Presidente afirmou que não houve desvios em obras de estádios da Copa de 2014, enquanto ex-tesoureiro da sigla distribui cartilha na qual se apresenta como ‘réu sem crime’ no mensalão.
Um dos pivôs do mensalão, Delúbio lançou uma cartilha em que se apresenta como “réu sem crime” e afirma ter sido alvo de perseguição no escândalo de compra de apoio no Congresso. Em 2012, ele foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção passiva e formação de quadrilha, mas recebeu um indulto do governo Dilma Rousseff quatro anos depois. A cartilha foi distribuída durante o Foro de São Paulo, evento no qual Lula discursou na abertura.
Na pré-campanha de 2022, Gleisi sustentou que não teria havido “corrupção sistêmica” ou “superfaturamento” na Petrobras. Apesar disso, executivos da empresa devolveram recursos de origem ilícita, e o Ministério Público calculou que foram desviados cerca de R$ 6 bilhões da companhia pelo esquema identificado durante da Operação Lava-Jato. Às vésperas do primeiro turno, Lula disse não poder afirmar “que não houve corrupção se as pessoas confessaram”.
Para o diretor-executivo da Transparência Internacional, Bruno Brandão, a postura dúbia atrapalha o enfrentamento da corrupção.
Já o cientista político Antonio Lavareda, diretor do Ipespe, afirma que Lula e o PT mostram dificuldades para rebater acusações de corrupção, ponto “mais instável” do atual presidente em debates.
— Não conseguem achar um posicionamento claro e eficiente para sair da defensiva. E o presidente naturalmente comanda a retórica de seu grupo político.
A guerra de narrativas petista
- Obras da Copa de 2014: No sábado, em visita a um treino da seleção brasileira feminina no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, Lula alegou que “não se provou corrupção em nenhum estádio” do Mundial. O ex-governador petista do DF, Agnelo Queiroz, foi condenado no ano passado por desvio de recursos na obra. Outra reforma que foi alvo da Justiça, a do Maracanã, gerou sentenças por corrupção e fraude em licitação contra o ex-governador Sérgio Cabral.
- Desvios na Petrobras: Na pré-campanha, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, deu entrevistas negando que tenha ocorrido “corrupção sistêmica” ou “superfaturamento” na Petrobras. À Operação Lava-Jato, executivos da empresa durante governos petistas confessaram ter recebido recursos ilícitos e firmaram acordo para devolver valores aos cofres públicos. Às vésperas do primeiro turno, Lula reconheceu que “pessoas confessaram” corrupção.
- Mensalão: Ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares lançou neste ano uma cartilha na qual se apresenta como “réu sem crime” e se diz alvo de perseguição judicial no mensalão. Ele e outros caciques petistas foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2012, por corrupção passiva e formação de quadrilha no caso. A cartilha foi distribuída durante o Foro de São Paulo, evento do qual Lula participou da abertura.
Em visita no fim de semana a um treino da seleção brasileira feminina no Mané Garrincha, em Brasília, Lula reclamou do “clima muito negativo” que cercou a Copa de 2014, quando “tudo se dizia que havia corrupção nos estádios”. A reforma desta arena gerou uma condenação, em dezembro, do ex-governador petista do Distrito Federal Agnelo Queiroz, por improbidade administrativa e enriquecimento ilícito.
De acordo com a decisão do juiz Paulo Afonso Carmona, da 7ª Vara de Fazenda Pública do DF, Agnelo e seu vice, Tadeu Filippelli (MDB), solicitaram “pagamento de vantagem econômica indevida” à empreiteira Andrade Gutierrez, instada a repassar 4% do valor do contrato. O ex-governador, que recorre, foi condenado a multa de R$ 6,6 milhões e à perda dos direitos políticos por dez anos. Procurada, a defesa de Agnelo alegou que a condenação se baseou “unicamente em falas oriundas de delação premiada”.
Em 2017, na Operação Panatenaico, a Polícia Federal calculou o superfaturamento do estádio em R$ 560 milhões e prendeu temporariamente Agnelo e seu antecessor no governo do DF, José Roberto Arruda. O caso foi enviado à Justiça Eleitoral no ano passado, sob o argumento de que supostos atos de corrupção teriam relação com caixa dois de campanha, e desde então ficou parado.
Outro caso ignorado por Lula ao rechaçar corrupção na Copa, a reforma do Maracanã motivou ao menos duas condenações do ex-governador Sérgio Cabral, aliado do petista em suas gestões anteriores, por crimes como corrupção passiva e fraude em licitação. Segundo as decisões da Justiça Federal do Rio, Cabral direcionava contratos e recolhia propina dos vencedores.
Em outra frente, em maio deste ano, o Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) condenou o consórcio responsável pelas obras ao pagamento de R$ 204 milhões por irregularidades e sobrepreço. Crítico dos gastos com a Copa de 2014, o senador Romário (PL-RJ), hoje na oposição, afirma que Lula “ou é louco, ou está de sacanagem” ao negar corrupção no Mundial:
— Houve um desperdício absurdo de recursos. Se cair nos mesmos erros, vai ser um estrago fora de campo.
A defesa de Cabral afirmou ter recursos pendentes contra as condenações e argumentou que há “fundadas provas de suspeição” do juiz Marcelo Bretas, autor das sentenças de primeira instância na Justiça Federal.
O Globo