Nem a intervenção maciça do banco central — cujas reservas internacionais estão no campo negativo —, muito menos o esforço quase policial para inibir as operações informais têm conseguido frear a valorização do dólar paralelo (o chamado “dólar blue”) na Argentina. Às vésperas das decisivas eleições primárias de domingo (13), a moeda americana era vendida nesta sexta-feira (11) a 605 pesos, depois de ter batido, no dia anterior, o recorde nominal de 602 pesos por dólar.
Na quarta-feira (9), o ministro da Economia e candidato governista à eleição, Sergio Massa, afirmou que poderia mobilizar a Polícia Federal e agentes do Fisco para conter o mercado paralelo de dólares. A cotação da moeda americana no mercado não oficial vem subindo e batendo recordes desde o início da semana.
“Não tem nenhuma eficácia. [Agentes] saem alguns dias, ao redor de poucas quadras do governo. Mas o dólar blue é operado em todo o país. Nunca se conseguiu conter a cotação do dólar alternativo”, explica o analista político e consultor econômico Gustavo Marangoni.
Mesmo que ilegais, locais onde se compra e vende dólares no mercado paralelo, além de outras moedas estrangeiras, atuam livremente no centro da capital Buenos Aires. Isso ocorre porque, na prática, o governo não tem moeda suficiente para atender a demanda no mercado oficial.
Para tentar controlar o valor do dólar oficial, aí, sim, o governo pode recorrer a algumas táticas, como ter a ajuda de bancos que podem vender alguns dólares, mas a principal é por meio do Banco Central da República Argentina (BCRA). “A principal operação do governo via banco central é vender títulos e, assim, conter a demanda pelo lado dos dólares legais”, diz Marangoni.
Às vésperas de eleições, é normal, na Argentina, que as pessoas tentem comprar mais dólares, como uma forma de segurança diante das mudanças que podem ocorrer.
“Por trás da subida do dólar paralelo está a incerteza pré-eleitoral. Muitos querem chegar ao domingo em posse de mais dólares, mas, além disso, entre julho e agosto, aceleraram [governo] a emissão monetária e endureceram o câmbio, o que contribui para o gap entre as cotações”, afirma Nicolás Alonzo, economista da Orlando Ferrerés & Associados.
Créditos: Valor Econômico.