A cirurgia de transplante de coração, pela qual o apresentador Faustão passou neste domingo (27), é feita no Brasil desde 1968, como última alternativa de tratamento para problemas cardíacos. A medicina evoluiu — e permite que o paciente tenha excelente qualidade de vida após o procedimento, afirmam especialistas —, mas um obstáculo permanece: a dificuldade de encontrar doadores de órgãos no país.
Por isso, quando aparece uma oportunidade de fazer o transplante, todas as etapas precisam ser seguidas com rigor. Assim que o coração é retirado do corpo do doador, um cronômetro é disparado: em até 4 horas, ele precisa estar pulsando no corpo do receptor. É esse o tempo máximo durante o qual o órgão consegue manter suas atividades fora do corpo humano.
Como funciona a fila do transplante?
Até a última atualização desta reportagem, 386 pessoas aguardavam um “novo coração” na fila do Sistema Único de Saúde (SUS). A espera não leva em conta se o paciente fará a cirurgia em um hospital público ou na rede particular.
Os critérios são outros:
- ordem cronológica de cadastro;
- gravidade do quadro – quem necessita de internação constante (com uso de medicamentos intravenosos e de máquinas de suporte para a circulação do sangue) tem prioridade em relação à pessoa que aguarda o órgão em casa;
- tipo sanguíneo – um paciente só pode receber um órgão de um doador que tenha o mesmo tipo sanguíneo que ele;
- porte físico – alguém alto e mais pesado não pode receber o coração de um doador muito mais baixo e magro que ele;
- e distância geográfica – o órgão precisa ser retirado do doador e transplantado no receptor em um intervalo de até 4 horas. Ou seja: não é possível fazer a ponte entre duas pessoas que estejam muito distantes uma da outra.
Como é feita a cirurgia?
Veja o infográfico abaixo:
Em que casos o transplante é indicado?
“O transplante de coração é reservado para quadros graves, quando não há mais terapia suficiente para resolver o problema”, afirma Samuel Padovani Steffen, cirurgião cardiovascular da Rede D’Or.
Podem ser problemas de insuficiência cardíaca congênitos (de nascimento) ou adquiridos ao longo da vida.
O médico explica que, no Brasil, a grande maioria dos pacientes com indicação de transplante tem miocardiopatia dilatada idiopática: o coração cresce e deixa de conseguir bombear sangue em quantidade suficiente para o organismo inteiro.
“Outra causa frequente é a doença isquêmica do coração [quando o fluxo de sangue nas artérias é obstruído por placas de gordura]”, diz.
Tratamento com imunossupressores: como funciona?
Após a cirurgia, o paciente fica hospitalizado por cerca de 30 dias, para que a equipe médica garanta que o novo órgão não vai ser rejeitado.
“O sistema imunológico, que protege o nosso organismo, rejeita tudo o que é estranho, para nos defender de infecções”, afirma Silvia Ayub Ferreira, coordenadora do programa cardíaco do Hospital Sírio-Libânes (SP).
Para evitar esse tipo de reação do corpo “contra” o coração novo, o paciente faz uso de medicamentos imunossupressores — remédios que diminuem a imunidade da pessoa para inibir esses mecanismos de “defesa”. Como efeito colateral, o transplantado fica mais vulnerável a outras doenças.
O que muda antes e depois do transplante?
Em geral, uma pessoa que recebe diagnóstico para o transplante de coração está em um quadro tão grave que não consegue fazer até as atividades mais simples, como caminhar em casa.
Há casos de pacientes que precisam passar meses hospitalizados, sendo monitorados, no aguardo do novo órgão. Segundo os especialistas ouvidos pelo g1, a espera pela doação varia de 2 a 18 meses.
Após a cirurgia, a vida volta ao considerado “normal”. Mas é preciso, claro, cuidar do coração: ter uma alimentação saudável, praticar atividades físicas com regularidade e fazer acompanhamento médico constante.
“Do ponto de vista cardiovascular, a pessoa pode retomar sua rotina”, explica Steffen. “É só proteger o órgão. A medicina evolui a cada dia. Nós dizemos: ‘[seu coração] vai durar para sempre, toque sua vida.”
Créditos: G1.