Entre os mais de R$7,89 bilhões em investimentos destinados à ciência anunciados pelo governo federal na sexta-feira (11), durante a apresentação do novo Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), R$1 bilhão está reservado para o desenvolvimento do Órion – um laboratório de biossegurança máxima (NB4) que será construído no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP).
O projeto tem um diferencial em relação às outras 60 instalações do tipo existentes no resto do mundo: este será o primeiro laboratório NB4 em todo o globo a estar conectado a uma fonte de luz síncrotron – o acelerador de partículas Sirius.
Segundo um comunicado do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o complexo de contenção biológica máxima vai permitir a condução de pesquisas com patógenos que podem causar doenças graves e com alto grau de transmissibilidade (das classes 3 e 4, conforme a versão mais recente da Classificação de Risco dos Agentes Biológicos).
Como exemplo de doenças nessas categorias estão o Ebola e aquelas causadas por vírus da Coronaviridae – sim, os coronavírus, como o SARS-CoV-2 (causador da Covid-19).
Esse é mais um fator de destaque no Órion, já que não existe outra estrutura de biossegurança com essa capacidade em toda a América Latina.
Representação artística do laboratório Órion, que vai tornar o Brasil o único país no mundo a ter uma instalação de contenção biológica máxima conectada a uma fonte de luz síncrotron. Crédito: CNPEM/Divulgação.
Dessa forma, o Brasil se tornará o terceiro país do continente americano (além de EUA e Canadá) com condições de monitorar, isolar e pesquisar os agentes biológicos para desenvolver métodos de diagnóstico, vacinas e tratamentos.
Saiba mais sobre o laboratório de biossegurança máxima Órion
Mais do que armazenar e manipular amostras biológicas, o laboratório de biossegurança máxima Órion terá acesso exclusivo a três linhas de luz (estações de pesquisa) do Sirius, algo que não existe em nenhum outro lugar do mundo.
Justamente por causa dessa conexão é que o projeto ganhou o nome de Órion, em referência à constelação que abriga a estrela mais brilhante do céu (Sirius), que batizou o acelerador de partículas brasileiro.
Com a construção prevista para ser concluída até 2026, o complexo laboratorial terá cerca de 20 mil metros quadrados. Antes de entrar em operação regular, no entanto, Órion precisa passar pelo chamado comissionamento técnico e científico, além de ser submetido a certificações internacionais de segurança.
De acordo com Antonio José Roque da Silva, diretor-geral do CNPEM, além de instalações laboratoriais em NB3 e NB4 e das estações de pesquisa com técnicas de luz síncrotron, o projeto deve ainda reunir laboratórios de pesquisa básica, técnicas analíticas e competências avançadas para imagens biológicas, como microscopias eletrônicas e criomicroscopia.
“Todas essas competências científicas reunidas em um único complexo é algo que o diferencia de toda infraestrutura disponível no Brasil e no mundo.” (Antonio José Roque da Silva, diretor-geral do CNPEM, para o G1)
Segundo Silva, um dos pontos-chave do laboratório Órion está na capacitação de pessoal, que contará com parcerias com instituições internacionais de referência e treinamentos no exterior.
Ele explica que o programa prevê atividades práticas em ambiente-modelo (Laboratório Mockup), onde as equipes enfrentrão condições simuladas, sem a manipulação de materiais infecciosos ou risco de contágio, sob supervisão de profissionais qualificados.
“Paralelamente às obras e aos desenvolvimentos tecnológicos do Projeto Orion, o CNPEM irá conduzir um programa nacional de treinamento e capacitação em infraestruturas de alta e máxima contenção biológica, voltado à formação de recursos humanos em competências ainda pouco desenvolvidas no Brasil e nos demais países da América Latina”, revelou o diretor.
Olhar Digital