O número de trabalhadores da Petrobras no Nordeste caiu 76% nos últimos nove anos, de acordo com levantamento do Dieese em parceria com a Federação Única dos Petroleiros (FUP). Para a entidade, a queda de empregos seria consequência da privatização da empresa, levando a estatal a ter uma concentração de sua operação no Sudeste.
Atualmente, o Nordeste conta com apenas 4,1 mil trabalhadores da petroleira. Em 2013, esse número era de 17,4 mil. Em contrapartida, o Sudeste registrou uma queda de 29% no mesmo período, indo de 53 mil funcionários em 2013 para 37,6 mil até o final de 2022.
O levantamento aponta que 34 ativos no valor de US$ 8,1 bilhões (R$ 39,5 bilhões) foram alienados pela Petrobras neste período, com o Nordeste respondendo por 42% das unidades privatizadas pela empresa no País e por 16% do montante arrecadado entre 2013 e 2022.
Para o economista do Dieese, Cloviomar Cararine, os dados refletem o processo de privatização da Petrobras. Para ele, a empresa adotou uma “estratégia de reduzir a sua participação no Nordeste”, concentrando-se no Sudeste para focar em ativos mais rentáveis, maiores lucros e dividendos para acionistas.
O coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, destaca que os cortes atingiram especialmente a Bahia, que responde por US$ 4 bilhões (R$ 19,5 bilhões) das receitas de privatização obtidas pela Petrobras na região nordestina.
Ao todo, houve a venda de 14 ativos, dentre eles a refinaria Landulpho Alves (Rlam), no município de São Francisco do Conde. Uma análise feita pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) em 2021 apontou que a Petrobras negociou a refinaria pela metade do preço que poderia receber.
Na época, a refinaria estava avaliada entre US$ 3 bilhões (R$ 14,6 bilhões) e US$ 4 bilhões. No entanto, o grupo Mubadala Capital, dos Emirados Árabes, venceu a disputa pela refinaria com uma oferta de US$ 1,65 bilhão (R$ 8 bilhões).
Ao Estadão, a Petrobras afirmou que a diminuição de empregos em todas as regiões do País se deve aos programas de Desligamento Voluntário (PDV), que foram usados como uma ferramenta de “gestão” da companhia com foco na redução de custos e na adequação do perfil da empresa.
Os dados da FUP apontam que as privatizações aconteceram especialmente nos dois primeiros anos de mandato de Bolsonaro. Questionada sobre este ponto, a empresa afirmou que a “atual gestão da empresa debateu e validou propostas a serem consideradas em seu plano estratégico 2024-2028, conforme comunicado divulgado ao mercado em 31/03/2023?.
A empresa ainda destacou que a ação tinha como objetivo alinhar esse novo cenário de retenção de empregados e a estratégia de revisão da carteira de desinvestimentos de ativos da empresa.