Ex-presidente foi alertado semanas atrás de que o acordo estava em andamento, mas insistiu na lealdade do ex-ajudante de ordens
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou a ser alertado semanas atrás de que todos os indícios apontavam para uma delação do tenente-coronel Mauro Cid, homologada na semana passada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Em uma dessas conversas, o ex-presidente ouviu que os sucessivos e longos depoimentos de Cid à Polícia Federal (PF) demonstravam que o processo já estava em andamento. Mas Bolsonaro duvidou até o último minuto, segundo interlocutores.
Ele insistia na “lealdade” de Cid e investia na tese de que o ex-ajudante de ordens jamais delataria.
Bolsonaro, segundo relatos feitos à CNN, também teria se empenhado em minimizar os riscos de uma delação.
Ele teria citado como exemplo o caso do encontro que teve com o hacker Walter Delgatti Neto, no Palácio da Alvorada, viabilizado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
Bolsonaro, ainda segundo relatos, contou que Cid estava de fato na sala no momento em que a conversa aconteceu. Mas teria ficado próximo à porta, distante o suficiente para não ter ouvido em detalhes a conversa ocorrida entre ele, o hacker e a deputada.
Bolsonaro manifestou, em reservado, pouca preocupação com o caso da fraude em cartões de vacinação. Nesse caso, na versão difundida por aliados do ex-presidente, o que houve foi um “excesso de iniciativa” por parte do ex-ajudante de ordens.
Integrantes da equipe bolsonarista admitem que o caso das joias ganhou complexidade muito maior, embora invistam na tese de que tudo não passa de uma “perseguição” ao ex-presidente.
Nos últimos dias, Bolsonaro e familiares evitaram se aprofundar na polêmica sobre a delação de Mauro Cid. Nos bastidores, a orientação é não alimentar o confronto com o ex-ajudante de ordens.
A defesa do ex-presidente já decidiu também que manterá o discurso de que não houve irregularidade na venda de presentes, uma vez que a legislação sobre o acervo documental da Presidência, datada de 1991, autoriza a venda desses bens.
A ordem no círculo próximo a Bolsonaro é, mais uma vez, ignorar o Tribunal de Contas da União (TCU).
Aliados procuraram minimizar o relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), que identificou presentes recebidos em viagens oficiais e incorporados irregularmente ao acervo privado do então presidente.
O documento, revelado na sexta-feira (8) pela analista da CNN, Renata Agostini, aponta que 128 itens teriam sido incorporados indevidamente ao acervo privado – 111 deles não se encaixariam no perfil de itens personalíssimos e outros 17 teriam valor comercial muito elevado para se encaixarem nessa categoria.