Os pais da cirurgiã-dentista de 24 anos e do motorista de app, de 33, vítimas fatais que estavam no carro esmagado entre duas carretas, na Via Anchieta, na altura de Cubatão (SP), pedem por mais segurança na rodovia. Ao g1, neste domingo (9), os familiares falaram sobre a insegurança, falta de fiscalização e pediram para que motoristas de veículos leves não trafeguem na mesma via que os pesados.
Nilton Oliveira dos Santos, operador de produção e pai da cirurgiã-dentista Stephanye Oliveira, disse que por morar próximo da Via Anchieta, em Cubatão, vê a quantidade de acidentes. “A Ecovias [concessionária que administra o Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI)] simplesmente se limitou a dizer que o número reduziu, e é mentira, a gente vê aqui”.
O pedido dele é para que o tráfego dos veículos de maior porte seja separado dos de pequeno porte. “Não me parece um negócio difícil, [mas] sei que eles devem ter as questões burocráticas deles. Creio que a vida humana está acima de tudo. Eles têm condição de fazer algo melhor”.
Segundo o operador de produção, familiares e amigos das vítimas farão um protesto neste domingo às 14h para cobrar das autoridades melhorias nas estradas. “Infelizmente é dessa forma que a gente vai ter que atuar. Não foi um acidente, foi um crime”.
A autônoma e mãe da cirurgiã-dentista, Michelle Arruda, de 40 anos, disse que um ponto importante que será reivindicado no protesto é a fiscalização. “O caminhão estava com excesso de peso, muito acima. Estava em alta velocidade, a 80 km/h em uma via de 50 km/h. Estava na faixa da esquerda, fugiu da balança, precisa de mais fiscalização para não acontecer com outras famílias, outros jovens”.
Michelle afirmou que considera a Via Anchieta superperigosa e cheia de curvas. “[Precisam] pensar nessa questão. Se eles fecham lá [Imigrantes], obrigatoriamente carros pequenos e motos têm que descer no meio dos caminhões pesados e cheios de infrações”.
Para ela, as multas precisam ser mais altas para os motoristas obedecerem as placas indicativas. “A fiscalização não é rigorosa. Foge da balança e ninguém vai atrás? Não tem ninguém fiscalizando a balança? Não faz sentido”.
A aposentada Solange Olivencia Morales, de 62 anos, ressaltou que o filho Caio Olivencia Morales dos Santos, que era motorista por aplicativo e estudante de Tecnologia da Informação (TI), e a cirurgiã-dentista tinham uma vida inteira pela frente. “Não é protesto que vai recuperar a vida deles e sanar a nossa dor”.
Ela afirmou que um dos motivos da manifestação é para evitar que mais acidentes fatais ocorram. “Tenho outro filho, tenho família, tenho mais amores na minha vida. É para que amores de outras famílias não morram”.
Segundo Solange, não faz sentido a concessionária disponibilizar uma balança de pesagem dos veículos, mas não ter uma fiscalização para controlá-la. “É um descaso. Um caminhão se evade da balança e não tem uma fiscalização que vai atrás. Ao meu ver não adianta nada. Aquele que está com excesso de peso simplesmente não para e vai embora”.
Motoristas reclamam
A partir de 1° de julho, o pedágio mais caro do Brasil, no Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI), foi reajustado. O valor cobrado passou dos R$ 33,80 para R$ 35,30 – preço para veículo de dois eixos, de passeio. Quando o novo valor foi divulgado a segurança na Vai Anchieta foi abordada por internautas.
“O melhor de tudo isso é ter que descer pela Anchieta em meio aos caminhões que raramente respeitam os automóveis”, ironizou uma internauta.
Outra pediu para que as autoridades lembrem que os moradores do litoral merecem o mesmo direito de uso da Rodovia Imigrantes. “Frequentemente somos obrigados a descer pela Anchieta porque é sempre prioridade para os turistas. Pedágio caro e direitos diferentes”.
As reclamações continuam em um motorista diz: “E ainda temos que descer no perigo da Anchieta disputando lugar com as carretas”.
O que diz a Ecovias
Em nota, a Ecovias informou lamentar o trágico acidente e esclareceu que, em relação à operação das balanças, a atuação limita-se ao fornecimento, manutenção e operação dos equipamentos de pesagem. “A Concessionária não tem poder para fiscalizar, perseguir ou punir infratores de qualquer natureza”.
A Ecovias destacou em parceria com o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e a Polícia Militar Rodoviária nessas tarefas fornecendo equipamentos e recursos para que desempenhem funções de fiscalização e autuação.
“No trecho da serra da via Anchieta, do km 40 até o km 51, onde aconteceu o acidente, existem cerca de 20 placas informando a velocidade máxima permitida no local – que é 50 km/h, e outras 15 alertando sobre a proibição de caminhões trafegarem pela faixa da esquerda”, disse em nota.
A Ecovias pontuou que, no momento do acidente, a operação estava normal, sem qualquer ponto de lentidão, ficando opcional aos motoristas escolherem por qual rodovia subir ou descer a serra.
Em relação aos valores de pedágio, informou que tanto a tarifa base de cada praça quanto o índice de reajuste são definidos pela Agência Reguladora de Transportes do Estado de São Paulo (Artesp).
O acidente
O motorista de aplicativo e a passageira, uma cirurgiã-dentista, morreram após o carro que estavam ser esmagado por duas carretas na manhã de 23 de junho na Rodovia Anchieta, em Cubatão (SP). Segundo apurado pelo g1, outras duas pessoas ficaram feridas e foram encaminhadas para hospitais da região.
A colisão ocorreu no km 51 da rodovia, na pista sentido litoral. De acordo com a concessionária, devido a lentidão do tráfego no local, uma carreta branca parou na faixa 1 da via e o carro parou logo atrás. Uma carreta azul não conseguiu frear e colidiu na traseira do carro, deixando-o prensado.
O motorista e o passageiro do veículo vermelho ficaram presos nas ferragens e morreram no local. Já os condutores das duas carretas tiveram ferimentos leves e foram encaminhados pelo Corpo de Bombeiros para um hospital da região.
Créditos: G1.