Pela primeira vez na sua história, a Nasa (agência espacial dos Estados Unidos) conseguiu trazer neste domingo (24) para a Terra uma amostra de um asteroide, que os cientistas esperam que forneça informações únicas sobre a origem da vida e a formação do sistema solar há cerca de 4,5 bilhões de anos.
Em meio a uma grande expectativa, a cápsula da Nasa contendo as amostras do asteroide Bennu pousou às 8h52 (horário local, 11h52 de Brasília) no deserto de Utah, nos Estados Unidos, encerrando uma viagem de sete anos.
Esta é a primeira vez que a agência espacial americana consegue trazer amostras de um asteroide para a Terra. A Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA) havia conseguido recuperar restos de asteroides em 2020, mas foi uma quantidade mínima, não mais do que uma colher de chá de poeira e rochas.
A missão da Nasa, batizada de “Osiris-Rex”, espera ter recolhido 250 gramas de detritos do asteroide Bennu, embora os cientistas tenham ressaltado que só terão certeza quando abrirem a cápsula dentro de dois dias.
UMA “CÁPSULA DO TEMPO”
Segundo disse à EFE o argentino Lucas Paganini, cientista planetário da Nasa, Bennu contém moléculas que datam da formação do sistema solar, há 4,5 bilhões de anos, e podem esclarecer questões que intrigam a humanidade há séculos, como a origem do próprio sistema solar.
– Os asteroides são muito importantes porque são os detritos de quando os planetas se formaram há 4,5 bilhões de anos. São como cápsulas do tempo, equivalentes a fósseis de dinossauros que nos permitem saber o que estava acontecendo há milhões de anos. Nesse caso, estamos viajando bilhões de anos no tempo – explicou Paganini.
Os cientistas acreditam que estas moléculas podem ter chegado ao nosso planeta a bordo de meteoritos e, portanto, a análise da composição de Bennu irá ajudá-los a verificar esta hipótese e a esclarecer qual o papel que os corpos celestes podem ter desempenhado na origem da vida.
Os cientistas escolheram justamente Bennu por ser relativamente rico em moléculas orgânicas e, além disso, ter uma órbita conhecida, o que facilitou a aproximação da “Osiris-Rex” para a coleta de amostras.
Descoberto em 1999, acredita-se que Bennu tenha se formado a partir de fragmentos de um asteroide muito maior após uma colisão. Tem meio quilômetro de largura, aproximadamente a altura do Empire State Building, e sua superfície áspera e preta está repleta de grandes rochas.
Além disso, existe a hipótese de que Bennu colida com a Terra dentro de 159 anos e, embora esta possibilidade seja de apenas 0,057%, esta missão da Nasa também serviria para saber como mudar a trajetória do asteroide se necessário, disse Paganini.
A Nasa transmitiu ao vivo o pouso da cápsula, do tamanho do berço de um bebê, no deserto de Utah.
O momento mais emocionante ocorreu quando o paraquedas, medindo aproximadamente 81 por 50 centímetros, foi acionado, um passo crucial para desacelerar a cápsula e evitar que os restos do asteroide Bennu caíssem no deserto de Utah.
Com a chegada da cápsula à Terra, chega ao fim uma aventura iniciada em 2016 com o lançamento da “Osiris-Rex” do centro da Nasa em Cabo Canaveral, na Flórida.
Agora, os cientistas levarão a cápsula para uma sala hermética, livre de quaisquer outras moléculas, em uma base militar próxima, garantindo que a amostra permaneça livre de contaminação.
O valor da amostra é que ela não está contaminada por outras substâncias, o que poderia fornecer informações até então desconhecidas. Os meteoritos muitas vezes contêm informações úteis para os cientistas, mas, quando chegam à Terra, essas informações já foram alteradas.
Para estudar esta valiosa amostra em condições ideais, a cápsula será transportada na segunda-feira de avião para o Johnson Space Center da Nasa, no Texas, onde será guardada em uma sala exclusivamente designada para sua preservação.
No entanto, nem toda a poeira e rochas de Bennu serão usadas imediatamente para pesquisa.
Aproximadamente 70% dos restos serão preservados, dando às futuras gerações de cientistas a oportunidade de responder às grandes incógnitas da origem do universo com uma tecnologia que nem sequer podemos imaginar hoje.
*EFE