O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, cujo cargo exige equilíbrio e contenção, age exatamente da forma contrária, como um animador de auditório. Essa é a opinião do jornal O Estado de S. Paulo, manifestada em editorial — texto que representa a opinião de um veículo de comunicação — publicado na edição desta quinta-feira, 17.
No texto, o Estadão compara a conduta exibicionista de Dino à de outro ministro da Justiça, Alexandre de Moraes. Antes de chegar ao Supremo Tribunal Federal (STF), Moraes comandou o Ministério da Justiça no governo de Michel Temer.
O Estadão criticou o ministro de Lula por suas efusivas e incontidas opiniões, que transformam a Justiça numa arena política. “Pelo teor de suas manifestações, Flávio Dino não entendeu o que significa ser ministro da Justiça, tampouco as responsabilidades e os limites que o cargo impõe”, afirmou o jornal. “No entanto, Flávio Dino age como se fosse um animador de auditório. Opina sobre tudo.”
O editorial cita as recentes manifestações desastradas de Dino sobre as eleições primárias na Argentina e sobre as investigações de um suposto elo entre os atos de 8 de janeiro e o caso das joias doadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
No primeiro caso, Flávio Dino disse que “em eleições, os monstros de extrema direita só chegam ao poder quando o centro e os liberais caminham com as aberrações”. E, no segundo, o ministro antecipou um juízo de valor, atribuindo culpa a Bolsonaro, “sem esperar o resultado da investigação — dando a entender que elas são desnecessárias para a formação das convicções do ministro da Justiça”, afirma o Estadão. “O comentário de Flávio Dino não condiz com o papel de ministro da Justiça no Estado Democrático de Direito.”
Essa conduta do aliado de Dino, “oposta à que o seu cargo exige”, não contribui para serenar os ânimos. “Flávio Dino parece obstinado em alimentar a equivocada impressão de que o Judiciário é uma grande arena política”, avalia o jornal.
Dino, Estadão e Alexandre de Moraes
O Estadão lembra que já cobrou de Alexandre de Moraes, ministro da Justiça entre 2016 e 2017, uma postura mais contida. Na ocasião, o agora ministro do STF antecipou a realização de operações da Polícia Federal no âmbito da Lava Jato, justamente na véspera da prisão do ex-ministro petista Antonio Palocci.
O jornal chegou a pedir a demissão de Moraes, afirmando que “vocação para o exibicionismo não combina com a discrição que o cargo de ministro da Justiça exige”. “Rigorosamente o mesmo se pode e se deve dizer agora sobre o atual ministro da Justiça”, afirma o editorial.
Por fim, o texto cobra uma postura mais jurídica e menos política de Flávio Dino: “Em vez de fazer do Ministério da Justiça um grande espetáculo que converte tudo aquilo em que toca em política eleitoral, que tal trabalhar para que a Constituição seja mais conhecida e respeitada por todos?”, conclui o Estadão.
Revista Oeste