O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central seguiu o combinado na última reunião e reduziu pela segunda vez seguida a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto porcentual, de 13,25% para 12,75% ao ano. A decisão foi unânime e levou a Selic para o menor patamar desde maio de 2022.
Apesar de não citar a evolução da questão fiscal no balanço de riscos para a inflação, o Copom dedicou um parágrafo do comunicado para destacar a importância de o governo cumprir as metas fiscais já estabelecidas.
Enquanto o mercado segue duvidando da capacidade da equipe econômica de entregar a meta de zerar o rombo das contas públicas em 2024, o Copom destacou a relação entre esse objetivo e a reancoragem (convergência para a meta) das expectativas de inflação em prazos mais longos.
“Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas”, destacou o comunicado.
Entre os riscos de alta para a inflação está uma maior persistência das pressões inflacionárias globais e uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada.
Apesar de admitir que a atividade econômica tem apresentado mais resiliência que o esperado pelo BC, o Copom manteve hoje a avaliação de que haverá, sim, um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres.
Juros reais
Com a nova baixa, o País finalmente deixou a liderança global dos juros reais (descontada a inflação) – foco das críticas do governo Lula, políticos e empresários. O Brasil ocupava o posto ininterruptamente desde maio de 2022, quando a Selic, ainda no ciclo de alta, chegou justamente ao mesmo patamar adotado hoje.
Segundo levantamento do site MoneyYou com 40 economias, o Brasil passa a ter uma taxa de juros real de 6,40% e agora figura em segundo entre os campeões do mundo, atrás do México (6,61%). Em terceiro, aparece a Colômbia (5,10%).
A média das 40 economias pesquisadas é de 1,06%. Nas contas do BC, o juro neutro, que não estimula nem contrai a economia e, consequentemente, não acelera nem alivia a inflação brasileira, é de 4,5%.
No comunicado, o comitê afirmou que prevê para as próximas reuniões novos cortes na mesma intensidade – ou seja, de 0,50 ponto porcentual. O colegiado ainda reafirmou que considera o ritmo de queda de 0,50 ponto “apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”. No texto, o Copom também não deu novas dicas sobre o tamanho total do ciclo de queda da Selic.
“O Comitê ressalta ainda que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, diz o comunicado.
Conforme a sinalização dada no encontro anterior, em agosto, a queda da Selic para 12,75% já era amplamente esperada. Todas as 69 instituições financeiras consultadas pelo Projeções Broadcast apostavam no novo corte de 0,50 ponto.
Em agosto, o comitê afirmou que seus membros, unanimemente, consideravam esse ritmo o mais adequado para as próximas reuniões, apesar da decisão dividida e apertada no corte inaugural da Selic (5×4), de 13,75% para 13,25% ao ano.
Estadão