alencar (PSD-BA), atual líder do partido e com bom trânsito tanto na base quanto na oposição. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) também já lançou seu nome, com a bandeira de se tonar a primeira mulher a ocupar o cargo, mas afirma que depende do aval da sigla.
— É uma discussão interna, que eles vão saber conduzir, com Rodrigo (Pacheco) e Otto liderando e ouvindo todos — disse Kassab ao GLOBO.
Já no MDB, o senador Renan Calheiros (AL), que presidiu a Casa em quatro ocasiões, não esconde a intenção de voltar ao posto. Ele tem dito nos bastidores que o seu partido precisa retomar o comando do Senado e defende uma discussão interna ainda neste ano. Eduardo Braga (MDB-AM) também está entre os possíveis candidatos.
Apoio do governo
Dentro desse cenário, o apoio da bancada do PT e, mais do que isso, da estrutura do governo, pode ser fundamental para definir a disputa. Petistas dizem que o cenário está aberto e não fecham as portas para nenhuma candidatura dentro da base. MDB, PSD e União Brasil têm proximidade com o Planalto no Senado. Por enquanto, Renan e Alcolumbre são os que mais têm se movimentado.
Renan tem discutido cenários com Kassab, de quem é próximo. A intenção deles é amarrar um acordo que envolva todos os partidos da base do governo, o que incluiria Renan e Alcolumbre no mesmo grupo, cenário que é visto como incerto no momento.
Enquanto as negociações caminham, as legendas da base tentam atrair mais senadores para engordar suas bancadas e ter a preferência na hora de escolher um nome caso haja um consenso sobre a necessidade de não rachar a base.
O MDB, por exemplo, já conseguiu filiar Alessandro Vieira e também tenta atrair o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues, para ter o argumento de ser a maior bancada. Da mesma forma, o PSD, o maior hoje, filiou Mara Gabrilli (SP) e Eliziane Gama (MA).
Na direção oposta, o União perdeu Rodrigo Cunha (AL) e Soraya Thronicke (MS). Apesar disso, interlocutores de Alcolumbre descartam que ele saia do partido. Dirigentes da legenda têm tratado a sua candidatura como prioridade e, ainda que tenham como meta comandar as duas casas legislativas, a avaliação é que o senador tem mais chances de conquistar o Senado do que o deputado Elmar Nascimento (União-BA) de suceder Arthur Lira (PP-AL).
Além do apoio do governo, um bloco de aproximadamente 30 senadores que hoje fazem parte da oposição também é cobiçado pelos possíveis candidatos ao comando do Senado.
Mesmo aliado ao governo, Alcolumbre, que é presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), tem feito acenos ao grupo, como ao deixar correr a discussão sobre o marco temporal e escolher o senador de oposição Marcos Rogério (PL-RO) para relatar o texto. O governo é contra o tema.
Oposição na mira
O movimento visa atrair um grupo de senadores descontentes com a estratégia adotada pela oposição na eleição passada, quando lançaram Rogério Marinho (PL-RN) e, além de sair derrotada, ficou sem lugar na Mesa Diretora. Agora, o nome de Davi Alcolumbre é defendido até mesmo por aliados de Jair Bolsonaro.
— Davi é muito forte e tenho muita simpatia em apoiá-lo — diz o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, partido que tem seis parlamentares na Casa.
O ex-ministro de Bolsonaro se reuniu com o secretário-geral do União, ACM Neto, na semana passada, para discutir o apoio do partido à candidatura de Alcolumbre em 2025.
O movimento, porém, não é consenso no grupo. Aliados do ex-presidente pretendem mais uma vez desafiar o candidato governista lançando um nome de oposição. O mais citado para 2025 é o da senadora Tereza Cristina (PP-MS), embora ela mesma ainda não admita essa possibilidade.
— É tudo apenas especulação — afirmou a senadora.
Tereza é ex-ministra da Agricultura de Jair Bolsonaro e uma das principais lideranças da bancada ruralista no Congresso. Seu partido, apesar de se manter majoritariamente como oposição no Senado, agora faz parte do governo Lula, com o deputado André Fufuca no Ministério do Esporte.
— Vamos ter de apostar em uma figura feminina e esse nome é o de Tereza Cristina. Ela com certeza agregaria inclusive governistas—afirmou Damares Alves (Republicanos-DF).
Créditos: Globo.