Doença é transmitida de mãe para filho e pode causar danos tanto para a gestante quanto para a criança
Os casos de sífilis estão aumentando no Brasil, causando preocupação entre autoridades sanitárias. No primeiro semestre de 2022, no dado mais recente divulgado pelo Ministério da Saúde, o país registrou mais de 122 mil novos casos da doença. O número é especialmente perigoso para mulheres, uma vez que 31 mil desses registros foram em gestantes e 12 mil, transmitidos da mãe para a criança.
No Brasil, a notificação compulsória de sífilis adquirida foi instituída em 2010. Ao longo da série histórica, as taxas de detecção cresceram até 2018 e apresentaram estabilidade em 2019. Em 2020, a pandemia por Covid-19 contribuiu para o declínio da taxa de detecção da moléstia. No entanto, o índice retornou a patamares pré-pandêmicos em 2021 e voltou a crescer em 2022.
A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema pallidum. A transmissão se faz pelo prática de sexo vaginal, anal ou oral, sem o uso de preservativo. Outras formas de transmissão são a passagem da mãe para o feto, através da placenta, durante a gestação, e pela transfusão de sangue.
Muitas pessoas têm a moléstia e não sabem, porque a sífilis apresenta longos períodos sem manifestar sintomas.
“A doença também se caracteriza pela capacidade de atingir múltiplos sistemas orgânicos, produzindo lesões cutâneas, mucosas, cardiovasculares e nervosas”, explica a ginecologista Iara Linhares, membro da Comissão Nacional Especializada em Doenças Infectocontagiosas da Febrasgo.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), bebês que nascem com a enfermidade podem manifestar: erupções cutâneas, inflamação nos órgãos, anemia, problemas ósseos e articulares, condições neurológicas, incluindo cegueira, surdez e meningite, atrasos no desenvolvimento e convulsões.
Por que a doença está crescendo?
Para Iara Linhares, alguns fatores explicam o crescimento da doença:
Notificação Compulsória: A obrigatoriedade dos registros fez com que casos anteriormente desconhecidos viessem à tona;
Testes disponíveis: Exames rápidos facilitaram o diagnóstico, aumentando o número de casos detectados;
Falta de uso de preservativos: Relações desprotegidas contribuem para disseminar a moléstia e reinfectar pacientes já tratados;
Tratamento inadequado: Às vezes, a parceria não é tratada ou a pessoa não segue o protocolo médico corretamente, por exemplo;
Transmissão invisível: “A aquisição da sífilis é, na maioria das vezes, imperceptível ao paciente, principalmente para as mulheres”, diz a médica. A pessoa não sabe que tem a condição e a transmite para outras pessoas;
Iara Linhares ressalta que, embora a doença não escolha classe social, as pessoas com menor poder aquisitivo e menos acesso aos serviços de saúde são os mais afetados por ela.
Quais são os sintomas e o que a doença causa?
Após o contágio, a sífilis irá se desenvolver em quatro estágios:
– Sífilis primária (primeiro estágio): Geralmente dura cerca de 21 dias. Manifesta uma ferida redonda, indolor e geralmente dura, chamada de cancro. Embora a lesão seja mais frequente na região genital, ela pode ocorrer em outros locais, como nos lábios ou na boca, no ânus ou dentro do reto. A úlcera cicatriza espontaneamente, mesmo sem tratamento, mas a bactéria continua ativa no organismo da pessoa.
– Sífilis secundária (segundo estágio): As lesões aparecem em diferentes partes do corpo, como tronco, palmas das mãos e plantas dos pés. As feridas duram pouco tempo. “Com frequência, passam despercebidas ou são facilmente confundidas com alergias”, diz a ginecologista da Febrasgo.
– Sífilis latente: A doença não apresenta sinais e sintomas. No entanto, se não for tratada, pode permanecer no organismo por meses ou até mesmo décadas.
– Sífilis terciária (terceiro e último estágio): Se chegar a esse estágio sem tratamento, a enfermidade é grave. A doença causa desde feridas cutâneas benignas até lesões neurológicas (afetando o cérebro e a medula espinal), cardiovasculares (atinge coração, aorta e outros vasos) e outros órgãos internos.
“O dano é tão grande que pode ocorrer a morte ou sequelas importantes. Felizmente, nem todas as pessoas evoluem para sífilis terciária”, diz Iara Linhares, que também é professora do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da USP.
Se atingir o cérebro, a moléstia pode causar alterações visuais e surdez. Além disso, pode desencadear uma síndrome dolorosa chamada tabes dorsalis, paralisia, dor de cabeça, perda de memória, confusão mental e demência. No sistema cardiovascular, a doença pode causar problemas cardíacos.
“São necessários grandes esforços para educar a população, particularmente os jovens, sobre os riscos de contrair a doença, assim como as outras infecções de transmissão sexual”, afirma a ginecologista.