Uma troca de mensagens entre o general Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e Saulo de Moura Cunha, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (ABin),comprova que G.dias — como é conhecido — foi o mentor por trás da fraude no relatório de Inteligência enviado a uma comissão do Senado.
A conversa, que aconteceu em no período em que ambos eram titulares das respectivas cadeiras, foi obtida com exclusividade por Oeste. Na época, a Abin respondia diretamente ao GSI.
A comparação entre dois relatórios da Abin mostrou que o GSI adulterou o primeiro relatório de Inteligência enviado à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI).
A fraude seria para retirar dos documentos os registros de que o general Gonçalves Dias foi alertado por mensagens enviadas ao seu celular sobre os crescentes riscos de tumulto e de invasões à Praça dos Três Poderes.
Em 17 de janeiro, às 16h30, G.Dias enviou a seguinte mensagem a Saulo: “Será que meu nome pode ser retirado daquela relação?”. O então-diretor da Abin responde: “Aquela relação é só para seu conhecimento”.
O general retorna ao seu subordinado mencionando que, diferentemente do que Saulo disse, o documento com o seu nome seria entregue ao senador Esperidião Amin (PP-SC). Amin faz parte da CCAI. Na época, ele havia solicitado por intermédio do colegiado o relatório de todos os alertas sobre o 8 de janeiro.
Saulo negou a possibilidade de o senador ter conhecimento do relatório verdadeiro. “Pedi que levasse ao senhor primeiro para avaliarmos”, explicou a G.Dias. Em seguida, o ministro perguntou ao então diretor da Abin se mais alguém sabia da existência do primeiro documento. Saulo negou. “Pode tirar meu nome?”, insistiu G.Dias.
“Claro. O senhor não era parte da operação”, garantiu Saulo. Por fim, o então ministro pede o envio do relatório fraudado: “Me mande outra [versão]…lacrada…”
General Dias já negou autoria de fraude
Em depoimento à CPI do 8 de Janeiro do Distrito Federal, contudo, o general negou a autoria da fraude e jogou a responsabilidade para o então responsável da Abin.
“Não fraudei nenhum documento”, disse o general Dias, em 22 de junho deste ano. “A Abin respondeu à solicitação do Congresso com um compilado de mensagens de aplicativo. Esse documento tinha lá ‘ministro do GSI’. Não participei de nenhum grupo de WhatsApp, não sou o difusor daquele compilado de mensagens. Então, aquele documento não condizia com a realidade. Esse era um documento. Ele foi acertado e enviado.”
O ex-ministro diz que não estava em um grupo de avisos da Abin — em que foram enviados diversos informes comunicando previamente sobre o risco de invasões à Praça dos Três Poderes. No entanto, Saulo garante que enviou todos os avisos para o celular pessoal de General Dias. O ministro tentava esconder essa informação.
Quando prestou depoimento à CPMI do 8 de Janeiro, Saulo admitiu que adulterou o relatório a mando do general. “Obedeci à ordem dele”, disse. “Temos o artigo 9° A da Abin, que prevê que o ministro é quem decide quais informações serão enviadas.”
Revista Oeste