Neste mês, um programa de notícias na Índia passou a ter uma IA (Inteligência Artificial) como apresentadora: Lisa é a mais nova âncora do canal Odisha TV. Na prática, ela lê as manchetes em odia, o idioma comum no leste do país.
Vestida com um sari marrom e dourado, com olhos e cabelos escuros, ela tem a missão de entregar boletins de notícias em plataformas digitais e fornecer atualizações sobre esportes e clima. Segundo o diretor da emissora, Jagi Mangat Panda, essa novidade é “um marco na transmissão de TV e no jornalismo digital”.
Em comunicado, o executivo anunciou que o objetivo de usar uma âncora gerada por IA é deixar a cargo da tecnologia os trabalhos mais repetitivos e liberar a equipe de jornalistas para “se concentrar em fazer um trabalho mais criativo para trazer notícias de melhor qualidade”.
Meet Lisa, OTV and Odisha’s first AI news anchor set to revolutionize TV Broadcasting & Journalism#AIAnchorLisa #Lisa #Odisha #OTVNews #OTVAnchorLisa pic.twitter.com/NDm9ZAz8YW
— OTV (@otvnews) July 9, 2023
O chatbot também marca presença no Twitter da Odisha TV. Em algumas publicações, ela dispensa o uso do sari e também usa os cabelos soltos. Lisa é alimentada por algoritmos de aprendizado de máquina (machine learning), por meio de uma base de dados repleta de vídeos e artigos de notícias.
De acordo com o INDIAai, um site do governo indiano, essa tecnologia “coleta, rastreia e categoriza o que é dito e quem disse, e depois converte esses dados em informações utilizáveis e acionáveis”.
Porém, a solução não é perfeita. À primeira vista, Lisa pode ser confundida com um ser humano. Mas, com um olhar mais atento, é fácil notar um piscar de olhos muito lento, com movimentos artificiais, e a falta de gestos com a mão. O chatbot também tem uma voz robótica e monótona, com poucas marcações da fala ao longo da apresentação.
Lisa levanta reflexão sobre uso da IA na mídia
Após o surgimento da Lisa, o debate sobre o uso da inteligência artificial na Índia está pipocando cada vez mais, motivados também por outras iniciativas semelhantes de “bots-âncoras” — também chamados de “newsbots”.
O primeiro projeto assim na Índia foi do canal de notícias Aaj Tak, do grupo India Today Group, um dos maiores conglomerados de mídia da Índia, segundo informações do portal South China Morning Post. O veículo lançou um chabot batizado de Sana, cuja função é ler boletins de notícias, assim como Lisa.
Os âncoras artificiais também estão revolucionando a forma como os telejornais são feitos em outros mercados asiáticos, da China ao Sudeste Asiático.
Na Índia, a IA pode ser um instrumento poderoso para alcançar o público de forma mais transversal e abrangente. No país, que é o mais populoso do mundo, há mais de 20 diferentes idiomas oficiais, uma das grandes limitações das emissoras de televisão.
Além de apresentar notícias em inglês, hindi e bangla, Sana já aprendeu outras 75 diferentes línguas, conforme o India Today Group. Isso poderia facilitar o consumo de notícias e o acesso à informação na Índia.
Por outro lado, muitos condenam a prática. Os críticos afirmam que a tecnologia pode trazer problemas, minando a credibilidade da mídia. Naturalmente, os bots carecem de habilidades analíticas e da experiência dos jornalistas humanos. Além disso, muitos se preocupam com a segurança em relação ao emprego.
Segundo as emissoras de TV, os chatbots servem apenas para complementar os apresentadores e jornalistas humanos, e não os substituem. Para as empresas, isso permite aumentar a eficiência da equipe, garantindo uma cobertura 24 horas. Além disso, a iniciativa ajuda a diversificar a linguagem falada, bem como minimizar o tempo gasto com tarefas banais e repetitivas.
Gizmodo/UOL