Em discurso em Havana neste sábado, 16, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o embargo econômico dos Estados Unidos sobre Cuba é “ilegal” e o Brasil continuará se posicionamento contra quaisquer “medidas coercitivas de caráter unilateral”.
“É de especial significado que, neste momento de grandes transformações geopolíticas, esta Cúpula seja realizada aqui em Havana. Cuba tem sido defensora de uma governança global mais justa. E até hoje é vítima de um embargo econômico ilegal”, disse Lula durante sua fala no G77+China, uma coalizão de países em desenvolvimento vista como o governo brasileiro como um palanque importante para pressão sobre reformas no sistema internacional.
Ainda neste sábado, o petista deve se encontrar para uma reunião bilateral com o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel. Entre os assuntos que devem estar na mesa está o interesse brasileiro de voltar a financiar exportações brasileiras para Cuba. Para que isso aconteça, no entanto, o governo entende que é preciso que Havana pague a dívida de 520 milhões de dólares que ainda está em aberto.
Entre as obras feitas com dinheiro brasileiro em Cuba está o moderno Porto de Mariel, que custou 4,2 bilhões de reais. Cuba apresentou como garantia papéis da indústria local de tabaco. Ou seja, o pagamento vai depender da fabricação de charutos.
Em fevereiro de 1962, o então presidente americano John F. Kennedy ampliou um embargo sobre Cuba e levantou restrições às importações cubanas, depois de uma série de nacionalizações que, segundo os EUA, prejudicaram empresários americanos. O embargo foi, desde então, estendido e parcialmente atenuado em diversas ocasiões ao longo das últimas décadas.
Em meio a quatro anos de crise econômica, o cenário econômico na nação insular foi agravado, ainda, pela redução na produção nacional e pela escassez tanto da moeda local quanto de estrangeiras, como o dólar, em todo o território nacional.
O governo cubano, que considera ilegal a taxa em mercados informais, estipula a conversão de 120 pesos por dólar. Mas a agência de notícias Reuters estima que cerca de 4,4 milhões dos residentes da ilha não têm acesso ao dólar e dependem completamente da moeda local. Para ter acesso às cédulas americanas, a alternativa para essa parcela da população são remessas do exterior ou a venda realizada por turistas.
A desvalorização do peso afeta diretamente o poder de compra da população. Seus salários baixos não alcançam 5 mil pesos mensais, cerca de US$ 20 (ou R$ 96, na cotação atual). Além da ausência de alimentos, remédios e outros bens básicos nas prateleiras dos mercados, o custo em dólares de importados encareceu consideravelmente.
Buscando alternativas para a crise permanente, Havana acusa Washington de impedir o crescimento do país devido às sanções econômicas. O governo de Miguel Díaz-Canel justifica, ainda, que a pandemia de Covid-19 impossibilitou um progresso expressivo em solo cubano.
Críticos, contudo, sugerem que a ausência de uma reforma voltada para o mercado, nos moldes chineses, é o principal impeditivo para a recuperação econômica da nação insular.
Em julho, o ministro da Economia, Alejandro Gil, comunicou que o produto interno bruto (PIB) cresceu cerca de 1,8% no primeiro semestre do ano, números inferiores aos do período pré-pandemia, que marcavam 8%.
A atual administração projeta que o PIB deve crescer 3% no total neste ano. A inflação, que ronda os 45%, é a principal fonte de dor de cabeça para a economia de Cuba, que registrou um aumento de 39% no preço das mercadorias no ano passado.
Fonte: Veja.