A Antártica, o continente gelado no ponto mais ao sul da Terra, está passando por transformações significativas como resultado do aumento das temperaturas e das mudanças climáticas. Os cientistas observaram mudanças notáveis tanto na terra quanto no mar, com plantas, musgos e algas se espalhando em uma velocidade sem precedentes.
Em março de 2022, pesquisadores da Universidade de Washington (UW) documentaram uma onda de calor histórica que tomou conta da Antártica. Em um período de três dias consecutivos, as temperaturas próximas ao Polo Sul subiram a impressionantes 39 °C acima do normal, com um pico de temperatura de -10 °C. Edward Blanchard-Wrigglesworth, um cientista atmosférico da equipe da UW, descreveu essa onda de calor como a anomalia de temperatura mais quente já registrada em todo o mundo.
A onda de calor extremo não apenas surpreendeu os cientistas, mas também apresentou uma oportunidade de investigar a influência da mudança climática na temperatura da Antártica.
Utilizando uma estratégia de modelagem de “abordagem de enredo”, a equipe da UW estimou que a mudança climática no século passado amplificou a onda de calor em 2 °C. Além disso, eles projetaram que uma onda de calor equivalente em 2096 poderia ser 6 °C mais quente em relação a 2022 (8 °C em relação a 1922), o que poderia levar as temperaturas de março na Antártica para perto do ponto de fusão.
A mudança climática da Antártica levou a mudanças notáveis em seus padrões de vegetação. Historicamente coberto por neve e gelo permanentes, o continente tinha apenas uma pequena porcentagem de terra adequada para plantas com flores, como a erva-pilosa-antártica (Deschampsia antarctica) e a pera-da-antártica (Colobanthus quitensis). No entanto, as primaveras e os verões mais quentes das últimas décadas estimularam o crescimento dessas plantas, com taxas de crescimento que aumentaram mais de 20% de 2009 a 2018.
Modelos que preveem cenários climáticos futuros sugerem que, até o final do século, poderá haver um aumento de três vezes na Península Antártica, proporcionando novas oportunidades para a colonização da vegetação. Embora essa expansão possa beneficiar algumas espécies, os pesquisadores expressam preocupação com a perda irreversível da biodiversidade na Antártica em um artigo na revista Geophysical Research Letters.
Jasmine Lee, bióloga conservacionista do British Antarctic Survey, adverte que climas mais amenos reduzirão as barreiras para espécies invasoras de plantas e animais, representando uma ameaça aos ecossistemas nativos.
“Sabemos que haverá milhares de quilômetros quadrados de novas áreas livres de gelo e que as temperaturas mais altas e a água extra disponível criarão novos habitats prontos para a colonização, o que beneficiará algumas espécies”, afirmou.
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