Quem viaja para a região de Yucatán, no sudeste do México, provavelmente irá encontrar um tipo bastante inusitado de joia. São os makech, besouros revestidos de pedras brilhantes vendidos como joias vivas.
Embora os vendedores falem que este é um costume que teve origem com os maias, questões éticas e ambientais têm sido usadas para desincentivar esse tipo de comércio.
Joias vivas
(Fonte: Floyd Shockley/The Smithsonian National Museum of Natural History/Reprodução)
Os makech podem ser encontrados em quase todo o México, mas são mais comuns na região de Yucatán — que também atrai muitos turistas pelas ruínas maias e pelas praias da região. Esses besouros possuem a cor dourada, o que já os deixa bastante chamativos. Mas são as pequenas pedras brilhantes que realmente os deixaram “famosos”.
Os comerciantes colam supostas joias diretamente sobre os insetos, prendendo pequenas correntes com alfinetes para garantir que eles não escapem depois. Porém, especialistas afirmam que, na maioria dos casos, as pedras não passam de bijuterias.
Além disso, a própria origem da tradição é bastante controversa. A versão contada pelos vendedores fala de uma lenda local sobre um xamã que transformou o amante proibido de uma princesa maia em um besouro, para que ela pudesse usá-lo como joia. Porém, não há evidências que comprovem tal lenda, o que não faz muito sentido, uma vez que existem diversos registros deixados pelos maias sobre sua cultura.
(Fonte: Kristen Stipanov/Brendan McCabe/Smithsonian Magazine/Reprodução)
“Os maias eram um povo muito letrado, tinham escrita e ciência”, explicou Floyd Shockley, gerente de coleções de entomologia do Museu Nacional de História Natural Smithsonian, em entrevista ao Atlas Obscura. “Parece que algo assim teria sido registrado se realmente remontasse a essa época. Acredito que seja uma prática muito, muito mais recente, provavelmente surgiu a apenas algumas centenas de anos”.
Na verdade, um dos registros mais antigos sobre os besouros makech é apenas do final do século XIX. Em 1887, o jornal New Haven Register escreveu um texto sobre uma mulher dos Estados Unidos que havia recebido uma joia feita com insetos vivos. A última cidade maia a resistir aos espanhóis, Tayasal, foi conquistada no final do século XVII — duzentos anos antes do registro do jornal.
Um problema ético e ambiental
(Fonte: Floyd Shockley/The Smithsonian National Museum of Natural History/Reprodução)
Mas não é apenas a suposta lenda que deu origem ao makech que é controversa. O simples uso de insetos como joias gera um debate sobre ética e até mesmo sobre os possíveis impactos ambientais.
Primeiro porque os besouros estão vivos e presos em correntes para não fugir. Muitos especialistas e defensores dos direitos dos animais afirmam que se trata de uma atitude cruel que gera sofrimento aos insetos.
Já na questão ambiental, o problema pode ser ainda mais grave. Os besouros Zopherus chilensis possuem um ciclo de vida bastante longo, principalmente quando comparado com outras espécies de insetos. Eles podem viver até quatro anos, e a reprodução depende de uma série de fatores para acontecer. Retirar estes insetos da natureza pode quebrar este ciclo antes que a fecundação dos ovos ocorra, causando um impacto ambiental a longo prazo — as larvas têm papel fundamental para a decomposição de cascas de árvores mortas.
Créditos: R7.