O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira (B3), encerrou a sessão desta quarta-feira (16) em queda de 0,50%, aos 115.591,52 pontos. É a 12ª queda consecutiva, um recorde histórico que superou a marca de fevereiro de 1984, quando houve desvalorização por 11 dias seguidos. No mês, a queda é de 5,21%. No ano, porém, a Bolsa ainda está em alta, de 5,34%.
O dólar comercial encerrou ficou estável e variou apenas 0,008%, encerrando o dia cotado a R$ 4,986.
Cenário interno
Não há registro de nenhuma sequência de 12 quedas consecutivas do Ibovespa desde 1980. A informação é de Einar Rivero, da plataforma Trademap. O Ibovespa foi criado em 1968, mas não há registros anteriores a 1980.
Sequência de quedas era esperada pelo mercado. Em carta aos clientes na segunda-feira (14), os analistas da BB Investimentos já alertavam para o fato de que a sequência de desvalorizações poderia continuar. “Ainda não vemos gatilhos para uma recuperação do Ibovespa nos próximos dias”.
Investidores aproveitaram para embolsar lucros nos últimos dias. Já no final de março, investidores começaram a comprar ações que poderiam se beneficiar de uma eventual queda nos juros – o que aconteceu agora em agosto. Assim, os investidores decidiram que era hora de vender as ações e embolsar o lucro que tiveram até então. “O mercado sempre faz isso: sobe no boato e vende no fato”, explica André Sanson, diretor de gestão de ativos da TM3 Capital, de Curitiba.
Ações de small caps, que dependem de financiamento para crescer, dispararam nos últimos meses. Enquanto o Ibovespaavançou 17,07% nos sete primeiros meses do ano, o índice de small caps cresceu 24,47%, segundo a Economatica. Agora, o movimento é inverso.
O mercado segue à espera dos desdobramentos da tramitação do novo arcabouço fiscal na Câmara, que pode abrir espaço para movimentos mais firmes no câmbio.
Ontem, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que houve um “atropelo” na véspera em relação às conversas para aprovação do novo marco fiscal, referindo-se a um mal-estar com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas ponderou que há possibilidade de a questão do arcabouço ser resolvida na próxima semana.
Investidores estrangeiros deixam a Bolsa brasileira
O capital estrangeiro também foi embora da Bolsa. A desaceleração da economia chinesa e o rebaixamento do Estados Unidos afastam os investidores do mercado de ações no mundo todo. No início do mês, a agência de classificação de risco Fitch rebaixou a nota de crédito dos Estados Unidos de “AAA” para “AA+”, apontando para uma deterioração fiscal nos próximos três anos.
Acabou também o “carry trade”, operação que os investidores estrangeiros fazem com muita frequência. Eles pegam dinheiro emprestado nos Estados Unidos, a juros mais baixos, e aplicam aqui, onde as taxas eram maiores. “Com a alta dos juros lá nos Estados Unidos e a queda da Selic aqui, essa operação ficou menos atraente”, diz Sanson.
A fuga de capital estrangeiro também acentua desvalorização do real. Sanson acredita que a moeda americana deva ficar entre R$ 4,80 e R$ 5 no final do ano. O que vai ajudar é a reação da economia, das empresas ao corte da Selic. “Se ela continuar caindo, isso tende a melhorar o consumo, a economia como um todo”, afirma ele. Segundo o Focus, a expectativa geral do mercado é de um câmbio a R$ 4,93.
Cenário externo
Os mercados operaram em meio aos receios de que a desaceleração econômica chinesa possa ser aprofundar. Nesta quarta-feira, números oficiais mostraram que os preços das casas novas na China caíram em julho pela primeira vez este ano. O setor imobiliário responde por cerca de um quarto da atividade econômica do país.
No entanto, a mídia estatal chinesa afirmou hoje que o país buscará impulsionar o crescimento e atingir a meta econômica deste ano. A perspectiva de que Pequim atue para sustentar o crescimento dava certo suporte a algumas moedas de países exportadores de commodities, como o real.
“A fraqueza da economia chinesa tem sido uma frustração”, diz Luís Moran, diretor EQI Research. Como boa parte dos países exporta para a China, as vendas estão em queda. Isso afeta também o Brasil, já que o pais oriental é o maior parceiro comercial.
Nos Estados Unidos, inflação permanece alta – e juros não devem cair tão cedo. a ata da última reunião do Fed, banco central norte-americano, afirmou que a inflaçãopermaneceu elevada, a atividade econômica continuou se expandindo em ritmo moderado e a taxa de desemprego seguiu baixa. Os dirigentes observaram que condições de crédito mais apertadas para as famílias provavelmente pesariam na atividade, nas contratações e no nível de preços — mas fizeram a ressalva de que a extensão desses efeitos ainda era incerta.
Na Europa, as bolsas operaram sem uma direção única após dados econômicos e de inflação. No Reino Unido, o índice de preços ao consumidor (CPI) avançou 6,8% em julho, na comparação anual, levemente acima da previsão do mercado que esperava uma alta de 6,7%.
Gestores esperam Bolsa acima dos 130 mil pontos
Ainda que o Ibovespa esteja, hoje, opor volta dos 116 mil pontos, gestores acreditam que o potencial é maior. A maioria dos gestores do mercado ainda está otimista. Segundo pesquisa de agosto do Bank of America (BofA), o percentual de entrevistados que prevê o Ibovespa negociado acima dos 120 mil pontos no final do ano é de 88%. Na edição de julho do levantamento, eram 76%.
O número de gestores com fé num Ibovespa acima dos 130 mil pontos quase dobrou. Passou de 23% para 41% em relação ao mês passado. Se isso realmente acontecer, significa que há um potencial de alta de 11,29% em relação ao fechamento da terça-feira (15), aos 116.171,42 pontos. Se a reforma tributária evoluir e for aprovada, esse é um gatilho capaz de fazer a Bolsa voltar ao positivo.