Pela primeira vez, os diagnósticos de câncer de pulmão femininos devem superar os casos em homens no Reino Unido. O Brasil segue o mesmo caminho
Pela primeira vez, desde a década de 1970, quando começaram a ser medidos, os diagnósticos de câncer de pulmão em mulheres devem superar os casos em homens no Reino Unido, segundo análise do Cancer Research UK para o jornal The Guardian.
O câncer de pulmão é o que mais mata no mundo e o terceiro mais incidente. No caso das mulheres, é o terceiro maior em ocorrência e o segundo em mortalidade, atrás do apenas do câncer de mama, de acordo com o Global Cancer Observatory.
As projeções indicam que até 2024, os casos em mulheres serão 0,59% maiores do que em homens (27.332 e 27.172 casos projetados, respectivamente). Os analistas preveem que a tendência é o aumento dessa disparidade, chegando a mais de 11% entre 2038 e 2040.
De acordo com especialistas da Cancer Research UK, o aumento na diferença entre os dois gêneros se deve principalmente à redução no número de homens fumantes a partir da década de 1970, ao mesmo tempo que mulheres começam a adquirir mais esse hábito no Reino Unido.
No Brasil, o cenário se repete. Embora o número de fumantes tenha reduzido em cerca de 70% desde a década de 1970, a diferença entre homens e mulheres diminuiu.
Em 1989, a cada 10 homens fumantes haviam 60 mulheres fumantes. Em 2022, a razão era de cerca de 65 mulheres, conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA).
“As mulheres são regularmente lembradas da importância do autoexame de mama e a comparecer periodicamente às consultas no ginecologista. Mas elas precisam estar atentas também a outros tipos de câncer. Caso ocorram sintomas, é importante buscar um especialista”, afirma o oncologista Carlos Gil Ferreira, presidente do Instituto Onclínicas e da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
Segundo o oncologista, o dado serve de alerta para a prevenção de outros tipos de câncer em mulheres como, por exemplo, os adenocarcinomas, que além do pulmão, podem acometem vários segmentos do trato digestivo, incluindo o intestino grosso (cólon) e que são o tipo com maior prevalência em mulheres, mas são pouco associados ao hábito de fumar. Em comparação com outros subtipos, pode corresponder a mais de 60% dos diagnósticos no sexo feminino.
“Estudos estimam que até 50% das mulheres com adenocarcinoma de pulmão são não-fumantes, em comparação com 10-15% dos homens não-fumantes que desenvolvem esse tipo de câncer”, explica o oncologista torácico.
Gil ressalta ainda a importância da vigilância mesmo em casos de mulheres não-fumantes. “É importante, atentar aos sintomas para que se faça exames precocemente. Mulheres jovens, com menos de 50 anos, consideradas saudáveis, mas com sintomas respiratórios persistentes, devem buscar avaliação médica”, diz o oncologista.