O Comando Vermelho se aliou com a maior milícia do Rio de Janeiro e expandiu a sua área de domínio para a zona oeste da capital fluminense, segundo a Polícia Civil.
Tráfico na zona oeste
Os primeiros indícios da nova aliança do crime organizado surgiram no começo do ano. Investigações da Polícia Civil indicam que o Comando Vermelho passou a atuar na Gardênia Azul, reduto tradicional da milícia na zona oeste do Rio.
Há uma semana, um homem foi flagrado enquanto escrevia recado em uma pedra no Recreio dos Bandeirantes, também na zona oeste. A mensagem indicava a presença da facção em outra região tradicional da milícia.
“CV [sigla usada pela facção Comando Vermelho]: o bicho vai pegar. Atenção, morador” (Mensagem atribuída ao tráfico no Recreio dos Bandeirantes).
Foto: Reprodução/UOL.
A Draco, delegacia especializada em ações de grupos paramilitares, diz que a aliança envolve a cúpula do CV e da milícia.
A disputa por território deixou ao menos 20 mortes na Gardênia Azul e Recreio dos Bandeirantes neste ano, segundo a Polícia Civil. O último assassinato ocorreu na manhã de sábado (16), quando a Delegacia de Homicídios encontrou o corpo do miliciano Luís Paulo Aragão Furtado, o Vin Diesel.
Ligado ao grupo paramilitar, Vin Diesel foi morto porque teria auxiliado o Comando Vermelho a tomar o poder ali, indicam as investigações. Ele estava sendo procurado pela Justiça e tinha dois mandados de prisão por homicídio qualificado.
Vin Diesel pertencia ao grupo chefiado por Leandro Siqueira de Assis, o Gargalhone. Morto a tiros em maio deste ano, o corpo dele foi encontrado dentro de um carro abandonado na Barra da Tijuca, zona oeste carioca.
O que diz a polícia
A Polícia Civil indica que a aproximação entre o tráfico de drogas e milícia tem se intensificado nos últimos anos, dando origem ao termo “narcomilícia”. Mas, até então, a ligação era entre os paramilitares e o Terceiro Comando Puro, facção rival do Comando Vermelho.
Essa ligação da milícia com o Comando Vermelho, maior facção do Rio, só passou a ser investigada neste ano. As investigações apontam uma parceria que envolve fornecimento de armamento pesado para confrontos com rivais e uma aliança comercial.
A associação criminosa envolve venda de drogas e permissão para explorar o território com práticas já ligadas à milícia. Isso inclui venda de gás, água, transporte irregular e cobrança de taxa a moradores e comerciantes, indicam as investigações.
As negociações foram seladas no Complexo da Penha, zona norte do Rio, ainda de acordo com fontes ligadas à investigação. A região é apontada como o principal reduto do Comando Vermelho.
Segundo a Polícia Civil, a parceria foi firmada em um momento de rachas internos entre as lideranças do grupo dominado por Zinho.
“A maior milícia do Rio, que era forte, hoje está fragmentada. O Comando Vermelho sempre teve um distanciamento em relação aos grupos paramilitares, mas isso mudou. O que vemos é um avanço do tráfico em regiões que eram dominadas por milicianos e um pacto de paz entre essas duas organizações” (André Neves, delegado da Draco).
“Não dá para dizer que houve uma união completa entre tráfico e milícia. Temos parcerias estabelecidas com fornecimento de armas para confrontos com rivais, exploração do tráfico e convivência para a atuação dos grupos na mesma área” (Daniel Hirata, pesquisador).
“A movimentação do crime organizado está mudando com a expansão do Comando Vermelho para áreas que eram originalmente da milícia” (Elisa Ramos Pittaro Neves, promotora de Justiça).
Lideranças selaram acordo, aponta investigação
As investigações indicam que Wilton Rabello Quintanilha, o Abelha, chefe do CV nas ruas, firmou parceria com Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, líder da maior milícia do Rio.
Procurada, a defesa de Abelha nega qualquer tipo de envolvimento dele na suposta aliança, nega que ele conheça Zinho e afirma que ele não responde a processos criminais que o relacionem com o miliciano. O UOL não localizou advogados que representam Zinho nos processos criminais.
Em julho de 2021, beneficiado por um alvará de soltura, Abelha deixou o presídio de Bangu, zona oeste do Rio. Depois disso, passou a ser apontado como a principal liderança do Comando Vermelho nas favelas cariocas e hoje é considerado foragido da Justiça.
Já Zinho assumiu o controle da maior milícia do Rio após a morte do seu irmão apenas um mês antes da saída de Abelha do presídio. Wellington da Silva Braga, o Ecko, morreu ao ser baleado em uma operação policial para prendê-lo em junho de 2021.
Até então, Zinho era apontado pelas autoridades como o responsável pela gestão das finanças do grupo, incluindo lavagem de dinheiro para aumentar o potencial de enriquecimento ilícito do grupo.
Fonte: UOL.