O SBT planeja processar a jornalista Rachel Sheherazade após ela afirmar que teria sido advertida pela emissora por motivos religiosos e políticos. As declarações aconteceram durante o reality show A Fazenda 15, da TV Record.
A emissora de Silvio Santos diz, por meio de nota, que seu departamento jurídico tomará as medidas cabíveis e afirma que as acusações se tratam de inverdades. A empresa diz que ainda não há uma data para a ação ser ajuizada.
Procurada pela reportagem, a assessoria da jornalista não se manifestou até o momento desta publicação.
Na madrugada desta sexta-feira, Sheherazade disse ter levado uma advertência da direção da emissora por motivos religiosos. “Fiz um comentário sobre a questão entre Israel e Palestina, o conflito árabe-israelense. E eu levei um ‘chamada’ porque o dono da emissora [Silvio Santos] é judeu”, disse ela.
“Dei uma visão meio que pró-Palestina. Não era pró-Palestina, mas, naquele momento, era uma situação em que os palestinos estavam sendo as vítimas do conflito, e eu levei a minha opinião”, afirmou.
A jornalista ainda disse que tinha consciência de que poderia ter sido demitida devido a seus comentários, mas não deixou de dizer o que quisesse. “Chamaram a minha atenção porque o dono da emissora era judeu e eu não poderia dar aquela opinião, mas eu dei. Me coloquei na berlinda mesmo.”
A jornalista ainda disse que sofria pressão do governo Jair Bolsonaro, tanto pelo ex-presidente como por Fabio Faria, então ministro das Comunicações e genro de Silvio, e por Fabio Wajngarten, então secretário das Comunicações.
Os três teriam contato direto com o SBT para orientar coberturas. “O presidente da República liga reclamando”, disse. “O secretário de comunicação do governo passado ligava para emissora para dizer o que iria ou não ao ar.”
Em conversas no programa, Sheherazade ainda disse que Luciano Hang, dono da Havan, foi um dos responsáveis por sua demissão. “Só tinha patrocínio dele. E ele pediu”, disse ela.
Ela contou ter sido escoltada pela Polícia Militar e pela Polícia Rodoviária Federal após seu desligamento, ao sair da emissora. “A gente vive com a corda no pescoço, né?”
Sheherazade trabalhou como âncora na emissora de Silvio Santos de 2011 a 2020. Ela entrou na Justiça alegando ter um vínculo celetista com a empresa, mesmo tendo sido contratada como pessoa jurídica.
No ano passado, ela ganhou a ação contra a emissora. Na sentença, o juiz diz que a jornalista era contratada como pessoa jurídica, mas que isso servia como maneira de driblar a contratação via CLT. A decisão foi em primeira instância e ainda cabe recurso.
Folha de SP