Não há resposta única, dizem médicos, preparadores físicos e fisioterapeuta: o melhor treino depende das características de cada pessoa
Entre exercícios aeróbicos e de força, vale a pena ficar com os dois, já que cada um tem sua função. É o que explica André Siqueira, cirurgião ortopedista especialista em medicina esportiva.
— Sempre tentamos associar as atividades aeróbicas com as de fortalecimento: caminhada, corrida, bicicleta ou natação com musculação ou crossfit — diz.
O especialista diz que a caminhada é a mais simples de todas, sendo necessário apenas um par de tênis com um bom amortecedor para praticá-la. Avalia também que a atividade costuma ser um bom ponto de partida para sair do sedentarismo. Segundo ele, qualquer pessoa que não tenha problema ortopédico nos membros inferiores pode fazer a atividade. Quem tem alguma lesão, artrose ou fascite, porém, deve se abster ou percorrer distâncias curtas.
— Quando a pessoa toma gosto, costuma querer se desafiar partindo para caminhadas maiores ou corridas, participar de eventos, sempre buscando se superar. É importante tomar cuidado porque, quanto maior a distância, geralmente acima de sete quilômetros, maiores as chances de lesões. É interessante consultar um ortopedista, que pode até orientar sobre que tênis usar, ou um professor — diz.
De acordo com ele, caminhar no asfalto é o mais fácil, já que basta escolher o lugar de sua preferência e começar. Mas, para quem tem facilidade de acesso à praia, ele recomenda que os treinos sejam feitos na areia:
— Sempre descalço, para trabalhar a musculatura do pé. É bom intercalar asfalto e areia, porque torna o treino menos repetitivo e com menos impacto. Mas a areia tem que ser fofa: a dura pode ter uma inclinação que desequilibre o corpo e cause lesões.
Moradora do Jardim Oceânico, a advogada Lara Godinho, de 36 anos, estava acostumada a correr, mas trocou a atividade pela caminhada após uma bursite no quadril.
— Corria e me lesionei em 2017. Quando pude voltar a fazer atividade, comecei com caminhadas de cinco quilômetros, quatro vezes por semana. É minha terapia e não tem tanto impacto — relata.
Já a médica Luísa Gouvêa, de 28 anos, moradora da Freguesia, descobriu a corrida há dois anos, quando quis fazer outra atividade além da musculação.
— Sempre gostei de academia, treino desde os 16 anos. Mas correr é a minha atividade preferida; a endorfina me dá muito prazer. É uma competição comigo mesma. Busco melhorar meu tempo. Comecei na esteira e hoje só corro na Praia da Barra — diz.
Siqueira diz que a liberação de endorfina na corrida serve também como terapia para a mente e proporciona resposta rápida em termos de ganho de resistência, condicionamento físico e queima calórica. Mas nem todos podem praticá-la. Quem está acima do peso deve emagrecer antes, para reduzir as chances de lesão.
— A corrida é muito dinâmica. Quem tem patologias nos membros inferiores ou na coluna também não deve praticá-la. Para quem já tem artrose estabelecida e sintomática nessa parte do corpo, a corrida não é indicada, assim como nenhuma atividade com impacto — alerta.
Dudu Netto, diretor técnico da BodyTech, avalia que a caminhada é a atividade física mais democrática:
— O gasto calórico na corrida é muito alto, e há um ótimo trabalho cardiovascular. Mas o ideal é sempre começar pela caminhada.
Coordenador do curso de Educação Física da Unigranrio, Cícero Freitas salienta ainda que a caminhada pode preceder a corrida:
—Qualquer atividade física precisa de uma variação de estímulo, e a caminhada pode ser ideal para um treino regenerativo.
Nathalie Scherer, especialista em medicina integrativa e esportiva, só faz uma ressalva a respeito de caminhada:
— A pessoa tem que sair de casa com esse objetivo, e não achar que porque faz muita coisa a pé está caminhando. Os benfícios são aumento da capacidade pulmonar e manutenção de ativação do metabolismo. Já a corrida traz resistência física, melhora cardiovascular e redução da glicose, mas não deve ser praticada por cardiopatas. É interessante fazer avaliação médica antes de começar.
Musculação e crossfit: mesmos objetivos, dinâmica diferente
Os quatro profissionais entrevistados para esta reportagem foram unânimes ao afirmar que a musculação deve ser praticada por todos. Isto porque a atividade é essencial para o fortalecimento do corpo e permite adaptações para quem tem algum tipo de lesão ou patologia. A partir dos 12 anos, dizem os especialistas, ela está liberada para qualquer pessoa.
— Quanto mais cedo a pessoa começa a fazer a atividade, melhor, para que vire um hábito — diz André Siqueira. — Depois dos 30 anos, nossa musculatura perde força, e o exercício auxilia na sua manutenção e ajuda a prolongar a independência, para quando a pessoa chegar aos 80 poder continuar fazendo suas atividades e necessidades sem ajuda de ninguém.
O exercício ainda ajuda a prevenir lesões e desgastes dos músculos, que com o passar do tempo ficam mais suscetíveis a tendinites, por exemplo. Os idosos que têm mais massa correm menos riscos de quedas acidentais. A médica Nathalie Scherer frisa que a atividade melhora a composição corporal:
— Ela permite a troca da gordura pela massa muscular. Acelera o metabolismo, melhora a remodelação óssea, a pressão arterial e o colesterol, diminui a hipertensão e trabalha a parte cardiovascular.
O profissional de educação física Cícero Freitas explica que os exercícios são os mesmos que qualquer pessoa faz em seu dia a dia; o que muda é a intensidade com que cada um é realizado. E Dudu Netto afirma que fazer musculação duas vezes por semana já é o suficiente para proporcionar benefícios.
— Não precisa ficar uma hora na musculação. Uma série de oito a dez exercícios já faz atingir os objetivos. É pouco tempo para o benefício que a prática traz — assegura.
Diferentemente de sua irmã, Luísa, a advogada Laís Gouvêa, de 29 anos, começou a musculação dois anos atrás, e desde então não parou mais.
— Tive uma insuficiência venosa na perna esquerda, e os médicos queriam me operar. Comecei a musculação e consegui evitar a cirurgia. Nunca tinha feito e comecei a treinar com um personal. Tomei gosto e hoje me sinto muito mais disposta. Meus exames de sangue todos melhoraram, e de 27% de gordura corporal fui para 16% — relata.
Como não são todas as pessoas que gostam de musculação, um bom substituto é o crossfit, que se popularizou nos últimos anos. Profissionais apontam que, como o treino muda a cada dia e a atividade é coletiva, acaba atraindo quem entende que precisa fortalecer o corpo, mas não gosta de ideia de fazer musculação.
— Por mais que o foco seja em performance individual e desafio pessoal, um acaba incentivando o outro. Os exercícios melhoram o condicionamento cardiovascular, o condicionamento geral e a força, além de trabalhar o senso de comunidade. O importante no crossfit é que as individualidades e os limites sejam respeitados. Tem que tomar cuidado com o aspecto competitivo, para não exagerar — diz Dudu Netto.
O objetivo da musculação e do crossfit é o mesmo: ganho de força e massa muscular. No entanto, por ser mais dinâmica, com mais esforço aeróbico, inclusive pequenas corridas incluídas no treino, a atividade pode ser mais prazerosa para alguns.
— Os objetivos são iguais, trabalhados de formas diferentes. O crossfit usa cordas, barras, bolas. Tem muitos saltos também. Por isso, quem tem desgaste articular não deve praticá-lo. Os exercícios são mais difíceis de serem adaptados para quem tem limitações — diz o ortopedista e médico esportivo.
Nathalie observa que a modalidade demanda capacidades metabólica, pulmonar e cardiovascular, mas deve ser evitada também por quem tem lesões na coluna e problemas cardíacos.
— Quem faz crossfit acaba formando uma espécie de família. Os desafios são diários e trabalham o corpo todo. É um exercício muito completo. Mas quem gosta de competição pode acabar tendo lesões por querer pegar mais peso. É um esporte que precisa ser muito bem orientado. E a pessoa tem que passar por uma avaliação médica para saber se está apta a realizá-la — frisa.
Freitas aponta um outro aspecto: no crossfit, é bom que o próprio aluno esteja mais atento aos seus movimentos e entenda até onde pode ir.
— Na musculação é mais fácil corrigir os erros do aluno do que na atividade coletiva — pondera.
É possível até intercalar musculação e crossfit, como faz a médica Ana Carolina Bernardes, de 29 anos. Ela começou o crossfit há sete. Já era praticante de musculação e acabou trocando-a pela novidade, mas de vez em quando volta a praticá-la:
— Gosto muito de estar em grupo. Às vezes estou cansada, mas as pessoas me motivam. É um exercício de alta performance, e os movimentos são mais difíceis que os da musculação. Mas quando o treino não se encaixa na minha agenda, vou para a musculação, que tem horário mais flexível.