Parece piada, mas não é. O governo da Argentina anunciou que vai entrar “em greve” partir das 10 horas desta quinta-feira (14/9).
A inusitada decisão foi confirmada, segundo o jornal La Nación, pelo presidente peronista Alberto Fernández e o ministro de Obras Públicas, Gabriel Katopodis, durante visita ao interior.
Governos costumam ser pródigos em decisões insensatas. Na Argentina, porém, mantém-se uma usina de absurdos governamentais operando a pleno vapor, sem interrupções, há muito mais tempo do que nos países vizinhos.
A insólita greve governamental é exemplar. Não se conhece o autor da ideia, mas há indícios de que nasceu numa conversa de Fernández com o ministro Katopodis, considerado um peronista moderado, durante a viagem nesta quarta-feira.
O objetivo é absolutamente incomum: o governo resolveu “protestar” contra avanço eleitoral da oposição que, mesmo dividida, lidera as pesquisas sobre a eleição presidencial do mês que vem.
Nas palavras de Katopodis, em discurso aos trabalhadores que construíram a rodovia, com a greve de meia hora o governo pretende provocar “assembleias de conscientização” sobre o futuro do país “que chegou a um ponto muito sério”. Acrescentou: “Estamos em um ponto de inflexão e os trabalhadores tem que tomar partido e ser parte nessa discussão”.
Enquanto o ministro e o presidente convocavam para o “protesto” contra os partidos de oposição, confirmava-se um novo e grande aumento da inflação: 12,4% em agosto . Significa que em apenas um mês os preços subiram mais que o dobro da taxa inflacionária prevista para o Brasil durante todo este ano.
Num país onde 40% da população são oficialmente reconhecidos como pobres, os preços subiram 144% nos últimos 12 meses. Devem superar 190% nas projeções para o resultado de 2023.
Ao se declarar em greve, o governo Fernández atesta, na prática, uma antiga e bem-humorada definição dos argentinos sobre o próprio país no mapa-múndi: onde acaba a razão, começa a Argentina.
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