Ofuscado pelo agravamento do escândalo das joias envolvendo Jair Bolsonaro, o lançamento do novo PAC por Lula, no Rio de Janeiro, externou dois problemas do presidente da República.
O primeiro é político. Lula teve que fazer um baita aceno a Arthur Lira.
O gesto aconteceu porque a semana que se inicia neste domingo, 13, será marcada finalmente pelo avanço da aliança com PP e o Republicanos – os beneficiários da primeira reforma ministerial do petista. Na negociação com o centrão, o presidente da Câmara não só será fundamental, mas é o principal interessado no acordo.
Disse o presidente em solo carioca, quase batendo continência ao antagonista: “O Arthur Lira, por exemplo, é nosso adversário político desde que o PT foi fundado e vai continuar sendo nosso adversário. Nós temos momentos de campanha em que nós vamos nos xingar, falar mal um do outro, mas, quando acaba a eleição, que cada um assuma seu posto. Ele não está aqui como Arthur Lira, mas como presidente da instituição que o Poder Executivo precisa mais dela, do que ela do Poder Executivo. Não é o Lira que precisa de mim. Eu é que preciso dele para colocar em votação [os projetos do governo]”.
Lula exagerou sobre o papel do político alagoano na época da fundação do PT.
Quando Lira assumiu seu primeiro mandato de vereador de Maceió, em 1993, o Partido dos Trabalhadores já existia há treze anos. Antes disso, Lira atuou no movimento estudantil de forma tímida, sem chamar a atenção da legenda de esquerda.
Agora, contudo, é bem diferente. Com a agenda da Câmara na mão, o foco está todo nele, e exageros como este são parte das cortesias públicas que ajudam nos bastidores, quando as portas se fecham.
O OUTRO ÓBICE
O segundo problema de Lula é econômico, e tem vários aspectos.
Lula tem conseguido vitórias e vê vários sinais positivos para a recuperação da economia do país. Mas, de fato, precisa acelerá-la.
Para isso, acabou inflando o total dos investimentos do PAC-3 para R$ 1 trilhão até 2026. O governo colocou no bolo investimentos de estatais como a Petrobras, o que não deveria contar.
O programa é uma forma de organizar a direção dos investimentos, mas sempre me pareceu uma lista de intenções de investimentos. Ela nem sempre é cumprida.
Outro aspecto econômico é a existência de alguns projetos polêmicos, como a retomada da obra da Usina Nuclear de Angra-3, que tem um custo extremamente alto.
Finalizando a questão, vem a dúvida sobre o anúncio do governo de que parte do valor dos investimentos ficará de fora da conta do arcabouço. Isso é sempre um problema para quem quer as contas em ordem, e pode estourar no colo de outros atores, como Fernando Haddad e Simone Tebet, estremecendo a própria gestão.
Não é fácil governar o Brasil.
Fonte: Veja.